Greve dos profissionais da educação de Duque de Caxias continua
Em uma
assembleia emocionante realizada na manhã da última quinta-feira, 19
de maio, professores da rede municipal de educação de Duque de Caxias
aprovaram por unanimidade dar continuidade à greve iniciada no dia 12.
Logo após a aprovação das propostas, os trabalhadores tomaram as ruas
do centro da cidade, gritando palavras de ordem como “A greve
continua, Prefeitura a culpa é sua”, para denunciar à população o
descaso do poder público com a educação.
A
assembleia contou com a presença de mais de 1200 profissionais da
educação que, convocados pelo Sindicato Estadual dos Profissionais da
Educação (Sepe), mostraram disposição para a luta por melhores
condições de trabalho, salário digno e pelo fim da precarização. Logo
no início, o que se via eram três enormes filas que levavam à mesa
onde estavam os livros de ata. Os profissionais presentes, na maioria
mulheres, faziam questão de assinar seus nomes e mostrar que a greve é
para lutar. Para a professora e orientadora pedagógica, Edlea Esteves,
a greve deve ser um instrumento utilizado para mostrar à sociedade os
problemas da educação. “A greve é para isso, para o povo saber que não
temos condições de trabalhar”, destacou.
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A
professora da Escola Municipal Ely Combat, Angélica Sampaio,
assinou o livro sorrindo. “Estamos aqui para mostrar que a classe
está mobilizada e acho que se continuarmos firmes, vamos vencer”,
afirmou sorridente. Angélica também falou sobre a importância da
união. “É importantíssimo que todos venham às assembleias da greve
para mostrarmos que estamos unidos, a união faz a força”, relatou.
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A inspetora
de alunos aposentada, Francisca dos Santos, também estava muito feliz.
Com mais de 70 anos, a aposentada exibia no peito o adesivo “Rede
municipal em greve”. Sentada na primeira fileira, ela, como a grande
maioria dos presentes, assistia atenta às falas e aplaudia com
entusiasmo quando alguém falava sobre a bela e grande mobilização dos
profissionais da educação de Caxias. Quando questionada sobre se a
greve deveria ser mantida, Francisca defendeu sem pestanejar “Sim,
claro”.
Muitas
bandeiras
Um dos
assuntos debatidos na assembleia foi a questão da reposição das aulas
depois que a greve acabar. O que a maioria dos profissionais defendeu
foi que um possível calendário de reposições deve ser definido pelos
próprios professores em assembleia, e não pela secretaria de educação.
Outra questão levantada foi sobre as condições precárias do município
do Rio. “Na rede estadual do Rio, o salário, com desconto, não chega a
R$700, e o governo impôs à rede estadual um currículo mínimo”,
declarou Vera Nepomuceno, coordenadora do Sepe.
O Plano
Nacional de Educação do governo federal também foi assunto. Para a
direção do Sepe, o Plano deve ser amplamente discutido pela sociedade.
“Os Estados vão organizar audiências públicas para discutir o Plano
Nacional de Educação, que vai definir as diretrizes para a educação
nos próximos 10 anos”, informou a coordenadora do Sepe de Caxias,
Ivanete da Silva.
Os
trabalhadores também aprovaram uma intensa agenda de luta. Na
sexta-feira (20/5), irão percorrer as escolas, explicando aos poucos
professores e aos pais de alunos a importância da greve. Durante todo
o final de semana, realizarão uma grande panfletagem nas feiras livres
da cidade, para esclarecer a população sobre as reivindicações. Na
segunda-feira (23/5), está marcado um Ato Público em frente à
Prefeitura, exigindo que o prefeito tome uma posição sobre a atual
situação dos profissionais. E na terça-feira (24/5), todos se
encontram em uma nova assembleia, às 14h, no Clube dos Quinhentos.
Unidade
para a vitória
A
assembleia teve inicio com a exibição de um vídeo que tem circulado
pela internet. No vídeo, a professora Amanda Gurgel, do Rio Grande do
Norte, dá um panorama da situação caótica da educação em seu estado em
uma audiência pública. A situação relatada, infelizmente, é recorrente
na maioria das cidades brasileiras. “Este depoimento é uma tradução da
nossa luta. Cada canto deste país passa pela mesma situação”, frisou
Ivanete. Nos depoimentos dos professores era possível sentir que as
dificuldades relatadas por Amanda Gurgel também faziam parte de seu
cotidiano. A professora Carla Couto, relatou que “a rede ficou um
bimestre inteiro sem material e, de acordo com a secretaria de
educação, as escolas vão recebê-los aos poucos, se quisermos fazer um
trabalho sério, temos que comprar material tirando dinheiro do nosso
bolso”. Além da falta de material, segundo os professores, a
superlotação das salas de aula é outro problema.
Ivanete
também informou que a adesão à greve está, hoje, em torno de 98% dos
profissionais, e convocou unidade. “Vamos caminhar todos juntos. Temos
que continuar a fazer nosso trabalho e incomodar o governo até
negociar o data-base”, afirmou.
Elza
Mendonça, professora aposentada, lembrou aos presentes que nenhum
reajuste foi conquistado sem paralisação. “Não tivemos nenhum aumento
de salário sem ter greve. Não quero ouvir os professores dizerem que
não gostam de política. Isso que estamos fazendo aqui é política,
política é ação”, destacou. A professora concluiu sua fala chamando a
categoria para a luta.
Sem medo de
ameaças
Alguns
professores afirmaram que já estão sendo ameaçados de corte do ponto –
que significa o não pagamento dos salários correspondentes aos dias em
que os funcionários estiverem em greve. No entanto, os coordenadores
do sindicato alertaram os trabalhadores para que não tenham medo. José
Eduardo Figueiredo, advogado do SEPE, explicou que o direito de greve
é garantido pela Constituição Brasileira. “Na medida em que a greve é
um direito legal, o governo não pode retaliar o movimento com corte de
ponto ou punição, porque isso fere o direito constitucional”,
explicou. Ele lembrou que, para que haja reposição das aulas, não pode
haver corte do ponto. O advogado também afirmou que, diante das
ameaças, uma ação civil pública já está preparada, caso o governo
persista na ideia de punir os trabalhadores.
Reivindicações
As
principais reivindicações dos profissionais da educação de Duque de
Caxias são:
- Reajuste
salarial e incorporação da gratificação do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais
da Educação (FUNDEB);
- imediato plano de reformas das escolas municipais, muitas delas com
sérios problemas estruturais;
- respeito aos números máximos de alunos por turma e garantia de
material para o trabalho de profissionais;
- garantia de três dias inteiros para elaboração de relatórios
descritivos, que são a forma como se avaliam os alunos do ciclo de
alfabetização (1º, 2º e 3º anos do ensino fundamental).
Categoria
segue firme na luta
A greve
continua por tempo indeterminado, segundo a direção do Sepe. “Até
agora a prefeitura não nos apresentou nenhuma proposta concreta para
nenhuma das nossas reivindicações”, protestou Ivanete. A categoria
seguiu em passeata pelas ruas de Caxias após a assembleia. Cantando
palavras de ordem e questionando a prefeitura sobre os investimentos
em educação, os profissionais realizaram um ato com carro de som.
“Onde está o dinheiro? Onde está o dinheiro da educação?”, cantavam as
cerca de 600 pessoas que caminharam juntas e mobilizadas. A agenda dos
grevistas segue cheia, inclusive, durante o fim de semana, quando
realizarão panfletagens nos espaços públicos da cidade.
Fotos de
Mariana Gomes, disponíveis em:
http://va.mu/Dg5