Comuna de Paris e mundo em ebulição marcam abertura do 17º curso do
NPC
Cantando a
Internacional, jornalistas e dirigentes sindicais deram início à 17ª
edição do curso anual do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC). O
curso acontece de 16 a 20 de novembro, no Rio de Janeiro, e reúne
profissionais da imprensa sindical e diretores de sindicatos de
diversas categorias.
Em sua fala na
mesa de abertura, a jornalista Claudia Santiago, coordenadora do NPC,
destacou a característica comum em todos os presentes: o amor pela
classe trabalhadora. “Nós apostamos nos sindicatos como instrumento de
luta da classe trabalhadora. Nós sabemos como a comunicação feita pelo
sindicato pode interferir na vida da base para uma mudança de valores
na sociedade. O que nos une é um amor em comum pela classe
trabalhadora.”
Vito Gianotti ,
também coordenador do NPC, ressaltou a urgência do tema escolhido
para a edição 2011 do curso “Comunicação e hegemonia num mundo em
ebulição”. Segundo Gianotti, o propósito e debater a relação da
comunicação com a hegemonia na sociedade. Pensar, durante quatro dias,
qual comunicação que devemos ter nesse mundo. O jornalista comentou
ainda a escolha do tema da primeira mesa do curso “140 anos da Comuna
de Paris”. De acordo com Gianotti, é importante lembrar o evento da
Comuna de Paris e pensar em formas de continuação das ideias ali
semeadas.
Comuna de Paris e
a Internacional
A história da
Internacional, hino da classe trabalhadora em todo o mundo, foi
resgatada por Victor Neves. Ele contou que, diferente do que muitos
pensam,"a Internacional começou ser gestada como um canto de
desesperança e boa parte deste espírito permaneceu na versão final do
poema, que animou para a luta militantes socialistas e comunistas em
boa parte do mundo ao longo do século 20".Logo após de Neves, a canção
foi entoada por todos os participantes.
A primeira mesa
do 17º Curso do NPC “1871-2011: 140 anos da Comuna de Paris” debateu,
entre outros aspectos deste importate marco na história da luta de
classes, a forma como este fato foi retratado pela imprensa e a
importância dos canais alternativos de comunicação mantê-lo vivo.
Mauro Iasi,
professor da UFRJ e presidente da Adufrj – Seção Sindical, destacou em
sua fala que a imprensa burguesa não irá saudar a Comuna, logo cabe à
imprensa alternativa fazê-lo. O docente lembrou que a Comuna de Paris
é tema ainda atual, pois quem a destruiu ainda está na ativa e os
motivos que levaram à Comuna também. Ele ressaltou que é importante
avaliar o que a Comuna realizou, mas também o que deixou de realizar.
Para Virginia
Fontes, professora da UFF, ressaltou que qualquer ato que lembre a
Comuna já é uma vitória da classe trabalhadora contra a classe
dominante que acha que pode apagar a história a qualquer instante. Ela
fez um resgate da censura à Comuna de Paris não só na imprensa, mas no
cotidiano da população.
Virgínia
ressaltou que o apagamento de um fato não se dá só pelo silêncio, mas
também pelo excesso de ruído. Ou seja, se criam milhares de outros
acontecimentos para bombardear a sociedade e minimizar o efeito do que
pode ser prejudicial à classe dominante. A professora observou ainda
que cantar e falar sobre a Internacional é sempre importante para
reafirmar o compromisso com a luta popular, lembrar a existência e a
resistência das lutas de classe.
Mundo em ebulição
As transformações
políticas no mundo árabe, as manifestações na Europa e o papel das
redes sociais na convocação dessas manifestações foram alguns dos
temas tratados na durante mesa “Século XXI: mídia e ebulição do mundo
latino, árabe e europeu”, composta pelos jornalistas Inácio Ramonet e
Pacoal Serrano e pelo professor da UFF, Dênis de Moraes. O debate
encerrou o primeiro dia do curso do NPC.
O jornalista
Ignacio Ramonet introduziu o tema fazendo um contexto geopolítico do
mundo árabe e ressaltou que não foram os meios de comunicação e as
redes sociais que produziram as transformações nos países. Para ele, o
primeiro ponto impulsionador das revoluções foi, no caso da Tunísia, o
fato de as populações terem acesso a revelações do Wikileaks que
revelaram como funcionava a corrupção no país. A rede de televisão Al
Jazeera foi o segundo elemento apontado por Ramonet que levou
informação à população do país. “Desde que foi criada, a Al Jazeera
mudou a comunicação do mundo árabe e a visão que os árabes têm deles
mesmos”, disse.
Por último ele
apontou a relevância das redes sociais na convocação das
manifestações. “O Twitter não serve para criar um sentimento
revolucionário. Esse sentimento de protesto já existia devido às
condições materiais de existência”, ressaltou. De acordo com Ramonet,
as redes sociais serviram permitiram a organização de manifestações
com 20, 30, 40 mil pessoas, o que dificultou a repressão por parte dos
governos ditatoriais. “Não foi uma revolução no sentido marxista, mas
uma transformação no regime. Em menos de um mês, 55 anos de ditadura
caem e, pela primeira vez na história triunfa a liberdade”, explica
Ramonet. “As redes sociais foram a ferramenta nova que permitiu que as
classes médias e populares se unissem. Os meios de comunicação não
tiveram um papel central, mas muito importante”, afirma.
Serrano concorda
que as redes sociais não são centrais nas mudanças. Analisando o caso
da Europa, ele reforçou que estes instrumentos servem para marcar o
dia e horário de uma manifestação ou desmarcar, por exemplo, quando se
sabe que haverá grande repressão policial. “As redes sociais podem
levar as pessoas às ruas, conseguiram encher as ruas de gente, coisa
que as organizações sociais e políticas não têm conseguido, mas essas
manifestações acabaram adotando os formatos das redes, mimetizando as
redes”, disse.
América Latina
O professor da
UFF, Dênis de Moraes, falou sobre as mudanças nas políticas públicas
de comunicação introduzidas por governos progressistas na América
Latina nos últimos anos. Segundo ele, a área é um laboratório em
andamento de experiências de combate ao neoliberalismo. “O processo de
transformação na área de comunicação é extremamente importante devido
à herança dos monopólios, que controlam a comunicação de maneira
autoritária e perversa”; disse.
Moraes lembrou
que junto com a concentração monopólica estão a violência simbólica e
patrimonial desses sistemas, que ainda resistem de todas as maneiras
às mudanças em curso. “Isso tem a ver com um traço distintivo da
comunicação: os meios são também agentes econômicos com potência, além
de serem agentes ideológicos”, ressaltou.
Ainda assim, em
vários países da América Latina, há esforços para discutir com a
população e aprovar novos marcos regulatórios principalmente na área
de radiodifusão, que são concessões públicas. “Esse tem sido um dos
setores mais priorizados pelos governos progressistas”, disse,
lembrando que Venezuela, Bolívia e Equador, países que fazem parte da
Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA) têm efetivamente um
compromisso mais forte para mudar as leis e desenvolver outras mídias
que não sejam as hegemônicas.
Com informações
do NPC
Fonte: ANDES-SN