Governo chileno propõe aos estudantes negociar mudanças na educação
Santiago - O governo chileno apresentou nesta segunda-feira (5)
uma proposta para negociar a reforma educacional com os estudantes
universitários e secundaristas que, há mais de três meses, promovem
protestos nas ruas das principais cidades do país para exigir educação
gratuita e de qualidade para todos. O ministro da Educação, Felipe
Bulnes, sugeriu criar, a partir do dia 12, três mesas de trabalho que
terão até o fim do mês para apresentar propostas para a reforma
educacional. As lideranças estudantis prometeram dar uma resposta ao
governo até quinta-feira (8).
"Temos três semanas para negociar acordos, descobrir onde não há
possibilidade de acordo e ver até onde governo cederá, porque o
governo deve ceder em algo", disse, em entrevista à Agencia Brasil, o
líder estudantil Giorgio Jackson, 24 anos, que está terminando o curso
de engenharia. Ele preside a Federação de Estudantes da Universidade
Católica do Chile e é um dos três porta-vozes do movimento estudantil.
"Vamos manter a mobilização, porque o movimento estudantil chegou para
ficar. Se for preciso ficar anos, ficaremos anos pressionando as
autoridades para conseguir as reformas que pedimos".
Apesar de manter a mobilização, os estudantes suspenderam uma grande
manifestação prevista para o próximo sábado (10). O motivo do
cancelamento foi o acidente de avião que, na sexta-feira (2), matou 21
pessoas, entre elas o mais famoso apresentador da TV chilena, Felipe
Camiroaga. Ele acompanhava um empresário em uma missão humanitária na
Ilha de Juan Fernandez, arrasada pelo terremoto e tsunami de 27 de
fevereiro de 2010.
"Entendemos que, nesses dias, o país vive uma grande comoção por causa
da tragédia e somos respeitosos", disse a líder estudantil Camila
Vallejo ao explicar por que também a mobilização do dia 8 foi
cancelada. Mas os estudantes estão organizando mais manifestações para
próxima semana.
Os alunos chilenos começaram a se mobilizar contra o governo do
presidente Sebastian Piñera em maio. Em junho, o movimento ganhou as
ruas e os estudantes também ocuparam escolas de nível médio e
universidades. Nos dias 24 e 25 de agosto, o país parou por causa de
uma greve geral, convocada pelos sindicatos, em apoio aos estudantes.
A paralisação terminou em confronto entre grevistas, estudantes e a
polícia chilena, culminando na morte de um adolescente de 16 anos.
Os estudantes querem mudar o sistema de educação chileno, criado pelo
ex-ditador Augusto Pinochet, que reduziu a participação do Estado no
setor. No Chile, as universidades públicas e privadas são pagas.
Existem mecanismos de financiamento para quem não tem dinheiro para
pagar as mensalidades, mas os juros são altos e os jovens começam as
carreiras já endividados.
Os estudantes de ensino médio também têm uma pauta específica de
reivindicações. Há escolas públicas gratuitas de nível médio, mas são
controladas pelos municípios, e não pelo governo central. Isso, de
acordo com as lideranças estudantis, prejudica os moradores dos
pequenos municípios ou de bairros mais pobres.
Há, também, um sistema misto que os estudantes querem rever. São
escolas privadas (secundaristas e universitárias) que cobram
mensalidades mais acessíveis porque são subsidiadas pelo Estado. Os
estudantes dizem que os donos dessas escolas e universidades estão
enriquecendo com os subsídios estatais, em vez de investir os recursos
na melhoria da qualidade de ensino.
Essa não é a primeira vez que os estudantes enfrentam o governo para
pedir melhorias na educação. Em 2006, os estudantes secundaristas
promoveram a Revolução dos Pinguins, que tinha como alvo a então
presidenta Michelle Bachelet. O apelido (pinguins) foi dado por causa
do uniforme azul marinho e branco dos estudantes e as reivindicações
eram as mesmas das atuais. Mas Bachelet reuniu-se com os estudantes, e
o governo fez algumas mudanças sem, no entanto, modificar o sistema:
aumentou o número de bolsas de estudo e reduziu os juros pagos por
estudantes que precisavam recorrer a empréstimos para financiar o
estudo universitário.
"Foi uma negociação que levou dois anos e, com o tempo, os estudantes
foram se desmobilizando. Mas aprendemos com os erros do passado e
aprendemos como negociar. Por isso, vamos manter as mobilizações",
explicou Jackson. "Agora, os prazos para chegar a um acordo são mais
curtos.
Fonte: NPC