Ideologia
Na
sua estréia, a TV Brasil teve uma audiência que variou do nada ao meio ponto
no ibope.
Com o sinal restrito, por enquanto, a Rio de Janeiro, Distrito Federal, Maranhão e a um canal de UHF em São Paulo, estreou na semana passada a TV Brasil, emissora pública criada pelo governo federal e batizada de "TV do Lula" (não confundir com a TV de alta definição. Leia a reportagem na pág. 152). A nova emissora conseguiu a façanha de ter zero de ibope em uma das manhãs de sua primeira semana. No domingo, foi ao ar uma revista eletrônica que se arrastou por nove horas. Sim, você leu certo: nove horas. Mais ou menos o que leva um discurso-padrão dos camaradas Fidel Castro ou Hugo Chávez. O ponto alto foi um debate entre os ministros Franklin Martins, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, e Gilberto Gil, da Cultura. O assunto? A importância da TV pública, ora. Os dois ou três espectadores da emissora agora aguardam ansiosamente pelos debates decisivos sobre os projetos do governo para a produção de etanol. Um dormonid teria menos efeito soporífero. A nova emissora já tem o seu telejornal – o Repórter Brasil, uma fusão do material produzido pela TVE, a emissora federal com sede no Rio, e pela Radiobrás, empresa estatal encarregada de programas como a Voz do Brasil e Café com o Presidente. Sua independência do poder? Nenhuma. Nele, o presidente Lula aparece até para dar palpites sobre o rebaixamento do Corinthians. O espectador gosta de documentário? Também tem: sobre as viagens pela América Latina do jovem Che Guevara em sua fase ternurinha, claro.
As experiências de TVs públicas nas grandes democracias do Ocidente não são lá uma Brastemp. Na França e na Itália elas servem para empregar jornalistas cujo talento rarefeito e obsessão política os inabilitam a disputar uma vaga nas televisões comerciais. Nos Estados Unidos, onde não são apenas subsidiadas pelo governo mas mantidas pela sociedade, as emissoras de caráter público cumprem um papel que no Brasil já é fartamente atendido pelas TVs do Senado, da Câmara dos Deputados e do Poder Judiciário. A inglesa BBC sobressai da paisagem pela tradição adquirida nos duros tempos da II Guerra Mundial, em que funcionou como braço da contrapropaganda aliada na Europa ocupada pelo nazismo. Dominada hoje por uma burocracia mais acomodada, adotou uma linha de adesão automática ao politicamente correto e, nas questões de política externa, ao antiamericanismo. A BBC é paga com a contribuição compulsória de todos os cidadãos ingleses (veja o quadro). Por aqui se diz que a TV Pública do Brasil terá a BBC como modelo. Por sua história e natureza, a BBC é uma experiência inimitável. Mas, se fosse fácil assim imitar as instituições da Inglaterra, por que não começar pela Royal Navy?
Fonte: Rev. Veja, ed. 2038, 12/12/2007.
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