Nesse domingo (25/9), milhares de pessoas tomaram as ruas em 50
cidades da Espanha para reivindicar o direito à moradia. O movimento
social intitulado “25-S” ganhou forma através das mídias sociais e
recebeu o apoio popular para protestar contra as ações de despejo
decorrentes da crise imobiliária que atinge o país.
Na última década, a Espanha chegou a construir, em média, 850 mil
imóveis por ano, mais do que Alemanha e França juntas. Segundo o Banco
da Espanha, nesse período foram gastos 678 bilhões de euros em
créditos hipotecários, graças a incentivos bancários e juros baixos. A
construção civil era responsável pela maior parte do PIB espanhol até
a crise econômica de 2008, quando as vendas de casas despencaram cerca
de 40%.
A partir disso, o governo espanhol e as instituições bancárias se
viram impossibilitados de manter os investimentos no setor. Com os
altos índices de desemprego e os cortes nos gastos públicos, parte da
população ficou sem fonte de renda e não conseguiu honrar as dívidas
feitas na época em que a economia estava a todo vapor. Já os bancos,
também afetados pelo momento ruim da economia, viram na execução
dessas hipotecas uma maneira de sanar os problemas.
Os manifestantes reivindicam a modificação da lei hipotecária, como
explica Ada Colau, 37 anos, porta-voz do movimento Plataforma de
Afetados pela Hipoteca (PAH): “A lei espanhola é arbitrária, o banco
aceita o imóvel como pagamento de 50% da dívida e o restante é cobrado
ao longo da vida. Isso quer dizer que podem embargar tudo: as contas
correntes, o salário”.
A PAH reivindica que as dívidas sejam quitadas apenas com a devolução
da habitação e que as famílias possam seguir vivendo em seus lares
pagando um “aluguel social”. Outra solução sugerida pelo grupo é que
os imóveis vazios, que estão em posse dos bancos, sejam utilizados
como residências populares, garantindo a premissa prevista na
Constituição espanhola de que todo cidadão tem direito a uma moradia.
Para Quim Boix, 66 anos, membro do conselho presidencial da Federação
Sindical Mundial, o problema é a mercantilização da habitação.
“Estamos vivendo em uma sociedade injusta, na qual o direito do
cidadão à moradia se transforma em um negócio, que leva o povo à
expulsão de sua casa, mesmo tendo pago metade ou mais de seu valor”,
afirmou.
Em meio à crise e mesmo diante da pressão popular, a Espanha
recentemente recusou a ajuda financeira do grupo econômico formado
pelos países emergentes Brasil, Rússia, Índia e China (Bric).
Fonte: Théa Rodrigues e Gustavo Mesa, de Barcelona (Espanha),
do Brasil de Fato