Governo ignora qualidade e autonomia na reestruturação da carreira
docente
O governo federal
desconsidera os preceitos constitucionais do padrão de qualidade na
educação e também da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão, ao insistir na intenção política de diferenciar as carreiras
do Magistério Superior (MS) e do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico
(Ebtt), e ainda fragmentá-las internamente.
A análise foi
feita na última reunião dos representantes do Setor das Instituições
Federais de Ensino Superior (Ifes) do ANDES-SN, realizada após a
oficina do grupo de trabalho (GT) para a reestruturação da carreira
docente, do dia 8 (quinta-feira). Durante a oficina, foram discutidas
as divergências nas propostas para mudança no plano de carreira
vigente.
Na avaliação dos
representantes do setor, as falas dos representantes do governo
durante a oficina evidenciam ainda o desrespeito à natureza própria da
atividade acadêmica e à autonomia universitária, ao incentivar o
caráter produtivista predatório às instituições. A luta contra o
reducionismo instrumental e a mercantilização da produção nas
Universidades é uma das bandeiras do Sindicato Nacional e foi tema de
recente seminário promovido pela entidade.
Segundo a
avaliação elaborada pelo Setor das Ifes, “o governo não se dispõe a
flexibilizar posições para reestruturação da carreira naquilo que
considera arranhar as suas políticas no que tange ao sistema federal
de ensino e a reforma do Estado, tudo a sombra do arrocho orçamentário
para preservar o chamado superávit primário como prioridade absoluta”.
“A lógica do
governo opera a partir da visão geral de que o desenvolvimento na
carreira e a remuneração estão atrelados ao que considera ser um
trabalho mais produtivo, num sistema de pontuação em ciclos de curto
prazo”, observa Luiz Henrique Schuch, 1º vice-presidente do ANDES-SN e
coordenador do Setor das Ifes.
A análise
elaborada pelos docentes, durante a reunião ocorrida nos dias 9 e 10
(sexta e sábado), enumera ainda os principais conflitos que podem
surgir durante a negociação para a reestruturação da carreira
docente. Confira:
1- Uma carreira e
um cargo para todos os professores ou duas carreiras (MS e Ebtt) e
quatro cargos;
2- Estrutura da
carreira hierarquizada somente em níveis ou estrutura alongada
hierarquizada em classes e níveis (atenção para o fato de que além das
propostas de criação de classes acima de professor adjunto, há
posições que veladamente criam fosso remuneratório maior até do que
seria a criação de nova classe acima de professor adjunto)
3-
Desenvolvimento na carreira com base na incidência equilibrada da
experiência acadêmica, da formação continuada e a avaliação do
trabalho docente no contexto da avaliação institucional ou
desenvolvimento diferenciado em progressão e promoção, sempre
condicionado a avaliação por critérios de produtividade instrumental
medidos em ciclos curtos, seguindo as “normas regulamentares
existentes” e a regulamentação que será baixada posteriormente pelo
governo. (obs. as normas regulamentares existentes estão nos artigos
140 a 162 da Lei 11.784/2008);
4- Definição na
Lei, dando caráter duradouro, aos conceitos que estruturam a
composição remuneratória em uma linha só no contracheque ou fixando na
Lei apenas a divisão da remuneração, de forma a que os valores
correspondentes a titulação sejam tratados como gratificação, e os
demais parâmetros (piso, steps, diferenciais por regime de trabalho,
diferenciais por titulação) somente se expressem por interpretação
das “tabelas anexas”;
5-
Reenquadramento na posição relativa ao teto e respeitando os direitos
anteriores ou transposição pela nomenclatura (por baixo) desconectando
dos direitos anteriores;
6- Investir na
valorização do magistério federal, elevando o patamar remuneratório
correspondente a toda a carreira docente de forma sustentada no tempo
ou constituir discurso a respeito de aparente elevação remuneratória
pelo teto, mas minimizando a repercussão orçamentária (montante de
recursos que efetivamente irá para o bolso dos professores) por
divisões da categoria, em especial calcando os aposentados.
Fonte: ANDES-SN,
12/12/11.