Ato reúne centenas contra a repressão da PM na Universidade e na sociedade
 

Estudantes, funcionários e intelectuais da Universidade de São Paulo (USP) realizaram na segunda-feira (31) uma manifestação contra a presença da Polícia Militar no campus Butantã, em São Paulo, e contra o papel repressor que a Corporação cumpre na Universidade e em toda a sociedade. O ato aconteceu em frente à reitoria e reuniu no seu ápice cerca de 800 manifestantes.

Muitos estudantes empunhavam cartazes contra a PM e pela descriminalização das drogas. Outros ainda satirizavam a Universidade, vestidos como imperador romano ou juiz. Também estiveram presentes o demitido político e diretor do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), Claudionor Brandão, e o professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) Henrique Carneiro, do Departamento de História, que fez um artigo em defesa dos estudantes e da descriminalização da maconha, cujo uso motivou a repressão da PM.

Durante as falas, manifestantes destacaram a política de criminalização adotada pelo reitor João Grandino Rodas contra militantes, estudantes e trabalhadores que se posicionam politicamente contrários à sua gestão. “É preciso pensar quem é o nosso inimigo central para não dividirmos nossa força e hoje nosso inimigo central, responsável pela presença da Polícia pela forma em que ela tem se manifestado, é o reitor [João Grandino Rodas]”, argumentou Carneiro, sob aplausos e gritos dos presentes.

Manifestantes brincavam uns com os outros e diziam que Carneiro poderia ser o novo processado por conta do seu posicionamento político. O professor continuou: “Precisamos conseguir uma estrutura universitária mais democrática, no qual o reitor seja eleito pela comunidade e não indicado pelo governador como ocorreu com esse!”, disse, lembrando que Rodas conquistou o segundo lugar entre os três professores mais votados por um grupo restrito da comunidade acadêmica e foi indicado por José Serra para assumir o cargo.

Depois das falas, os manifestantes saíram em caminhada pelo campus com os gritos “Fora PM” e “Educação, polícia não!”. Eles passaram em frente às classes dos cursos de História, Geografia, Ciências Sociais, Letras, Administração e Economia. Na Faculdade de Economia e Administração (FEA), a manifestação foi impedida de entrar no prédio.

Em forma de jograu, estudantes contrários à PM no campus convidaram os alunos da FEA, que são favoráveis à presença da Corporação, a comparecerem à assembleia que ocorre nesta terça-feira (1), às 18h, no vão do prédio dos cursos da História e da Geografia para discutir a situação. “Nós solidarizamos com a morte do Felipe (estudante da FEA assassinado durante uma tentativa de assalto na Faculdade). Mas a solução do problema da violência não é a PM”, entoaram.

FFLCH quer negociar desocupação

Em reunião extraordinária durante a noite de ontem, a Congregação da FFLCH, órgão máximo de deliberação da Faculdade, acertou uma comissão de três professores e dois funcionários para negociar a saída dos estudantes do prédio da administração da Faculdade, que acontece desde quinta-feira (27).

Uma moção de repúdio pela atuação da Polícia no confronto ocorrido no estacionamento entre os prédios da História e Ciências Sociais também foi aprovada. Em nota, a Congregação disse que “é preciso que haja clareza quanto aos exatos fins e alcance da política de segurança nos campi". O fórum também se propôs reavaliar junto com a reitoria o convênio entre a USP e a Corporação, mas não propôs a saída da PM do campus.

Como condicionantes para desocupar o prédio, os estudantes querem ver atendidas as reivindicações de “Fora PM do campus”, “Fim do convênio” e “Revogação dos processos administrativos contra funcionários e estudantes”.

Pelo menos 26 alunos estão sendo processados pela Reitoria. A maioria em razão da ocupação de um bloco do administrativo do Conjunto Residencial da USP (Crusp), com a finalidade de garantir mais vagas para a permanência estudantil. Há também um processo movido contra estudante que participou da ocupação da Reitoria em 2007. Outros cinco diretores do Sintusp também podem ser demitidos por justa causa por terem prestado apoio ao movimento de trabalhadores terceirizados da Universidade.

Outras reivindicações políticas dos estudantes são o respeito à autonomia aos espaços estudantis como o espaço do Núcleo de Consciência Negra e da Moradia Retomada, e a queda do Regimento Disciplinar da USP, criado em 1972, durante a ditadura civil-militar.

 

Fonte: Brasil de Fato

 


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