Belo Monte demite mais 80 com ajuda da PM
Após nova
paralisação dos canteiros de obras da Usina Hidrelétrica Belo Monte
no último sábado, ao menos 80 trabalhadores foram demitidos nesta
segunda, 12. As dispensas ocorreram uma semana depois da negociação do
acordo trabalhista da categoria – que, entre outros pontos, garantiria
três meses de estabilidade para todos os operários da obra.
Segundo os
trabalhadores, a manifestação aconteceu em função do não-cumprimento,
por parte da empresa, dos acordos feitos com os trabalhadores após a
última paralisação. “Eles prometeram o adiantamento do salário para o
dia 20, antes do recesso. Agora eles dizem que não vão dar”, explicam.
Em relação a uma das principais contestações dos trabalhadores, a
baixada – tempo de retorno para sua cidade de origem, hoje em 6 meses,
segundo o contrato do Consórcio Construtor Belo Monte(CCBE) – , as
coisas também não avançaram. “A baixada continua igual. Nós queremos 3
meses, como em qualquer obra. Também queremos o salário igual das
outras obras. Belo Monte não é o que eles vendem pra gente lá fora
não”, lamentou.
Como no caso dos
141 operários maranhenses demitidos em 16 de novembro, os afastamentos
desta segunda foram realizadas com a presença da Polícia Militar
dentro dos canteiros de obras. “Quando chegamos no RH, a PM já estava
lá esperando a gente. Chegaram lá com a lista, caçando a gente no
canteiro. Teve bate-boca, porque ninguém esperava ser demitido, né? Aí
a polícia apontou arma na nossa cara, tentou algemar um colega nosso”,
contaram os demitidos. “Fomos humilhados que nem bandido, que nem
vagabundo. Por quê?”
Os trabalhadores
foram então colocados em um ônibus pela polícia. Uma parte seguiu para
um trecho urbano da Rodovia Transamazônicano no sentido
Altamira-Itaituba, onde fica um dormitório do Consórcio, e outra foi
liberada. No local, a polícia cercou a área do prédio de Belo Monte.
“Não sabemos porquê fomos parar lá, pra que polícia”, afirmou um
pedreiro demitido. Tanto a PM quanto um funcionário com uniforme do
CCBE teriam dito a eles que “se fosse continuar a baderna, ninguém vai
entrar”. “Eles tratam a gente como se fosse marginal! Eles estão
demitindo a gente, sem explicar, sem motivo, e ainda botam a polícia
na história”, contou um armador, concluindo: “nem comida direito
tinha nessa casa, e pediram pra voltarmos amanhã pra pegar o dinheiro
da rescisão”.
Paralisação
– Parte dos trabalhadores agora demitidos estavam envolvidos na última
greve de final de novembro. Contudo, há outros que, segundo eles,
sequer participaram dos movimentos. “Eu mesmo não participei de greve
nenhuma. Não queria me envolver, sempre saía de perto, ia embora
porque sei que é perigoso. Os meus colegas tentaram falar pro
encarregado que eu não tinha nada a ver com a história, mas ninguém
fez nada”, expôs um operário.
“No sábado, eles
tinham ameaçado o pessoal, dizendo que o acordo só valia para a outra
greve, e que dessa vez ia ser todo mundo demitido”, contou um
trabalhador. Entre os demitidos, havia ao menos dois membros da
comissão que negociou, mediada pelo sindicato, a pauta de
reivindicações dos operários.
Ameaça
– Durante o processo das demissões, dois homens não identificados se
aproximaram do jornalista do Movimento Xingu Vivo para Sempre, que
estava cobrindo o caso do lado de fora do prédio da CCBE, para
ameaça-lo. De acordo com depoimento colhido pelo procurador Bruno
Gütshow, do Ministério Público Federal, um dos homens chamou o
jornalista de “vagabundo, e o outro agente ameaçou repetidamente
‘vamos dar cabo de você agora’”. As agressões voltaram a ocorrer
quando o jornalista estava registrando a cena. Repetindo os insultos,
o primeiro homem afirmou que a policia não poderia ser fotografada e
tentou tomar o equipamento, o que não ocorreu em função da
interferência dos trabalhadores. Os policiais presentes assistiram à
cena e não interferiram, mesmo após serem interpelados pelo
jornalista, relata o depoimento.
Após o ocorrido,
o jornalista tentou registrar boletim de ocorrência na polícia, mas o
delegado de Altamira afirmou que estava com déficit de escrivão, uma
vez que ocorreram cinco homicídios de domingo para segunda, e pediu
gentilmente que retornasse nesta terça às 8h da manhã.
Direitos Humanos
– Em enquete virtual, o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) foi
eleito como a pior empresa de 2011, em termos de violação de direitos.
Fonte:
CSP-Conlutas, 13/12/11.