Estudante morre baleado dentro da USP
Um estudante de 24 anos foi morto dentro do campus da Universidade de
São Paulo (USP), na Zona Oeste da capital paulista, na noite desta
quarta-feira. Ele foi atingido por um tiro na cabeça, por volta de
21h30m. Felipe Ramos de Paiva estudava Ciências Atuariais na Faculdade
de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP) e
trabalhava em uma empresa de gestão de fundos de investimento.
Segundo testemunhas, o universitário foi baleado ao abrir a porta de
seu carro blindado, no estacionamento. Ele teria sido seguido por um
homem após sacar dinheiro em um caixa eletrônico. Ainda de acordo com
testemunhas, eles discutiram e Felipe tentou entrar no carro, mas
levou um tiro na nuca. Um agente de segurança do campus teria ouvido
os disparos, mas, com medo, se escondeu para se proteger. Ele teria
visto um carro saindo em alta velocidade.
"O campus, de maneira geral, é inseguro. Muito grande, muitas árvores,
muito espaço, é facilitador de todo tipo de delito".
A Polícia Militar estava dentro do campus, fazendo blitz, mas não foi
avisada a tempo de fechar os portões de acesso ao campus para impedir
a fuga do criminoso.
- Foi a falta de comunicação dos vigilantes. A PM estava aqui e a
informação não chegou - diz o capitão da PM que participava dos
bloqueios.
Felipe teria comprado um carro blindado porque havia sido assaltado
duas vezes e se sentia mais protegido. Há sinais de que a maçaneta do
carro foi forçada.
O corpo de Felipe foi reconhecido inicialmente por um amigo. A família
foi avisada e a mãe dele foi até o campus.
- Estou sem chão ainda. Eu tenho que seguir, eu tenho uma filha. Não
vai ser fácil, não vai - disse, desesperada, Zélia Ramos, mãe do
universitário.
Segundo Zélia, o filho gostava de trabalhar, era tranquilo, não
frequentava baladas e tinha tirado passaporte para viajar e conhecer o
mundo.
Na noite desta quarta-feira, Felipe saiu mais cedo da sala e teria
participado apenas da primeira aula. Os colegas dizem que ele
costumava estacionar o carro sempre no mesmo local.
Morte escancara falta de segurança, dizem alunos
O crime chocou alunos e professores da Faculdade de Economia da USP,
que está paralisada nesta quinta-feira, em luto pela morte do
estudante.
"Perda, respeito e indignação permeiam nosso sentimento. Os casos de
violência na USP, como sabemos, têm se tornado uma triste constante"
O diretor da Faculdade de Economia da USP (FEA-USP), Reinaldo
Guerreiro, afirmou que a USP tem um problema concreto de segurança e é
preciso buscar soluções.
- O campus, de maneira geral, é inseguro. Muito grande, muitas
árvores, muito espaço, é facilitador de todo tipo de delito - afirmou.
Segundo Guerreiro, a Reitoria da USP formou uma Comissão de Segurança
para discutir o problema e é preciso que sejam tomadas ações mais
concretas.
- Foi uma coisa chocante ter de receber um pai e uma mãe chocados,
vendo o corpo do filho no chão - disse o diretor, lembrando que ficou
até 2h com os pais de Felipe, para dar apoio.
Guerreiro admitiu que a Guarda Universitária, responsável pela
segurança no campus, tem dificuldade para lidar com este tipo de
ocorrência, pois os vigilantes não andam armados e seu objetivo é de
"apoio ao cidadão".
O Centro Acadêmico da faculdade divulgou carta aberta aos alunos
dizendo que o assassinato "escancara de maneira lamentável" a
necessidade de discutir a segurança no campus. Os alunos reclamam da
falta de iluminação e de vigilantes no campus.
Nesta manhã, universitários fizeram um minuto de silêncio em homenagem
ao colega morto e seguiram em caminhada até a FEA, onde entragaram uma
carta aberta à Reitoria da USP.
Leia a íntegra:
Carta aberta aos alunos da FEA USP
"É com grande pesar que o Centro Acadêmico Visconde de Cairu,
entrega esta carta aos alunos. No dia de ontem, uma tragédia se
abateu sobre a comunidade de nossa faculdade. O falecimento do
estudante Felipe Ramos de Paiva, aluno do 5º ano do Curso de
Ciências Atuariais, chocou a todos aqueles que diariamente
frequentam o campus Butantã. Não há palavras que possam
reconfortar aqueles que perderam um colega, um amigo, um filho,
um ente querido.
Desta forma, diante de tão triste situação, oferecemos nossa
humilde solidariedade a todos os que sofrem neste momento. Hoje
é um dia de luto e homenagem. Perda, respeito e indignação
permeiam nosso sentimento. Os casos de violência na USP, como
sabemos, têm se tornado uma triste constante.
Nos últimos meses, sequestros, assaltos e furtos passaram a
preocupar alunos, professores e funcionários. A perda de nosso
colega estudante, portanto, escancara de maneira lamentável a
necessidade de se debater a segurança no cotidiano
universitário.
De forma pragmática e urgente, mesmo em um momento anterior a
esse debate, já é possível apontar problemas e solução óbvia e
imediata, que há poderiam ter sido sanados. Um primeiro ponto
diz respeito à falta de iluminação adequada, não só nos
arredores da FEA, mas em todo o campus. Também há falta de
vigilantes no perímetro das unidades.
Os reais problemas de segurança na Universidade de São Paulo
precisam ser corretamente diagnosticados. Ouviremos os alunos,
falaremos com a diretoria de nossa faculdade e agiremos para que
a dor que hoje sentimos altere a forma como a questão de
segurança é tratada." |
Fonte: O GLOBO