Seminário do ANDES-SN discute violência contra as mulheres
A violência
atinge homens e mulheres. Enquanto os homens sofrem a violência na
maioria das vezes no espaço público, as mulheres sofrem cotidianamente
agressões físicas ou psicológicas dentro do próprio lar e, não raro, é
o marido ou companheiro que manifesta a violência. Há muito, a
violação dos direitos das mulheres deixou de ser um assunto privado.
Agora, a luta, a discussão e a proposição de políticas também integram
as ações do ANDES–SN, que promoveu o I Seminário Nacional de Mulheres,
em Fortaleza-CE, nos dias 30/6 e 1/7, com o tema “Basta de violência
contra as mulheres”.
O reconhecimento
da violência contra as mulheres teve início nos anos 1970 quando a
agressão começou a ser publicizada. Na década seguinte, foi decretado
o fim da legítima “defesa da honra” para homicídios contra as
mulheres. Já nos anos 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
reconheceu a violência contra as mulheres como uma questão de saúde
pública. A linha histórica foi traçada na conferência de abertura do
seminário pela professora Acácia Dias, da Universidade Estadual de
Feira de Santana.
De acordo com a
professora Acácia Dias, a violência contra as mulheres está na
dinâmica das tramas sociais e mais especificamente nas tramas que se
compõe o jogo do afeto. A sociedade, segundo a professora, busca
justificar o fato de a mulher agredida manter o relacionamento com o
homem agressor por uma questão de dependência econômica. A explicação
é simplista. “Na ponta do lápis, é uma justificativa, mas não uma
realidade. A mulher não quer o rompimento e sim uma intervenção
localizada. Na delegacia, quando perguntada pela delegada se quer
continuar o relacionamento, a mulher diz que sim. Ela não quer mudar
uma vida, quer apenas que ele não bata nela”, argumenta Acácia Dias.
A intervenção
localizada é papel do Estado. O homem agressor deve passar por um
processo de educação social para que não torne a violentar mulheres. A
ação já tem sido desenvolvida pela esfera pública ao mesmo tempo em
que a mulher agredida é encaminhada para uma Casa Abrigo ou Centro de
Referência. No entanto, segundo a professora Acácia Dias, ainda são
poucos os homens que participam dos programas de reeducação. Dentro
dessa perspectiva, ela reivindica que o Estado fiscalize mais e
intensifique as ações para dar basta à violência contra as mulheres.
Para o professor
da Universidade Federal Fluminense (UFF) Waldecyr Herdy Alves, que
palestrou na mesa “Violência contra as mulheres: políticas públicas e
legislação”, é preciso avançar na execução das políticas públicas, de
modo que a sociedade possa debater, de fato, as ações do Estado. “Nós
precisamos ampliar a política pública. A que temos ainda não foi
totalmente discutida e implementada junto ao movimento de mulheres e
ao espaço social. Existe um hiato híbrido entre a teoria da política
pública e o que é vivido no cotidiano”, opinou.
Diversidade de
pautas
Além de discutir
a temática específica do seminário, o ANDES-SN ofereceu espaço para
que sindicalistas e pesquisadores debatessem assuntos como as relações
de gênero dentro dos movimentos sindicais, a saúde sexual e
reprodutiva da mulher, a lesbofobia e a questão geracional. As pautas
discutidas ao longo do seminário deixaram reflexões e propostas para
os movimentos sindical e feminista. A palestra da professora Alda
Britto sobre a questão geracional e as mulheres aposentadas fez
refletir a necessidade de se incorporar essa bandeira na luta dos
movimentos feministas.
Na mesa “Saúde
sexual e reprodutiva das mulheres, sexualidade e lesbofobia”, a
professora Edna Maria de Araújo, da Universidade Estadual de Feira de
Santana (UEFS), fez uma explanação sobre a incidência de Aids entre
mulheres, analisando a literatura que estuda o assunto. “Muitas
mulheres pobres e negras morrem de complicações do HIV, mas não entram
nas estatísticas”, afirmou.
Seminário discute
o papel da mulher nos movimentos sindicais
“Mulheres,
docência universitária e movimento sindical” foi o tema da mesa que
problematizou a situação da mulher na universidade e no movimento
sindical. Debateram a temática Cláudia Durans, professora da
Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e Janaína Rodrigues,
professora da Rede Estadual de Educação Básica de São Paulo e
coordenadora do Movimento Mulheres em Luta.
Fonte:
Por Lorena Alves e Cleisyane Quintino
/
ANDES-SN