Docentes querem garantir direitos na carreira
Os
principais direitos relacionados à carreira docente na década de 1980,
com a criação do Plano Único de Classificação e Retribuição de Cargos
e Empregos (PUCRCE), estão ameaçados pela proposta do governo federal.
A constatação é do 1º vice-presidente do ANDES - Sindicato Nacional
dos Docentes, professor Luiz Henrique Schuch, que abordou o tema
“Carreira Docente: o pior já chegou (mas o ANDES tem a solução)” na
manhã da sexta (15/4), para um público de 30 pessoas, no Auditório
Sérgio Pires, campus da UFSM. Contudo, a ameaça não é um problema
particular dos professores.
Para
Schuch, o que o governo Lula (e agora Dilma) quer colocar em prática é
a retomada de uma concepção que vem da época dos regimes militares,
quando se pensava a universidade dividida em alguns “centros de
excelência” e outras seriam transformadas em meros “colegiões” de
terceiro grau. Essa pretensão foi barrada na década de 80, com a
ascensão dos movimentos sociais, o fim do regime militar e a
Constituinte, mas em seguida retomada pelos governos neoliberais de
Collor e FHC e que sofreu continuidade no governo petista.
A proposta
de carreira apresentada ainda no final do governo Lula está moldada,
conforme o dirigente do ANDES-SN, em uma visão de Estado “gerencial”,
em que não há mais preocupação com o tripé ensino, pesquisa e
extensão, mas sim com a produtividade. Segundo o professor, 70% do
embasamento da proposta do governo para a categoria é de um processo
em que a progressão na carreira só acontece a partir de uma avaliação
na qual o resultado seja o cumprimento de metas.
Luiz
Henrique Schuch falou ainda sobre o que considera a venda de ilusões
promovida pelo governo. Segundo ele, ao sinalizar com a criação de
mais um classe na carreira de professor (o Sênior), o governo acaba
economizando recursos, pois sinaliza com algo que é para o futuro,
pois hoje nenhum professor tem os requisitos necessários para ascender
a Sênior. Por outro lado, se o governo estimula a criação de uma outra
classe, acenando para quem está no topo, por outro, descarta qualquer
possibilidade de quem já está aposentado ou daqueles que ainda se
aposentarão de terem acesso a essa progressão. “O que o governo faz é
confundir de forma proposital questão da carreira com política
salarial”, ressalta o vice-presidente do ANDES-SN.
Um dos
fatos considerados lamentáveis pelo sindicato é que as alterações
propostas para a carreira não passam pelo Ministério da Educação, se
restringem a uma compreensão formulada pelos “burocratas” do
Ministério do Planejamento (MPOG), cuja linha de raciocínio é
implementar uma visão de educação competitiva, gerencial.
Quando nas
diversas reuniões com a equipe governamental, se cobrou a questão da
exclusão dos aposentados da nova carreira, a resposta foi de que
realmente a carreira diz respeito somente aos ativos. O então
secretário de Recursos Humanos do MPOG, Duvanier Ferreira, chegou a
usar uma frase que ilustra bem a concepção do governo: “Aposentou,
aposentou-se”.
Em resposta
a esse tipo de colocação, Schuch disse ao secretário que na realidade
o que o governo pretende é fazer uma mini-reforma previdenciária, o
que deixou Ferreira sem o que dizer, a não ser admitir que “esse é o
ponto mais duro do debate”.
Concepção de Estado
Na avaliação do
vice-presidente do ANDES-SN, somente a mobilização da categoria poderá
barrar a proposta governamental. Segundo Schuch, qualquer estruturação
de carreira deve pensar não somente em quanto se vai ganhar ou se terá
ou não níveis. O mais importante, conforme o sindicalista, é garantir
pressupostos sobre o ambiente de trabalho, preservar o desenvolvimento
na carreira, que essa carreira seja única, que haja estrutura,
isonomia salarial, transposição e mobilidade. O “espírito” dessa
carreira deve se reportar aos pressupostos já existentes, tanto na
Constituição, que prevê a autonomia universitária, a
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, como também no
PUCRCE. “Deve haver uma conexão entre a atualidade e o passado,
garantindo os direitos previstos, coisa que a proposta do governo não
contempla. Ela está desconectada com o passado”, frisa Schuch.
A proposta
do ANDES-SN para a carreira docente foi aprovada no 30º Congresso do
ANDES-SN, ocorrido no mês de fevereiro, em Uberlândia (MG). A partir
disso, o sindicato tomou a iniciativa de protocolar a proposta, já
formatada em termos de projeto de lei, no Ministério da Educação, no
ministério do Planejamento, além de enviar a deputados e senadores.
Para abordar o tema com o MEC, o ANDES já recebeu a confirmação de uma
audiência no próximo dia 5 de maio.
O evento da
manhã desta sexta foi organizado pela Sedufsm e teve a colaboração do
Grupo de Trabalho de Carreira local. Na mesa de abertura estiveram
presentes, além de Luiz Henrique Schuch, o presidente da Sedufsm,
professor Rondon de Castro, o membro do GT Carreira nacional e diretor
da Regional RS do ANDES-SN, professor Carlos Pires, o vice-presidente
da Sedufsm, professor Julio Quevedo, e o professor Abel Lopes, que foi
delegado no 30º Congresso do ANDES-SN.
Principais diretrizes
A proposta de
Carreira construída pelos professores sustenta-se, principalmente, em
quatro diretrizes. A primeira é a carreira única para todos os
professores das instituições de ensino superior, independente do nível
de ensino a que estejam vinculados.
A segunda é
o restabelecimento da isonomia por meio de remuneração única, que
agrega o diferencial de titulação e de regime de trabalho em uma linha
só no contracheque, eliminando todas as gratificações.
O projeto
restabelece a paridade dos docentes da ativa com os aposentados e
pensionistas, ao garantir que cada docente dessa parcela da categoria
seja reenquadrado no mesmo patamar em que estava quando aconteceu a
aposentadoria, garantidos todos os direitos.
Por fim,
fixa uma estrutura de carreira dividida em 13 níveis, com degraus de
5% na referência salarial, a serem cumpridos a cada dois anos, o que
permite que o professor atinja o topo da carreira em 25 anos. O modelo
respeita o direito da professora mulher da educação básica de se
aposentar após 25 anos de trabalho, como prevê a legislação, sem
prejuízo de seu desenvolvimento na carreira.
O projeto
também mantém em 3,1 vezes a diferença salarial entre o início e o
topo da carreira, o que significa uma margem equilibrada de renda
entre os companheiros da base da categoria.
FONTE:
Por Fritz R. Nunes
Sedufsm