ADUR-RJ
promove debate sobre a Reforma do Estado no campus da Rural em
Tres Rios
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Em 17 de maio, a Diretoria da
ADUR-RJ promoveu um encontro com a comunidade universitária do
campus da UFRRJ em Três Rios, com o intuito de discutir o tema “A
Reforma do Estado de FHC a Lula: carreira docente em debate”. A mesa
foi composta pela Diretora do ITR/UFRRJ, Profa. Luciana Amorim
Nóbrega; pela Profa. Ana Cristina S. dos Santos, presidente da ADUR-RJ
S. Sind; e pelos palestrantes.
A Diretora do ITR saudou a
iniciativa da seção sindical. A presidente da ADUR-RJ disse que é
importante promover a aproximação entre os professores de todos os
campi da UFRRJ e a Associação de Docentes. “Faz algum tempo que a
ADUR-RJ S. Sind. tem reivindicado um espaço físico no ITR. Esperamos
ter a chance de conquistá-lo quando houver a mudança definitiva do
Instituto para o novo prédio”, disse a Profa. Ana Cristina, passando a
palavra aos palestrantes.
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A exposição do assunto foi
feita por Leonardo Barbosa e Silva – doutor em Sociologia pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e
professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal
de Uberlândia (UFU) – e Luis Mauro Sampaio Magalhães, que é doutor em
Agronomia (Ciências do Solo) pela UFRRJ, professor do Instituto de
Florestas da mesma instituição e 2ºvice-presidente do ANDES-Sindicato
Nacional. O Prof. Luis Mauro substituiu a Profa. Marina Barbosa Silva,
presidente do ANDES-SN. Ela, que já havia confirmado presença no
debate, precisou ficar em Brasília para participar de uma reunião de
última hora com os representantes do Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão.
Iniciando a exposição,
Leonardo Barbosa e Silva retomou o debate teórico que envolve o termo
“reforma do Estado” e analisou a atual conjuntura pela perspectiva
histórica. Segundo ele, para que se compreenda a crise econômica que
assola o país e o mundo, é preciso considerar a difusão do
neoliberalismo nos anos 1990.
“Servidores públicos foram
alvos dos governos Collor e FHC”, diz Leonardo
Nos governos de Fernando
Collor de Melo e Fernando Henrique Cardoso aprofundou-se o processo de
desresponsabilização do Estado em relação aos serviços públicos, tais
como saúde e educação. “Embora FHC não tivesse um projeto amadurecido
de reforma do Estado, foi durante o governo dele que ocorreu a sua
consolidação, a partir de referenciais estrangeiros e que não levavam
em conta a realidade do Brasil”, disse Leonardo ao criticar a política
de Luiz Carlos Bresser Pereira, Ministro da Administração Federal e da
Reforma do Estado durante o primeiro mandato de FHC (1995-1998).
Segundo Leonardo, o Plano
Diretor da Reforma do Estado dizia que o país estava em crise e que,
para saná-la, era preciso enxugar os gastos com os serviços públicos e
com os investimentos em áreas sociais. Por isso, durante os dois
mandatos do governo FHC não existiu uma política efetiva para a
contratação de funcionários públicos, bem como não houve qualquer
reposição salarial para as perdas sofridas pelos servidores ao longo
dos anos. “Os servidores públicos foram tratados pelos governantes
como os grandes culpados da crise do Estado brasileiro”, disse.
Ainda de acordo com Leonardo,
ao longo dos anos 1990 ocorreu a flexibilização do Regime Jurídico
Único (RJU), a terceirização e a privatização dos serviços públicos.
Ele não poupou críticas as
Organizações Sociais - O.S., que, recebem recursos públicos para
administrar recursos humanos, sociais e patrimoniais que estão sob a
égide do Estado. De acordo com Leonardo, ao receberem verbas públicas
para gerir setores como saúde e educação, as O.S. exercem a função do
Estado. Seguem a lógica privatista e o fazem a partir do
estabelecimento de um plano de metas que não considera as reais
condições de trabalho dos funcionários públicos, os direitos
trabalhistas da categoria e a condição de saúde dos servidores.
“Muitos estão doentes porque têm que cumprir metas. Após concluí-las,
há outras ainda mais rigorosas. E assim se movimenta a engrenagem
pública dentro de uma lógica privatista”, disse.
“Governo Lula representou a
continuidade das gestões anteriores”
Para o docente da Universidade
Federal de Uberlândia, o governo Lula caracterizou-se pela
continuidade da política empreendida pelos governos anteriores.
Para exemplificar tal
afirmação, citou o debate que envolve a Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADIM) 1923. Ela se refere à Lei nº. 9.637/98,
que criou as O.S. no país. A mesma lei dispensa licitação na
celebração de contratos de gestão firmados entre o Estado e as O.S.
para a prestação de serviços públicos, como ensino, pesquisa
científica, proteção e preservação ao meio ambiente, cultura e saúde.
A ADIM 1923 – que contesta a
Lei nº. 9.637/98 – foi movida pelo Partido dos Trabalhadores, quando
era liderança da oposição ao governo FHC. Na ocasião, o PT alegou que
a referida lei feria diversos dispositivos da Constituição. “Hoje, o
PT é governo e não tem interesse em acabar com as O.S. Foi por isso
que Luiz Fux, ministro do Supremo Tribunal de Justiça - STJ, solicitou
vistas ao processo”, analisou Leonardo.
“Lula foi mais perverso com
os trabalhadores públicos”
Para Luis Mauro Sampaio
Magalhães o governo Lula também teve a marca da continuidade. “Acho
que ele foi ainda mais perverso com os trabalhadores porque gozava de
certa legitimidade por vir da esquerda, por ter tido uma postura de
oposição aos governos anteriores”, afirmou.
Segundo ele, a política
empreendida por Dilma Rousseff também não será diferente das
anteriores, sobretudo porque a presidenta já tem sinalizado a
aprovação de medidas provisórias (MP) e leis que representam graves
ameaças aos funcionários públicos.
Uma delas é a MP 520, que cria
a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares S.A. - EBSERH e é
considerada inconstitucional pelo ANDES-SN. A nova empresa poderá
fazer contratos temporários e não garantirá a contratação de
funcionários por concurso público, permitindo a precarização do
trabalho e levando à queda da qualidade do serviço prestado hoje nos
Hospitais Universitários.
O 2º vice-presidente do
ANDES-SN também revelou que o governo ainda editou o PL 248,
que “disciplina a perda de cargo público por insuficiência de
desempenho do servidor público estável”. Este Projeto de Lei tem a
intenção de punir e demitir o servidor a partir de uma avaliação que
seguirá metas.
Outra medida preocupante,
segundo Luis Mauro, é o Projeto de Lei 549. O PL prevê o congelamento
salarial dos servidores públicos por dez anos, bem como indica a
redução de novas contratações para o quadro de pessoal (congela também
os concursos públicos).
“O governo está empenhado em
aprovar o PL 549. Se conseguir, não haverá investimentos no setor
público. A idéia do governo é enxugar os gastos com direitos
constitucionais - como saúde e educação - e com os trabalhadores para
manter sua política de austeridade para pagar a dívida”, disse.
Para Luis Mauro, os servidores
devem estar unidos e atentos para somar esforços contra as medidas que
visam proibir até mesmo o direito de greve, que é uma garantia
constitucional e uma conquista cara aos trabalhadores de todo o
mundo.
Mobilização dos
trabalhadores é essencial para a luta política
“Recentemente, cerca de 15 mil
pessoas se reuniram em Brasília, em passeata unificada em defesa dos
serviços públicos e contra o arrocho salarial e a retirada de direitos
dos servidores públicos. Graças a esta manifestação ocorrida em 13 de
abril, conseguimos que o governo retomasse as negociações com os
trabalhadores”, afirmou Luis Mauro.
Um dos pontos que têm sido
debatidos com o governo e negociado pelo Sindicato Nacional diz
respeito à carreira docente. “O ANDES-SN defende a carreira única para
todos os docentes, construída sob os pilares da isonomia, da autonomia
e da paridade. Defendemos a Dedicação Exclusiva e a incorporação das
gratificações em uma só linha no contracheque”, falou Luis Mauro.
O plano de carreira de
profesor federal do ANDES-SN, aprovado pela base após amplo debate com
a categoria, já foi entregue pelo Sindicato Nacional ao governo. O
documento tem como base o Plano Único de Classificação e Retribuição
de Cargos e Empregos – PUCRCE, conquistado pelos docentes em 1987. “O
embate, agora, é fazer com que o governo possa implementá-lo. Temos
que nos mobilizar para pressionar o governo federal”, afirmou.
“Nosso plano de carreira está
calcado em um projeto maior de sociedade e de Universidade. Lutamos
para que o Ensino Superior permaneça sendo um espaço referenciado de
crítica, da produção do conhecimento científico de qualidade. Lutamos
por um ensino público, gratuito e referenciado. E, para isso,
precisamos ter boas condições de trabalho”, avaliou o professor da
UFRRJ.
Após a explanação de Leonardo
e Luis Mauro, os presentes puderam fazer perguntas.
Antes de
encerrar a atividade daquela noite, a presidente da ADUR-RJ agradeceu
a Direção do ITR/UFRRJ e aos docentes Joelson Gonçalves, Cícero
Pimenteira e Gilberto Abrantes Filho pela colaboração para a
realização do debate. “Faremos outras atividades aqui”, prometeu a
Profa. Ana Cristina.