Aterro sanitário?

Por Hélio Fernandes Machado Júnior*

Após longo tempo acompanhando as discussões sobre a implantação de um aterro sanitário no município de Seropédica; vendo e ouvindo os especialistas sobre os imensos malefícios para região, oriundos do passivo ambiental que restará após o despejo das quase 50 milhões de toneladas de lixo, nos próximos 15 anos de atividade, sobre uma das poucas áreas de reserva natural de águas (o Aquífero Piranema); e ter contribuído com estudos técnicos sobre o aproveitamento de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), na tentativa de evitar um dos maiores crimes de caráter político, econômico e ambiental contra o estado do Rio, Seropédica e a centenária UFRRJ, peço a todos que façam as seguintes reflexões:

1. Como evitar um empreendimento desse porte se aqueles que elegemos como nossos governantes assinam leis, decretos e projetos para protegê-los e destroem, gradativamente, o seu próprio estado?;

2. Como ensinar a pessoas adultas que não se deve jogar lixo no chão, colocar na porta do vizinho ou esconder debaixo do tapete?

Prezados, infelizmente nos dois casos as minhas reflexões me levam sempre a uma única resposta: “Só nascendo de novo, talvez”. Como engenheiro químico e professor do magistério superior há 20 anos – e nascido na zona oeste do Rio – fui educado pelos meus pais a ser honesto e ter princípios, respeitando a mim mesmo e ao próximo. Fui ensinado pelas escolas que frequentei que educação e saúde são a base de toda sociedade que quer ser rica e próspera.

Hoje, depois de longos debates a respeito do tema “aterro sanitário” e observando as soluções apresentadas – incluindo a Lei 12.305 (de 2/8/2010), que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – conclui-se que os processos que utilizam a redução de volumes de resíduos, tanto para gerar energia quanto briquetes para produção energia, possibilitam a eliminação dos aterros. Mas, infelizmente, a política econômica da urgência fecha os olhos para soluções mais viáveis, com geração de emprego e renda para todos, de forma lícita e racional.

Diante de tantos fatos, e lembrando que a escassez de água doce tem aumentado com a degradação de rios e nascentes, estaremos agora no início do século 21 aterrando um imenso aquífero subterrâneo, do qual futuramente iremos precisar. Vale lembrar: a água que abastece o município do Rio de Janeiro é oriunda, em sua maior parcela, da Estação de Tratamento de Águas do Guandu, cuja fonte de captação é o rio Guandu. O rio passa por Seropédica e, certamente, com a instalação da CTR Santa Rosa, será ainda mais contaminado, onerando os custos do tratamento e o valor do metro cúbico da água tratada para o consumidor carioca – que estará feliz com a Copa de 2014 e com as Olimpíadas de 2016, pagando o alto custo pela sua total ignorância e falta de educação.
 

* Hélio Fernandes Machado Júnior é diretor do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e membro do Comitê Guandu.

 


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