Comitês da Copa lançam dossiê sobre violações causadas por megaeventos
Os Comitês
Populares da Copa, presentes nas 12 cidades que sediarão o megaevento
no Brasil, em 2014, lançaram hoje (12) o dossiê Megaeventos e
Violações de Direitos Humanos no Brasil. O documento, de 138 páginas,
foi entregue hoje com ato em sete das 12 cidades.
Em Belo
Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, houve marcha saindo da
Praça 7 em direção à Prefeitura. De acordo com o integrante do Comitê
Popular dos Atingidos pela Copa, Gustavo Pessali, a entrega de hoje
foi simbólica, porém, nos próximos dias o documento será protocolado
no Ministério Público, Prefeitura, Estado e órgãos responsáveis pelo
meio ambiente.
Além disso,
ministérios do Governo Federal, o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), a Controladoria Geral da União, o Tribunal
de Contas da União, a Comissão de Direitos Humanos da Organização dos
Estados Americanos (OEA), a Organização Internacional do Trabalho
(OIT), e relatorias especiais da Organização das Nações Unidas (ONU)
também receberão uma cópia.
O documento se
divide em sete temáticas – moradia; trabalho; acesso à informação,
participação e representação popular; meio ambiente; mobilidade;
acesso a serviços e bens públicos; segurança pública; e elitização,
“europeização” e privatização do futebol.
Gustavo destaca a
reivindicação do Comitê Popular para que o ordenamento da cidade seja,
a despeito das contradições e conflitos existentes, o mais harmônico e
inclusivo possível. “Ao contrário disso, o que a gente tem visto é o
interesse de expulsar populações pobres. Copa e Olimpíadas só vêm
reforçar esse processo, torná-lo mais rápido e agressivo”, frisa.
Um exemplo é o
que ocorre em Belo Horizonte, e se repete em todas as cidades sede,
com algumas variações. “Nas comunidades de baixa renda, as
indenizações não têm sido prévias e justas, como determina a lei;
ocorre a retirada de população para abrir vias. Pessoas em situação de
rua e mulheres que se prostituem têm sido retiradas do espaço público,
assim como vendedores ambulantes têm sido perseguidos. É o que a gente
chama de higienização da pobreza”, relata.
As baixas
indenizações não permitem ao morador/a adquirir outro imóvel na
capital, e até na Região Metropolitana fica difícil. “A terra está
supervalorizada e a Lei de Ocupação de Solos não destinou áreas para
moradia popular. As pessoas saem da cidade e vão para lugares com
infraestrutura precária, onde perdem a qualidade de vida que tinham
antes”, explica. Cerca de 160 mil famílias estão ameaçadas de remoção
em todo o país por obras relacionadas aos megaeventos.
Diante disso, os
Comitês lutam para que a população seja tratada com tranquilidade,
inclusão e inserção no mercado. “A copa pode trazer pontos positivos,
mas para quem? No momento, só para grandes empresas. Os barraqueiros
do Mineirão (estádio de Belo Horizonte) trabalham no entorno do
estádio há 40 anos, são várias gerações já, e agora foram proibidos,
pelo Código do Município, se trabalhar ali. O que vai ter no lugar
deles são os patrocinadores da Copa. Isso foi planejado por gestores,
sem a participação democrática da sociedade”, critica.
Outro ponto que
merece a atenção dos militantes dos Comitês é a Lei Geral da Copa, que
demonstra a ingerência da Fifa no Brasil. O órgão privado propõe, por
meio deste instrumento que deverá ser votado pelo Congresso Nacional
nas próximas semanas, alterações inconstitucionais, que ferem, por
exemplo, o direito de ir e vir e o Código de Defesa do Consumidor.
“É um ônus
democrático muito grande. ‘Brasil, país do futebol’, acaba caindo na
política de pão e circo”, alerta Gustavo. Ele lembra o ocorrido com
países que recepcionaram a Copa em edições anteriores: tiveram muitos
prejuízos, estão endividados e violaram direitos humanos. “Na África
do Sul, puseram pessoas para morar em contêineres e agora a iniciativa
privada quer demolir os estádios, porque o custo de manutenção é muito
maior que a demanda, então foram bilhões dos cofres públicos
desperdiçados, e o Brasil corre o risco de sofrer o mesmo”, assinala.
De acordo com a
Carta da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, já está
prevista a quantia de R$ 24 bilhões de recursos públicos (10 vezes o
orçamento do Ministério dos Esportes em 2011) nas obras das 12 cidades
sede.
Atos – Além de
Belo Horizonte, os Comitês do Rio de Janeiro, Curitiba, Natal,
Brasília, Porto Alegre e São Paulo foram às ruas para denunciar as
violações de Direitos Humanos vinculadas aos megaeventos e fazer a
entrega simbólica do documento.
O dossiê
Megaeventos e Violações de Direitos Humanos no Brasil está disponível
no link:
http://comitepopulario.files.wordpress.com/2011/12/dossie_violacoes_copa_completo.pdf
Camila Queiroz,
Jornalista da ADITAL
Fonte:
CSP-Conlutas, 14/12/11