O
descaso na educação pública estadual de Goiás
Escolas
estaduais pedem socorro". "Levantamento da Secretaria de Educação
mostra que 448 colégios precisam de reformas urgentes". "O número
corresponde a 40% das 1.095 escolas da rede, que precisam de reforma
geral, ampliação ou construção de novos prédios. Apenas em Goiânia e
no entorno, são mais de 60 escolas que precisam passar por reparos
emergenciais" (O Popular, 14/03/11, p. 3). Que descaso!
A
reportagem cita, como exemplos, a situação extremamente precária do
Colégio Estadual Tancredo Neves do Parque Industrial João Braz; cita
também três outros colégios da região noroeste de Goiânia, que se
encontram na mesma situação: o Colégio Estadual Jayme Câmara do bairro
Floresta; a Escola Estadual João Bennio do Jardim Curitiba 3 e a
Escola Estadual Edmundo Rocha da Vila Mutirão.
Estas
escolas e muitas outras foram construídas há mais de 20 anos, com
placas de cimento pré-moldadas e deviam funcionar, em caráter
provisório, somente até a construção das escolas definitivas.
Infelizmente, pela falta de interesse do poder público estadual, a
"provisoriedade" continua até hoje e as escolas se encontram
atualmente em estado de calamidade pública.
Quando, por
falta de segurança para os alunos, funcionários administrativos e
professores as escolas são interditadas, realizam-se "reparos
emergenciais" para que possam continuar funcionando por mais algum
tempo. Sai governo, entra governo e a situação das escolas, quando não
piora, continua a mesma.
A
Secretaria Estadual de Educação diz que não tem verbas suficientes
para atender todas as escolas e tenta rastrear dinheiro (quase R$ 80
milhões da educação, que voltaram para a conta do tesouro estadual)
que deveria ter sido investido em obras e, não se sabe por que razões,
não o foi. Que desleixo! Que irresponsabilidade! De fato, na prática -
embora na teoria se diga o contrário - a educação pública de qualidade
não é prioridade para os nossos governantes.
A estrutura
física das escolas (como a qualificação dos professores e a questão
dos salários) influencia na qualidade do ensino e do aprendizado. Por
exemplo, Fernando, que tem nove anos de idade e é aluno do quarto ano
no Colégio Estadual Tancredo Neves, divide uma sala apertada com mais
de 40 alunos e diz: "Não consigo prestar atenção. É muito quente" (Cf.
Ib., p. 4).
A
Constituição Federal afirma que os estados e os municípios devem
aplicar anualmente "vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita
resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências,
na manutenção e desenvolvimento do ensino" (Art. 212). Reparem: a
Constituição Federal reza: "no mínimo". Isso quer dizer que, se houver
necessidade, o Estado pode e deve aplicar mais.
A
Constituição Federal afirma também que o direito à educação, entre
outros direitos, deve ser assegurado à criança e ao adolescente, "com
absoluta prioridade" (Art. 227). Ora, se o direito à educação deve ser
assegurado "com absoluta prioridade", mesmo que faltem verbas para
outras obras, nunca deveriam faltar para a educação. Em caso
contrário, não se trataria de "absoluta prioridade". É uma questão de
lógica. Quem sabe se um pouco de estudo de lógica não levaria os
nossos governantes a cumprir a Constituição Federal?
Falando da
educação, a Constituição Federal diz ainda: "A educação, direito de
todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com
a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho" (Art. 205).
O Estado
precisa urgentemente investir na qualificação dos professores e na sua
formação permanente; precisa promover uma política salarial que
valorize os trabalhadores em educação (professores e funcionários
administrativos); e precisa construir escolas que ofereçam as
condições físicas necessárias para o ensino e o aprendizado.
O grande
educador (e filósofo da educação) brasileiro Paulo Freire, apreciado
no mundo inteiro e que, infelizmente, no Brasil foi muito pouco
valorizado, poderia nos oferecer "novas luzes" para um trabalho
educativo nas escolas e fora delas, que seja realmente um trabalho
libertador e humanizador.
A educação
pública de qualidade é uma construção coletiva. Todos e todas somos
sujeitos do processo educativo. Como nos lembra Paulo Freire: "Ninguém
educa ninguém; ninguém se educa sozinho; os seres humanos se educam
entre si (em comunhão)". Os trabalhadores em educação (professores e
funcionários administrativos) têm um papel de fundamental importância
na construção de uma nova sociedade.
Frei
Marcos Sassatelli, Frade Dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em
Teologia Moral (Assunção - SP) e membro da Comissão Dominicana Justiça
e Paz do Brasil / PUC-GO, Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da
Arquidiocese de Goiânia e administrador paroquial da Paróquia Nossa
Senhora da Terra.
Fonte: Correio da Cidadania