Governo e oposição fecham acordo para votar DRU e Emenda 29
Depois de longa
discussão entre senadores da base do governo e da oposição, os líderes
partidários chegaram a acordo em torno da votação da prorrogação do
mecanismo de Desvinculação de Receitas da União (DRU) e da
regulamentação da Emenda 29, que contempla recursos para a saúde. O
exame dessas duas matérias vinha provocando quebra de braço entre o
governo e a oposição, já que ao primeiro interessa a rápida aprovação
da DRU, enquanto a oposição pressiona pela urgência na regulamentação
da Emenda 29.
O impasse sobre o
calendário de votações no Plenário foi solucionado na tarde desta
quarta-feira (30), após fortes críticas e acusações mútuas de quebra
de acordos e desrespeito a normas regimentais e constitucionais. Pela
manhã, depois de reunião dos líderes com o presidente do Senado, o
assunto parecia resolvido, mas as interpretações divergentes
renasceram à tarde durante a sessão plenária, a princípio comandada
pela senadora Marta Suplicy (PT-SP), 1ª vice-presidente, e depois pelo
presidente José Sarney.
Com o acordo, a
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 114/2011, que prorroga a DRU
até 2015, começará a ser discutida nesta sexta-feira (2), tendo seus
interstícios (prazos regimentais) quebrados. O substitutivo da Câmara
ao PLS 121/2007, que regulamenta a Emenda 29, continuará em regime de
urgência.
DRU
Uma das emendas
constitucionais mais importantes para o Governo, a DRU possibilita ao
executivo utilizar livremente 20% da arrecadação da União, cerca de R$
62 bilhões, que sairão, ao que tudo indica, da verba que deveria ser
destinada à Seguridade Social, que engloba as áreas da Saúde,
Previdência e Assistência.
EC29
Já a Emenda
Constitucional 29 fixa um percentual mínimo que municípios, estados e
União deverão investir em Saúde. Defendida pela presidente Dilma
Roussef durante a campanha eleitoral, a EC 29 virou um problema para o
governo, principalmente depois que foi aprovada na Câmara dos
Deputados excluindo o dispositivo que permitia a criação de um tributo
específico para arrecadação de verbas para a Saúde - a Contribuição
Social da Saúde (CSS). A casa jogou para o Senado a responsabilidade
de discutir a fonte de recursos.
Na ocasião da
votação da emenda, O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves
(RN), em um discurso enfático, ironizou a questão. "Senadores, o
abacaxi agora passa para as mãos dos senhores e senhoras. Quando vocês
chegarem a uma conclusão, nós estaremos esperando ansiosos a sábia
proposta dos senhores", disse o deputado.
Dinheiro existe
Embora o governo
alegue que não há dinheiro para mais investimentos, os movimentos
sociais e entidades de classe relacionadas à saúde e educação defendem
há tempo que existe recursos disponíveis para o financiamento dos
direitos sociais, mas que estes estão sendo desviados para o pagamento
dos juros e amortização da dívida pública.
“Dados do
Orçamento Geral da União denunciam a destinação de 45% dos recursos
para a dívida, enquanto a Educação e Saúde recebem juntas menos de
7%”, alerta Maria Lúcia Fattorelli, auditora fiscal e coordenadora do
movimento Auditoria Cidadã da Dívida.
O médico e
diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp, Felipe Monte
Cardoso, também aponta a questão da utilização de verbas para o
pagamento da dívida em detrimento de uma política precária de
investimento em áreas consideradas prioritárias para o desenvolvimento
do país.
Cardoso lembra
que o montante reivindicado do Produto Interno Bruto (PIB) pelos
movimentos sociais da saúde e educação juntos (7% e 10%,
respectivamente), corresponde ao destinado pelo governo para o
pagamento da dívida pública no ano passado.
“Em 2010, R$ 635
bilhões (17% do Produto Interno Bruto) foram gastos apenas com
pagamento da dívida da União, exatamente o montante reivindicado pelos
movimentos sociais de saúde e educação juntas”, denuncia.
Para o médico, o
fato da regulamentação da Emenda 29 não atender aos requisitos mínimos
do financiamento do SUS deve ser compreendido dentro do compromisso da
coalizão governista (e também da oposição de direita, PSDB-DEM-PPS-PV)
com os fundamentos da política econômica: ajuste fiscal e utilização
dos recursos públicos para o pagamento da dívida.
Com informações
da Agência Senado
Fonte: ANDES-SN,
1/12/11.