Governo tem discurso divergente da prática em relação aos CAp
Esta foi a principal conclusão da participação do MEC no seminário
nacional do ANDES-SN
A terceira mesa do seminário nacional do ANDES-SN sobre os colégios de
aplicação (CAp), ocorrido nos dias 22 e 23 de agosto, contou com a
presença da coordenadora geral das Instituições Federais de Ensino
Superior (Ifes) da Secretaria de Educação Superior, do Ministério da
Educação (Sesu/MEC), Dulce Maria Tristão, e da professora e
representante do CAp da Universidade Federal de Viçosa, Daniela Motta.
O que ficou mais nítido na fala da representante do MEC é que, embora
o governo tenha um discurso de fortalecimento dos CAp, as práticas
adotadas o contrazidem. Durante toda a sua explanação, Dulce Tristão
repetiu diversas vezes que o MEC pretende garantir o pleno
funcionamento dos colégios de aplicação. Ela listou uma série de
medidas, segundo ela emergenciais, como a contratação de substitutos
para que atendessem de imediato aos colégios: “O que se quer daqui
para frente, além de se garantir a questão do acesso, do
financiamento, das diretrizes e normas gerais para o financiamento dos
CAps, é encontrar uma situação ideal de funcionamento pleno”.
Nesse sentido, a representante do governo disse que a partir do
conceito que professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (Ebtt)
deve atuar nos colégios de aplicação, o MEC trabalha no sentido de
repor automaticamente professores efetivos para assumir vagas de
docentes em vacância e aposentadoria “até que se discuta a carreira e
se decida se é necessário reajustá-la, criar uma carreira única ou
mantê-la como está”. Ela afirmou, no entanto, que todas essas
situações ainda estão em processo de construção e negociação entre o
MEC, o Condicap, o Proifes e o Andes-SN.
A relação aluno-professor (RAP), de acordo com Dulce, é um dos temas
que estão na mesa de negociação: “Estamos discutindo se fica em 1/18
ou 1/20, já que temos colégios de aplicação com relações muito
variáveis, como 1/7, 1/12 e até 1/40”, afirmou.
Papel dos CAp
A representante da Sesu/MEC também tocou neste ponto, afirmando que se
deparou com situações diferentes em cada escola. Alguns já oferecem
graduação, outros atuam na educação de jovens e adultos (EJA), há
colégios com muitos projetos de extensão, de pesquisa e alguns não os
têm: “Então, precisamos definir bem esse papel para garantirmos o que
já existe”, disse.
Ainda de acordo com Dulce, alguns colégios de aplicação não possuem
estagiários e outros têm um número muito maior do que deveriam: “Na
discussão colocamos esses estagiários como alunos, porque eles estão
ali para aprenderem também. Esses são os principais pontos do que está
sendo discutidos na mesa de negociação”, finalizou.
Reafirmação dos
CAp
Em seguida, foi a vez de a professora Daniela Motta trazer uma
avaliação sobre a atual crise dos colégios de aplicação. Para ela, a
“ameaça” de que os colégios acabem não é nova: “Estou há 20 anos no
movimento docente na universidade e há 20 anos nos sentimos ameaçados
ora de extinção, ora de regulamentação. O que tem de novo é que de
fato uma série de coisas vem acontecendo, como essa discussão no MEC.
Esta é uma novidade que não nos contempla e não nos atende”.
Para a docente, o papel dos colégios de aplicação na formação de
professores e sua atuação voltada para a renovação da prática
pedagógica aliando o ensino, a pesquisa e a extensão não é apenas um
discurso. “Ao contrário, isso está alicerçado na prática cotidiana
desses colégios e isso percebemos nos discursos de hoje, aqui neste
seminário”, reforçou Daniela.
O perfil dos CAp é o mesmo que caracteriza a universidade: a atuação
no tripé ensino, pesquisa e extensão: “O papel dos CAp na formação
está diretamente ligado às licenciaturas e à educação”, afirmou.
Carreira Ebtt
No final da década de 80, entre os anos de 1988 e 1989, os professores
dos colégios de aplicação, que foram colocados na carreira de
magistério no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (Ebtt) decidiram
permanecer na base do ANDES-SN. “Não somos nós que nos colocamos em
uma carreira diferente. Naquela época, já entendíamos que este
sindicato também nos representava porque também nos consideramos
professores da universidade”, comentou a professora de Viçosa.
Regulamentação
As normas e diretrizes gerais propostas pelo governo para os CAp, no
entendimento dos docentes, fere o princípio da autonomia universitária
e dos próprios colégios. A proposta apresentada, na visão da
professora Daniela, desconsidera os colégios de aplicação enquanto
unidades das universidades. “Ao contrário, as diretrizes de
funcionamento tendem a subordinar os colégios a esferas municipais ou
estadual, estabelece uma RAP ainda maior que a existente nas redes
públicas de ensino inviabilizando a atual estrutura dos CAp. Trabalhar
com a RAP 1/20 vai aumentar muito o número de alunos e implicar na
queda da qualidade do ensino”, afirmou a docente.
Outros problemas da proposta do governo de regulamentação dos colégios
são: o estabelecimento de metas incompatíveis com a natureza e
concepção dos CAp e propõe retaliação aos que não cumprirem as metas
impostas. “Por todas essas questões, o movimento docente se colocou
radicalmente contrário a essa proposta de regulamentação”, afirmou.
Após longo debate, o movimento conseguiu que a representante do
governo se comprometesse publicamente a discutir as propostas dos
docentes para o pleno funcionamento dos colégios de aplicação.
Fonte:
Por Silvana Sá/Adufrj-Seção
Sindical