Por Vito Giannotti
A Europa, ao voltar ao trabalho no começo de setembro, após as férias
de verão, é forçada a encarar novamente o fato de ser, hoje, um
continente onde não há trabalho para milhões de jovens. São seus
maiores índices de desemprego após a famosa crise de 1929. Países
outrora “modelo” como França, Inglaterra e Suécia têm, hoje, uma média
de mais de 20% de jovens entre 16 e 24 anos, desempregados. Jovens que
são forçados a viver nas costas dos pais ou avós ou tentar viver de
qualquer expediente. A média de jovens sem trabalho, em toda a Europa
é de 20,5%. Na Alemanha, maior potência do continente, há “somente” 9%
de jovens nesta situação, mas, mais de 2 milhões trabalham em empregos
precários, sem os tradicionais direitos conquistados em 200 anos de
lutas operárias daquele país. Os salários são cada dia menores. Se na
Alemanha as coisas não são tão trágicas, na Espanha não é assim. Lá,
45% dos jovens estão zanzando caçando qualquer quebra galho.
Estes dados nos esclarecem muita coisa sobre as manifestações,
revoltas, incêndios e barricadas que desde 2005 se espalham da França
à Inglaterra, da Grécia à Espanha e se intensificaram nestes últimos
meses. Basta lembrar de Londres, no começo de agosto. Claro, a mídia
patronal destes países e seus mentores estadunidenses se apressam a
pichar qualquer manifestação como obra de vândalos, sem sentido e sem
objetivos. No Brasil, a mídia dos patrões, à la Veja, Globo, Folha
e Estadão repete, como sempre, o que os mestres da mídia
neoliberal mundial mandam dizer. Mas é preciso refletir sobre as
raízes destas revoltas. Elas estão exatamente nestes índices de
desemprego. Desemprego acompanhado da retirada de tradicionais
direitos conquistados a duras penas.
O desemprego, para a doutrina neoliberal, não é necessariamente um
problema a ser resolvido. Um certo desemprego é até necessário,
funcional. Milton Friedman e outros economistas neoliberais chegam a
chamar esse desemprego de "taxa natural" e pode variar de país para
país. Em uns, 4% da força de trabalho; em outros, 11 ou 12%. É uma
folga necessária. E os que sobram? E os jovens? Para o sistema este
problema se resolve com forças repressivas antimotins, prisões e
processos. Até quando? A resposta está nas mãos dos povos, em
contraposição à lógica dos governos com seus bancos centrais e seus
projetos de uma Europa e um mundo a serviço do capital e não dos
povos.
Fonte: Bradil de Fato.