Docentes devem pressionar o governo pela carreira única
Defendida pelo ANDES-SN, a carreira foi considerada a resolução dos
principais problemas enfrentados pelos professores durante seminário
sobre os CAp, em Brasília
A última mesa do seminário nacional do ANDES-SN sobre os Colégios de
Aplicação (CAp) foi uma espécie de síntese das discussões acumuladas
ao longo do debate. O encontro, ocorrido nos dias 22 e 23 de agosto,
na sede do Sindicato Nacional, teve em sua mesa de encerramento o vice
presidente da entidade, Luiz Henrique Schuch.
O dirigente iniciou sua exposição tocando no calcanhar de Aquiles da
categoria: a carreira. “O ANDES-SN fez um conjunto de propostas e
soluções que é melhor não só para os professores, mas para todo mundo,
inclusive para os dirigentes das universidades. Precisamos enfrentar
esse debate sobre a carreira docente. O que defendemos é a carreira
única, que solucionará uma série de problemas, principalmente para
nossos colegas dos colégios de aplicação. É uma proposta boa”, afirmou
Schuch.
A carreira única defendida pelo ANDES-SN traz como importante vantagem
a resolução das distorções geradas na carreira, especialmente após a
criação da classe de professor adjunto. Esta classe é praticamente
considerada uma carreira paralela criada pelo governo, pois muitas
universidades hoje já fazem concurso visando especificamente a essa
classe. No caso dos professores dos CAp, a carreira única é
especialmente importante para que haja fim na divisão dentro da
universidade entre docentes do Magistério Superior e do Ensino Básico,
Técnico e Tecnológico (Ebtt). Igualmente importante é a unificação das
lutas e fortalecimento da categoria em nível nacional.
Conjuntura neoliberal e carreira docente
Ele lembrou que o momento – no mundo e no Brasil – é delicado para a
classe trabalhadora, especificamente pelo “refluxo” vivido pelos
movimentos sociais e hegemonia do projeto do capital. “Em um ambiente
desses é preciso trabalhar de maneira exaustiva os posicionamentos,
pois estamos em um processo de resistência e organização das posições
para se avançar. Nesse sentido, a carreira apareceu como um movimento
importante para os docentes”, destacou.
De acordo
com Schuch, a carreira é o ponto de encontro entre os dois importantes
pilares para o movimento docente: as condições do trabalho e o projeto
de universidade. “A carreira é a estruturação dos trabalhadores. A
forma como ela existe e é trabalhada definirá a relação desse
trabalhador com a instituição e projeta qual universidade teremos”,
avaliou. Em outras palavras, a disputa do movimento docente com o
governo está nas condições de trabalho, na defesa da carreira e na
defesa do projeto de universidade pública.
Defesa da autonomia universitária
Schuch, citando Chico de Oliveira, disse que a universidade tem uma
peculiaridade, que, para a elite nacional, é um escândalo. A
organização do estado nacional, tipicamente patrimonialista, criou uma
instituição que conseguiu definir um pensamento de defesa do
patrimônio público, da defesa da autonomia universitária, que é
contrário à lógica do governo.
Para
resolver esse conflito, o governo trabalha com o discurso dos
problemas de gestão, financiamento e organização das relações de
trabalho. “Essencialmente este conflito não é novo, embora tenha
expressões novas”, ressaltou. A saída neoliberal, especialmente nos
governos Lula e Dilma, consiste em “compreender a educação com
funcionamento na lógica privada, com controle fixo do produto. A
fórmula Reuni deu certo”, explicou Schuch.
Balanço final
Luiz Henrique Schuch considerou extremamente positivo o seminário. A
iniciativa do ANDES-SN, que vem de um crescente de atividades em torno
da crise dos colégios de aplicação, teve bastante representatividade
na entidade. “O nível de aprofundamento dos temas foi incrível. O fato
de termos uma das principais representações do MEC debatendo conosco e
também o representante do Condicap (Conselho de Diretores dos Colégios
de Aplicação) deve ser registrado como um passo importante não só para
o acúmulo do debate, mas para a possibilidade de construção futura dos
encaminhamentos”.
Professora substituta do CAp-UFRJ, Débora Fontinelli, considerou o
momento especial, principalmente pela disposição dos colégios de
aplicação em resistir ao processo de desmonte dessas escolas. “É
preciso trabalhar em parâmetros comuns. Não é porque temos
fragilidades que devemos aceitar qualquer mudança imposta. O que ficou
bastante claro é que nosso objetivo comum é lutar pela carreira única,
que nos deixará mais fortes para tentar barrar os ataques do governo”,
avaliou Débora.
Por Silvana Sá - Adufrj - Seção Sindical