III
Encontro Nacional do Andes-SN sobre saúde do trabalhador aponta
necessidades de ações concretas para enfrentar adoecimento docente
Entre os
dias 13 e 15 de maio, ocorreu na Universidade Federal do Espírito
Santo, em Vitória, o III Encontro Nacional do Andes-SN sobre saúde do
trabalhador, com o tema “Saúde e trabalho docente: da resignação à
luta”. Cerca de 80 participantes, entre docentes, estudantes e
integrantes de outros sindicatos estiveram na atividade, que contou
com a presença de 15 seções sindicais do Andes-SN.
Na abertura
do encontro, o Secretário Geral do Andes-SN, Márcio de Oliveira, fez
um resgate da luta do Sindicato Nacional em defesa da saúde pública e
do Sistema Único de Saúde (SUS), que sofreu um desmonte com as
políticas de privatização a partir do governo de Fernando Henrique
Cardoso. “Atualmente, temos que enfrentar a MP 520, que privatiza os
hospitais universitários, e a MP que cria o regime de previdência
complementar, pois lutar pela saúde do trabalhador é lutar pela saúde
do professor”, reiterou Márcio.
Saúde do trabalhador está
ligada às relações sociais de produção
Na conferência de abertura, que contou com a participação da
professora da Escola de Serviço Social da UFRJ, Sara Granemann, e do
professor da UFPR, Guilherme Albuquerque, foram debatidas as
concepções de trabalho no capitalismo e a maneira como a saúde está
vinculada às relações sociais de produção.
“As
transformações que ocorreram no mundo da fábrica na segunda metade do
século XX, pela reestruturação produtiva, já se expandiram para as
universidades e o serviço público”, explicou Sara. Ela afirmou que o
quadro de poucos trabalhadores estáveis e muitos temporários é
perceptível nas universidades com contratação de professores
substitutos. Além disso, as metas de produtividade e as gratificações
e os bônus recebidos por isso também conformam o mundo do trabalho no
ensino superior.
Tendo em
vista o modelo econômico, é que deve ser compreendida a saúde do
trabalhador. “A saúde não é apenas ausência de doença, mas a
capacidade de realizar plenamente o que o gênero humano tem como
possibilidade”, explicou o professor Guilherme Albuquerque. A questão
é que, sob o capitalismo, essa perspectiva de saúde não se realiza, e
fica restrita ao tratamento de doenças e enfermidades surgidas no
trabalho, mas sem apontar suas causas sociais.
Diagnósticos afirmam que
docentes estão doentes
Outro aspecto
debatido durante o encontro de saúde foi o diagnóstico da saúde
docente, que apontou para um adoecimento efetivo da categoria,
chegando até mesmo ao suicídio, em alguns casos. Conforme dados
apresentados pela professora da PUC–SP, Margarida Barreto, o
adoecimento de professores é uma realidade na América Latina e no
Brasil. “No México, 41% de docentes sofrem de transtornos somáticos.
Essa situação é semelhante no Brasil, que é o 3º país que pior
remunera professores, principalmente no início de carreira”, afirmou
Margarida.
Os
principais relatos do que leva ao adoecimento docente apontam o
não-reconhecimento no trabalho, a solidão, o desrespeito, a
dificuldade de conciliar trabalho e vida pessoal, a sobrecarga de
tarefas e a falta de participação nas decisões como fatores de
adoecimento. As principais doenças desenvolvidas por professores são
os transtornos psíquicos, como a depressão, despersonalização,
síndrome do pânico, stress e burnout.
De acordo
com a professora do Departamento de Ciências Sociais da Ufes e que
desenvolve uma pesquisa sobre precarização do trabalho e suas
implicações no modo de vida e na saúde dos docentes na UFES, Izabel
Cristina Borsoi, a cultura acadêmica está baseada na lógica mercantil
e a excelência não significa alta qualidade, mas sim quantidade. “Os
relatos da pesquisa demonstram que o docente se sente improdutivo
mesmo que produza muito. Há uma naturalização da produtividade”,
explicou Cristina.
A pesquisa
realizada pela professora demonstrou que 81,3% dos docentes
entrevistados procuraram atendimento médico nos últimos dois anos,
sendo 36% por problemas psicoemocionais, como ansiedade e depressão.
Outro dado interessante da pesquisa, é que dos docentes que são
medicados com remédios prescritos, 57,5% são mulheres e 41,1% são
homens.
Estratégias de enfrentamento
ao adoecimento decorrente do trabalho são apresentadas por entidades
Durante o encontro
de saúde, também ocorreu uma mesa em que foram apresentadas as
estratégias já em curso para o enfrentamento do adoecimento, como o
Fórum de Saúde do Trabalhador da UFPR, apresentado pela professora
Elizabeth Araújo Garzuze; as experiências do Andes-SN, relatadas pelo
professor João Wanderley; e as do Sindicato dos Trabalhadores Federais
em Saúde, Trabalho e Previdência no Estado do ES (Sindprev),
apresentadas por Marli Brígida dos Reis.
“Nos
reunimos trimestralmente em comissões nos locais de trabalho, onde
discutimos nossas dificuldades e pensamos em estratégias de ações
frente às problemáticas que nos são postas”, explicou Marli Brígida.
Ela também disse que esses grupos funcionam bem e os trabalhadores se
sentem mais preparados para superar determinadas problemáticas.
Docentes apontam
necessidade de ações concretas para o problema
Na plenária de encerramento do encontro e nos grupos de discussão,
foi reiterado o posicionamento dos docentes de que o debate sobre
saúde seja transformado em ação concreta. “O seminário é um momento de
encontro para pensar e sugerir ações concretas. Na nossa seção
sindical, já discutimos a questão da insalubridade e estamos nos
preparando para discutir a MP 520”, afirmou o professor da ADUFF,
Armando Cypriano Pires.
Na
avaliação da coordenadora do GTSS/A, Bartira Silveira Grandi, o
encontro apresentou uma estrutura de discussão que possibilitou uma
melhor compreensão do debate e subsidiou os docentes para o
enfrentamento da questão. “Há um forte posicionamento dos professores
de que, além de aprofundar o tema, é preciso transformar essa
discussão em ação. Essa é colocação que a coordenação do GT vai levar
para reunião de diretoria do Andes-SN”, afirmou.
Ao final da
plenária, foi encaminhado que os GT’s locais das seções sindicais
discutam os parâmetros para a pesquisa do perfil do trabalhador
docente e enviem as contribuições para a coordenação nacional do GT em
um prazo de 30 dias. As demais sugestões de ações para o Sindicato
Nacional serão encaminhadas para discussão na plenária do Conad.
Fontes: Por Luciana Silvestre
Adufes Seção Sindical