Alckmin falta à aula de democracia
 

Mais de três mil manifestantes participaram do protesto na tarde de quinta-feira (24) na Avenida Paulista, em São Paulo (SP). Composto principalmente por estudantes da Universidade de São Paulo (USP) do campus da capital, o ato chamou a atenção para as exigências do movimento grevista estudantil iniciado no dia 8 de novembro, como a saída da Polícia Militar da USP e a anulação dos inquéritos administrativos e criminais contra estudantes e funcionários por fazerem oposição política ao reitor João Grandino Rodas.

Manifestantes saíram do Museu de Arte de São Paulo (Masp) em direção àConsolação e de lá retornaram ao Museu. O protesto foi criativo. Muitas pessoas vestiam rosa e pintaram o rosto da mesma cor, fazendo ilusão à intervenção artística Tropa Rosa Choq_, organizada por estudantes da Escola de Comunicação e Artes (ECA) para confrontar a base móvel da PM instalada no campus na última semana, durante manifestação na quarta-feira (23).

Estudantes do curso de Filosofia também compuseram letras de marchinhas, destacando a repressão promovida pelo reitor Rodas no último dia 08, quando solicitou os trabalhos da Tropa de Choque para realizar a reintegração de posse da reitoria. O resultado foi a prisão de 73 ocupantes. “O estudante por que está tão triste/ mas o que foi que aconteceu?/ ‘foi a PM que entro no campus/ torturo os amigos e depois prendeu’”, cantavam.

Outros manifestantes levaram cartazes que reivindicam diretas já para reitor, estatuinte universitária contra um regimento de 1972, mais iluminação e segurança no campus sem a Polícia, fim do vestibular, fim da precarização da educação, entre outras palavras de ordem.

O ato fez parte de uma Marcha Continental pela Educação que ocorreu na Argentina, Chile, Colômbia e Peru e agregou estudantes de universidades particulares de São Paulo como a Uninove Barra Funda e a FAAP, alunos dos campi da USP no interior (Bauru, Piracicaba, São Carlos), das universidades-irmãs Unicamp e Unesp (campus de Bauru, Botucatu, Marília) e da UFScar (Universidade Federal de São Carlos).

Alckmin faltou à aula de democracia

Logo depois o ato, os estudantes se reuniram no vão do Masp, onde foirealizada uma aula de democracia com a presença de intelectuais e de integrantes de movimentos sociais, sindicais e culturais. Estudantes brincaram com a ausência do governador Geraldo Alckmin (PSDB) que, apesar de convidado, não compareceu à aula. Com uma foto do busto do governador em tamanho real, um aluno imitou Alckmin: “Um grande abraço e bastante polícia para todos vocês”, dizia, arrancando vaias dos alunos.

“O Brasil precisa de pessoas que estejam dispostas a lutar pelos seus ideais, pois só assim poderemos eliminar as desigualdades econômicas, sociais, políticas e culturais que reinam historicamente em nosso convívio. Precisamos de pessoas que se posicionem contra as diversas formas de repressão, que tendem a se institucionalizar contra mobilizações populares de natureza reivindicatória. Se manifestar-me claramente nesse sentido pode me trazer alguns riscos é porque realmente muito ainda precisa ser feito para inaugurar uma democracia neste país”, argumentou o jurista e professor da Faculdade de Direito da USP, Jorge Luiz Souto Maior durante a aula.

O evento também contou com participações internacionais. “Eu vim aqui para apoiar a luta de vocês pela educação no Brasil. Trago saudações de trabalhadores da Escócia, da Inglaterra, do País de Gales e de todas as nossas organizações. Nós sabemos, assim como vocês, que governos dos Estados Unidos, do Reino Unido e o Fundo Monetário Internacional (FMI) querem privatizar a educação, seja na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil”, disse Martin Ralph, integrante do Sindicato de Professores Universitários e do Conselho Sindical de Liverpool, ao relatar às lutas de jovens europeus por educação gratuita e de qualidade.

O palestino Jamal Juma, do movimento de Boicote dos Produtos de Israel, também participou do evento e falou em solidariedade. “Eu estou aqui para dizer que estou muito feliz em ver vocês porque eu sei que essa é uma luta dos jovens, de uma nova geração e vocês vão vencer. Nós estamos na Palestina há 63 anos lutando contra o imperialismo e agora contra o regime do apartheid. Nossa luta vai continuar até que a gente liberte o nosso país. Eu vim para dizer que nós precisamos unir as lutas, a mesma luta de vocês é da juventude no Oriente Médio e ao redor do mundo. Nós temos que conectar as lutas porque, unidos, nós vamos vencer”, disse arrancando gritos e aplausos.

A integrante do Movimento Nacional dos Catadores de Lixo, Mara, foi aplaudida de pé pelos estudantes. “O que vocês estão sentindo agora, nós negros – catadores de papelão, moradores de rua – dormimos e acordamos sentindo. A educação não vai mudar o nosso país porque o Rodas teve educação, o Alckmin teve educação. O que vai mudar o nosso país é a consciência do povo. A polícia nunca foi e nunca será sinônimo de segurança. Fora Polícia da USP, Fora Polícia da Periferia, fora Polícia da Rocinha, fora Polícia do mundo!”.

A aula terminou às 21h e muitos movimentos levaram seu apoio e sua contribuição como o Movimento dos Trabalhadores da Cultura, a Companhia Paulista de Teatro, a Companhia Antropofágica, o movimento LGBT, o Tribunal Popular, o Movimento Nacional dos Catadores de Lixo, os professores da rede estadual, o Sindicato dos Químicos, a Conlutas (Central Sindical Popular), a Anel (Assembleia Nacional de Estudantes), e estudantes.

 

Fonte: Brasil de Fato, Aline Scarso, 25/11/11.

 


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