Schuch: arrocho salarial é tratado com fetiches
Dirigente do Andes-SN afirma que, para manter o arrocho, os governos
cooptaram parte dos docentes
O vice-presidente
do Andes-SN, Luis Henrique Schuch, ressaltou que a Carreira do
Professor Federal, proposta pela entidade, é resultado de anos de
debate com a categoria nas várias instituições do país desde os anos
1990. A Carreira do Professor Federal é pautada pelo resgate das
normas do Plano Único de Classificação e Retribuição de Cargos e
Empregos (PUCRCE), fruto de um período de lutas históricas pela
unificação das fundações, em 1985, e, posteriormente, destas com as
autarquias, em 1987.
A construção do
projeto de lei do Andes-SN se deu, segundo o professor, em um tempo de
“heteronomia e de refluxo dos movimentos das categorias, abatidos
pelas políticas neoliberais que resultaram na intensificação do
trabalho docente”. Essa “heteronomia”, para o docente, “invadiu a
autonomia das universidades”. Os governos, ao longo dos últimos quinze
anos, trataram o problema do arrocho salarial dos professores federais
criando “fetiches” que alteraram a carreira. As gratificações
produtivistas são a melhor expressão desse processo de organização da
carreira docente através de normas criadas à revelia da autonomia
universitária.
Schuch também
destacou que, para manter o arrocho e frear as resistências, os
sucessivos governos cooptaram parte dos docentes, concedendo aumentos
e reajustes privilegiando aqueles que já tinham alcançado níveis
superiores na carreira com titulação de doutor, em detrimento do
restante da categoria e dos aposentados. “Em junho de 2011, um
professor adjunto especialista precisaria de 62% para repor o poder
aquisitivo de janeiro de 95. Enquanto isso, o professor doutor adjunto
tem hoje 5% a mais do que tinha em janeiro daquele ano”.
Desprestigio
Schuch também
falou sobre o desprestigio social sofrido pelos professores das
federais, nos últimos anos, com as políticas de reajuste salarial.
“Temos um patamar de piso e teto que é inferior, hoje, até ao de
categorias do setor público, cujo grau de exigência de formação é
apenas o Ensino Médio”.
A carreira do
professor federal elaborada pelo Andes-SN define um modelo de
universidade onde o ensino não é separado da pesquisa que, por sua
vez, não se separa das atividades de extensão. O estabelecimento de um
piso inicial cujo valor seria o do salário mínimo do Dieese (R$ 2.176,
em janeiro de 2011), é uma garantia de qualidade da produção do
professor. Esse piso, no PL do Andes-SN, é referente ao professor
auxiliar, em regime de 20 horas semanais, com graduação.
O diretor do
Sindicato também destacou a objetividade da Carreira do Professor
Federal que, da forma como está estruturada – unificando em uma só
carreira os professores do magistério superior e da educação básica,
técnica e tecnológica em apenas 13 níveis com interstícios de dois
anos – tanto os docentes como os dirigentes da instituição teriam mais
facilidade de estabelecer critérios de avaliação para a progressão
funcional.
Direitos?
Schuch também
destacou que o projeto do governo, na lógica contrária ao do Andes-SN,
cria mais uma classe e seus quatro níveis (Sênior), dificultando ainda
mais o acesso de todos os docentes ao topo da carreira. “A proposta do
governo cinde ainda mais a carreira. Cria duas partes bem distintas. A
dos professores dedicados exclusivamente ao ensino, que ficarão
congelados nas primeiras classes, assim como os atuais aposentados. A
outra parte seria formada pelo atual contingente de professores que
têm trabalhos na pós-graduação vinculados a um programa institucional
de pesquisa, requisito para o acesso às classes de associado e
sênior”.
Sobre essa
questão, o projeto do Proifes guarda grande semelhança com o do
governo, já que também mantém a estrutura de classes com variações
entre níveis de 2,5% e entre classes, de 5%. E na passagem de Adjunto
4 para Associado a remuneração teria um acréscimo de 25%, bem maior do
que as anteriores.
Essa remuneração
baseada em captação de recursos para a pesquisa pode levar a uma nova
reforma previdenciária para os docentes, segundo o diretor do
Andes-SN, na medida em os direitos adquiridos na atual carreira não
são garantidos pelo governo que, em sua proposta, apresenta claramente
uma mudança de regime de trabalho. “A única conexão com o passado (na
carreira do governo) é que o tempo de serviço vai ser considerado”,
alerta.
Posição unificada
O presidente da
Adufrj-SSind, Mauro Iasi, e o Pró-reitor de Pessoal, Roberto Gambine,
conduziram o Seminário. Ao final, Mauro Iasi disse que a seção
sindical quer discutir a nova carreira docente com a reitoria e tentar
um consenso sobre os pontos mais centrais da Carreira de Professor
Federal. A ideia é apresentar ao governo federal uma posição única do
movimento docente e da instituição sobre alguns conceitos como
isonomia, paridade e gestão democrática com o exercício pleno da
autonomia universitária, por exemplo. “Queremos discutir com a
reitoria e ir até o governo com uma posição única em termos de
princípios”.
Fonte: adufrj.