Declaração da Anel reforça luta dos estudantes por 10% do PIB para a
educação
A Comissão
Executiva Nacional (CEN) da Assembléia Nacional dos Estudantes Livres
(Anel) divulgou nesta semana a declaração do 1º congresso realizado
pela entidade. O documento “1º Congresso da Anel: O Novo Pede
Passagem!” destaca a adesão dos estudantes à luta pela aplicação de
10% do Produto Interno Bruto (PIB) na Educação Pública e também à
jornada de lutas que está sendo preparada para a segunda quinzena de
agosto.
Clara Saraiva, da CEN, avalia, em entrevista divulgada no site da
Anel, que o primeiro congresso da entidade foi um grande sucesso. “A
Anel saiu de seu primeiro congresso consolidada enquanto entidade e
organizando uma camada importante de lutadores para grandes campanhas
no próximo semestre”, observa.
Além da confirmação do envolvimento dos Estudantes Livres na luta
contra o Plano Nacional de Educação (PNE) defendido pelo governo,
Clara aponta que outra grande vitória do movimento foi a valorização
não só do debate acerca da homofobia, mas também do machismo e
racismo.
Segundo ela, um dos debates mais presentes foi em relação ao
conservadorismo do governo Dilma, que na tentativa de salvar Palocci,
acabou cedendo às pressões da bancada reacionária e voltou atrás na
proposta de um material educativo nas escolas a serviço de combater a
opressão aos LGBT. “O Congresso decidiu que nós vamos responder a esse
fato, enchendo as escolas e universidades com um “kit anti-homofobia
da Anel”, à serviço da continuidade da luta em prol do PL 122, que
criminaliza a homofobia,” conta a representante da Anel.
A entrevista...
Passado o 1º
Congresso da ANEL, o Portal ANELONLINE.ORG entrevistou Clara Saraiva,
da Comissão Executiva Nacional da entidade.
1) Qual sua avaliação geral do 1º Congresso da ANEL?
Tenho certeza de que foi um grande sucesso. Era a sensação do plenário
no encerramento. Ali sabíamos que, após tanto esforço para chegar até
ali, tínhamos cumprido nossa missão. A ANEL saiu de seu primeiro
congresso consolidada enquanto entidade e organizando uma camada
importante de lutadores para grandes campanhas no próximo semestre.
2) Em que medida o contexto em que foi realizado o congresso incidiu
sobre os debates e resoluções aprovadas?
Acho que no fim das contas, mesmo em uma situação política no país
onde o movimento estudantil não está protagonizando lutas mais fortes,
acabamos tendo um bom momento para fazer nosso congresso. Há um
contexto mundial, com as revoluções árabes e as grandes manifestações
na Europa, em que a juventude não quer ser coadjuvante. Tenho certeza
de que isso foi uma grande inspiração para os delegados e delegadas do
nosso congresso. E, além disso, no Brasil, houve lutas muito
importantes que têm tido atenção da ANEL e desses lutadores que
estiveram em nosso congresso. Foi ótimo ter um operário da construção
civil logo na Mesa de Abertura. Eles fizeram greves fortíssimas e os
estudantes viram. Igualmente, os bombeiros, professores e técnicos das
universidades federais em greve estiveram representados. Então, ter um
congresso que reflete todas essas lutas foi um acerto grande. É o
começo de uma experiência com o governo Dilma. Apesar da popularidade
do governo, há lutas em curso e toda uma crise política em torno ao
problema do Palocci. Nesse sentido, acho que a ANEL se localizou bem
nesse cenário.
3) Entre as resoluções aprovadas, quais você destacaria?
Todas as resoluções aprovadas no Congresso expressam muito debate
político e são o saldo de um processo que a ANEL conduziu desde a base
das escolas e universidades até os 4 dias do Congresso. Por isso,
todas têm sua importância. Mas se eu fosse destacar algumas, eu
começaria pela aprovação de uma ampla Campanha Nacional contra o Plano
Nacional de Educação proposto pela Dilma, que condena nossa juventude
a seguir vivendo sob o atraso histórico que tem nosso país no terreno
do ensino público. Foi decidido pelo congresso que combinaremos essa
campanha com a construção da luta e do plebiscito unitário pelo
investimento de 10% do PIB para a educação. Além disso, teremos uma
jornada de luta entre os dias 17 e 26 de agosto, incluindo uma
manifestação em Brasília no dia 24. Acho que essa resolução arma a
ANEL para entrar com tudo no debate mais importante da educação na
atualidade, porque se trata do principal ataque que o governo oferece
à educação pública neste momento.
4) Além da educação, temos visto muitas iniciativas da ANEL
relacionados ao combate à homofobia. O que o congresso preparou para
dar continuidade a essa luta?
Foi uma vitória enorme do Congresso o fato de termos valorizado tanto
os debates acerca não só da homofobia, mas também do machismo e do
racismo. Na verdade, era visível no congresso que tínhamos uma forte
presença de lutadores LGBT. E a gente sabe que isso foi reflexo de
termos encarado a luta contra a homofobia como uma das prioridades da
nossa entidade desde o ano passado. No Congresso, um dos debates mais
presentes foi em relação ao conservadorismo do governo Dilma, que
acabou cedendo às pressões da bancada dos amigos do Bolsonaro e
voltando atrás na proposta de um material educativo nas escolas a
serviço de combater a opressão aos LGBT. Em uma manobra suja para
tentar salvar a cabeça de Palocci, Dilma mostrou que prefere que as
crianças aprendam hipocrisia, em vez de tolerância. O congresso
decidiu que nós vamos responder a esse fato, enchendo as escolas e
universidades com um “kit anti-homofobia da ANEL”, à serviço da
continuidade da luta em prol do PL 122, que criminaliza a homofobia.
5) E em quê o 1º Congresso da ANEL avançou do ponto de vista da
organização da entidade?
Ah, aqui é um tema que me empolga muito. O congresso preparou a ANEL
para dar um salto em sua estruturação, não tenho dúvida nenhuma. A
entidade tem agora um acúmulo sério sobre questões fundamentais, como
o trabalho de base, o funcionamento, a vida política interna e a
organização de seus fóruns. A força política do 1º Congresso da ANEL
dá base para ousar colocar nossa entidade cada vez mais a frente das
lutas que estão por vir. E a gente sabe que pra dar conta disso, temos
que estar cada vez melhor estruturados. Então acho que a Comissão
Executiva Nacional vai ter que dar muita atenção ao cumprimento de
todas essas resoluções. Mas as perspectivas são ótimas. Um exemplo
disso aconteceu no próprio congresso. Depois que a plenária final
aprovou uma ousada resolução de arrecadação financeira independente, a
ANEL-BA espontaneamente procurou a CEN para já antecipar seus
pagamentos. São coisas como essa que me dão certeza de que a vitória
do nosso congresso vai significar um saldo orgânico concreto para a
entidade.
6) Para terminar, todos sabem que o congresso da ANEL se afirmou como
alternativa ao Congresso da UNE, que vai ser agora este mês. Que papel
você acha que o 1º Congresso da ANEL cumpriu diante da proximidade de
mais um CONUNE de submissão ao governo federal?
É, as pessoas acham que nós da ANEL ficamos felizes com essa situação
da UNE, mas não é assim. Sabendo do que a UNE já fez em nosso país, é
muito triste mesmo. Vai ser o 5º Congresso da entidade coberto de
aplausos ao governo e isso já nem surpreende mais as pessoas. Então,
claro que eu fico orgulhosa da ANEL fazer um Congresso em que
realmente prepare os estudantes para a luta. E fico feliz da ANEL
seguir um caminho que não ignora as contradições e sabe não ser
sectária. O congresso chamou a própria UNE pra realizar o plebiscito
dos 10% do PIB em conjunto. E se eles vierem vai ser ótimo. Vamos ver.
Mas uma coisa já está clara. A UNE vai apoiar o PNE do governo, como
sempre tem feito com suas políticas educacionais. Assim, vamos ver que
o debate nosso com a UNE não é um duelo entre aparatos, mas um debate
profundo sobre que programa os estudantes precisam. O PNE é um ataque
e a UNE vai defender. Vamos ver de novo como faz diferença em uma hora
dessas ter uma entidade dizendo “não, não temos alianças com o
governo, não vamos aceitar um ataque para o governo ficar bem;
manteremos nossa independência”. Acho que estamos fortes para seguir
topando esse desafio, ainda mais agora depois da vitória do nosso 1º
Congresso.
Fonte:
ANDES-SN