O legado de Paulo Renato ocultado pela mídia
A OUTRA FACE DO AMIGO DO "FILOSOFO" CANSADO...
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Idelber
Avelar: O que você não leu na mídia sobre Paulo Renato
Morreu de infarto, no último dia 25, aos 65 anos, Paulo Renato
Souza, fundador do PSDB. Paulo Renato foi Ministro da Educação no
governo FHC, Deputado Federal pelo PSDB paulista, Secretário da
Educação de São Paulo no governo José Serra e lobista de grupos
privados. Exerceu outras atividades menos noticiadas pela mídia
brasileira. |
Por
Idelber Avelar*
Nas hagiografias
de Paulo Renato publicad as nos últimos dois dias, faltaram alguns
detalhes. A Folha de São Paulo escalou Eliane Cantanhêde para dizer
que Paulo Renato deixou um “legado e tanto” como Ministro da Educação.
Esqueceu-se de dizer que esse “legado” incluiu o maior êxodo de
pesquisadores da história do Brasil, nem uma única universidade ou
escola técnica federal criada, nem um único aumento salarial para
professores, congelamento do valor e redução do número de bolsas de
pesquisa, uma onda de massivas aposentadorias precoces (causadas por
medidas que retiravam direitos adquiridos dos docentes), a
proliferação do “professor substituto” com salário de R$400,00 e um
sucateamento que impôs às universidades federais penúria que lhes
impedia até mesmo de pagar contas de luz. No blog de Cynthia
Semíramis, é possível ler depoimentos às dezenas sobre o que era a
universidade brasileira nos anos 90.
Ainda na Folha de São Paulo, Gilberto Dimenstein lamentou que o tuca
nato não tenha seguido a sugestão de Paulo Renato Souza de “lançar uma
campanha publicitária falando dos programas de complementação de
renda”. Dimenstein pareceu desconsolado com o fato de que “o PSDB
perdeu a chance de garantir uma marca social”, atribuindo essa
ausência a uma mera falha na campanha publicitária.
O leitor talvez possa compreender melhor o lamento de Dimenstein ao
saber que a sua Associação Cidade Escola Aprendiz recebeu de São Paulo
a bagatela de três milhões, setecentos e vinte e cinco mil, duzentos e
vinte e dois reais e setenta e quatro centavos, só no período
2006-2008.
Generosidade
Não surpreende que a Folha seja tão generosa com Paulo Renato.
Gentileza gera gentileza, como dizemos na internet. A diferença é que
a gentileza de Paulo Renato com o Grupo Folha foi sempre feita com
dinheiro público. Numa canetada sem licitação, no dia 08 de junho de
201 0, a FDE da Secretaria de Educação de São Paulo transfere para os
cofres da Empresa Folha da Manhã S.A. a bagatela de R$ 2.581.280,00,
referentes a assinaturas da Folha para escolas paulistas. Quatro anos
antes, em 2006, a empresa Folha da Manhã havia doado a curiosa quantia
– nas imortais palavras do Senhor Cloaca – de R$ 42.354,30 à campanha
eleitoral de Paulo Renato. Foi a única doação feita pelo grupo Folha
naquela eleição. Gentileza gera gentileza.
Mas que não se acuse Paulo Renato de parcialidade em favor do Grupo
Folha. Os grupos Abril, Estado e Globo também receberam seus quinhões,
sempre com dinheiro público. Numa única canetada do dia 28 de maio de
2010, a empresa S/A Estado de São Paulo recebeu dos cofres públicos
paulistas – sempre sem licitação, claro, porque “sigilo” no fiofó dos
outros é refresco –a módica quantia de R$ 2.568.800,00, referente a
assinaturas do Estadão para escolas paulistas. No dia 11 de junho de
2010, a Editora Globo S.A. recebe sua parte no bolo, R$ 1.202.968,00,
destinadas a pagar assinaturas da Revista Época. No caso do grupo
Abril, a matemática é mais complicada. São 5.200 assinaturas da
Revista Veja no dia 29 de maio de 2010, totalizando a módica quantia
de R$1.202.968,00, logo depois acrescida, no dia 02 de abril, da
bagatela de R$ 3.177.400, 00, por Guias do Estudante – Atualidades,
material de preparação para o Vestibular de qualidade, digamos,
duvidosíssima.
O caso de amor entre Paulo Renato e o Grupo de Civita é uma longa
história. De 2004 a 2010, a Fundação para o Desenvolvimento da
Educação de São Paulo transfere dos cofres públicos para a mídia pelo
menos duzentos e cinquenta milhões de reais, boa parte depois da
entrada de Paulo Renato na Secretaria de Educação.
Mas que não se acuse Paulo Renato de parcialidade em favor dos grandes
grupos de mídia brasileiros. Ele também atuou diligentemente em favor
de g rupos estrangeiros, muito especialmente a Fundação Santillana,
pertencente ao Grupo Prisa, dono do jornal espanhol El País. Trata-se
de um jornal que, como sabemos, está disponível para leitura na
internet. Isso não impediu que a Secretaria de Educação de São Paulo,
sob Paulo Renato, no dia 28 de abril de 2010, transferisse mais
dinheiro dos cofres públicos para o Grupo Prisa, referente a
assinaturas do El País.
O fato já seria curioso por si só, tratando-se de um jornal disponível
gratuitamente na internet. Fica mais curioso ainda quando constatamos
que o responsável pela compra, Paulo Renato, era Conselheiro
Consultivo da própria Fundação Santillana! E as coincidências não
param aí.
Além de lobista da Santillana, Paulo Renato trabalhou, através de seu
escritório PRS Consultores – cujo site misteriosamente desapareceu da
internet depois de revelações dos blogs NaMaria News e Cloaca News –,
prestando serviços ao … Grup o Santillana!, inclusive com curiosíssima
vizinhança, no mesmo prédio. De fato, gentileza gera gentileza. E
coincidência gera coincidência: ao mesmo tempo em que El País
“denunciava”, junto com grupos de mídia brasileiros, supostos “erros”
ou “doutrinações” nos livros didáticos da sua concorrente Geração
Editorial, uma das poucas ainda em mãos do capital nacional, Paulo
Renato repetia as “denúncias” no Congresso.
O fato de a Santillana controlar a Editora Moderna e Paulo Renato ser
consultor pago pelo Grupo Santillana deve ter sido, evidentemente, uma
mera coincidência.
Cursinhos pré-vestibular
Mas que não se acuse Paulo Renato de parcialidade em favor dos grupos
de mídia, brasileiros e estrangeiros. O ex-Ministro também teve
destacada atuação na defesa dos interesses de cursinhos
pré-vestibular, conglomerados editoriais e empresas de software. Como
noticiado na é poca pelo Cloaca News, no mesmo dia em que a FDE e a
Secretaria de Educação de São Paulo dispensaram de licitação uma
compra de mais R$10 milhões da InfoEducacional, mais uma
inexigibilidade licitatória era anunciada, para comprar … o mesmíssimo
produto!, no caso o software “Tell me more pro”, do Colégio
Bandeirantes, cujas doações em dinheiro irrigaram, em 2006, a campanha
para Deputado Federal do candidato … Paulo Renato!
Tudo isso para não falar, claro, do parque temático de $100 milhões de
reais da Microsoft em São Paulo, feito sob os auspícios de Paulo
Renato, ou a compra sem licitação, pelo Ministério da Educação de
Paulo Renato, em 2001, de 233.000 cópias do sistema operacional
Windows. Um dos advogados da Microsoft no Brasil era Marco Antonio
Costa Souza, irmão de … Paulo Renato! A tramoia foi tão cabeluda que
até a Abril noticiou.
Pelo menos uma vez, portanto, a Revista Fórum terá que concordar com
Eliane C antanhêde. Foi um “legado e tanto”. Que o digam os grupos
Folha, Abril, Santillana, Globo, Estado e Microsoft.
* Idelber Avelar é colunista da Revista Fórum, professor da Tulane
University, que fica em Nova Orleans-LA-EUA e mantém o blog O Biscoito
Fino e a Massa.
Fonte: Revista
Fórum
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