Congresso: o balcão de negócios da Câmara dos
Deputados
Na madrugada da terça-feira passada (11/01), depois de uma reunião de cinco horas no Palácio do Planalto, os contribuintes brasileiros começaram a pagar a conta das divergências petistas na Câmara dos Deputados. Ali, com a participação de seis ministros e a presença interrupta do presidente Lula, decidiu-se que, para favorecer o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, candidato governista à presidência da Câmara, os cofres públicos farão um gasto adicional de mais de 100 milhões de reais por ano com o objetivo de distribuir mimos aos deputados-eleitores. Hoje, cada deputado pode contratar até vinte funcionários para seu gabinete, com uma folha de pagamento de no máximo 35.000 reais. Agora, com a verba aumentada para 45.000 reais, eles poderão contratar até 25 funcionários. É tanta gente que, se todos fossem trabalhar na mesma hora, não haveria espaço físico nos gabinetes. É tanta gente que, no Brasil de hoje, mais de 90% das empresas nacionais têm menos de 25 empregados na folha de pagamento.
O benefício resultará em despesa adicional de 18,5 milhões de reais por ano. Somando-se tudo, o mimo já em vigência e os outros dois que entrarão em vigor com a eleição de Greenhalgh, a cizânia na sucessão da Câmara já elevou os gastos públicos em 119,5 milhões de reais por ano. Poderia ter sido ainda pior. Na reunião da madrugada, o ministro José Dirceu, da Casa Civil, chegou a propor a liberação imediata das verbas de todas as emendas orçamentárias apresentadas pelos deputados em 2004 – sugestão que custaria algo em torno de 2 bilhões de reais ao Erário. O ministro Aldo Rebelo, coordenador político do governo, chiou. Sabendo que a liberação de emendas é um dos trunfos do governo na hora de negociar com os parlamentares, Rebelo advertiu que seria imprudente gastar toda a munição no início do ano. Ganhou a adesão do ministro Antonio Palocci, da Fazenda. E a idéia morreu, pelo menos por enquanto. O deputado Virgílio Guimarães, contrariando as expectativas da cúpula petista do governo, insiste em manter sua candidatura. Na terça-feira, num jantar oferecido pelo deputado João Paulo Cunha em sua residência oficial, Virgílio Guimarães foi insistentemente abordado para que renunciasse à candidatura. "Você já demonstrou seu prestígio, Virgílio, mas, se levar essa candidatura adiante, vai sair derrotado e sem moral", analisou João Paulo. Não adiantou. Em vez disso, Virgílio Guimarães mostrou uma pesquisa feita pelo instituto Sensus na qual se entrevistaram 230 deputados. O levantamento indica que Guimarães seria o melhor candidato do PT. Ele venceria a disputa diante do pefelista José Carlos Aleluia e de Severino Cavalcanti, do PP, candidatos de oposição. A pesquisa mostra que Greenhalgh, no entanto, correria o risco de ser derrotado por qualquer um dos deputados candidatos de oposição.
Nem a intervenção sutil do presidente da
República alterou o quadro. Na quarta-feira de manhã, Virgílio Guimarães
tomou café com Lula no Planalto, mas o presidente não chegou a pedir
explicitamente ao deputado que desistisse de concorrer. "Virgílio, como sou
petista, apoio o candidato escolhido pelo PT, que é o Greenhalgh. Mas você é
meu amigo e sabe o risco que corre", afirmou o presidente. "Se o presidente
tivesse pedido, eu teria desistido. Como ele não colocou obstáculo, vou até
o fim, para ganhar ou para perder", disse Guimarães, mais tarde. O Palácio
do Planalto, no entanto, não esconde que não gostaria de vê-lo no comando da
Câmara. O deputado é tido como um bom parlamentar, é popular entre os
membros do baixo clero e defende as posições do governo, mas parece nutrir
um exacerbado gosto pelos prazeres da vida noturna – o que, aos olhos do
governo, poderia trazer alguns constrangimentos caso o deputado ocupasse um
cargo de tanto destaque. Na semana passada, como que para provar a seriedade
de suas intenções, Guimarães até autorizou a confecção de material de
campanha e marcou o lançamento oficial de sua candidatura. A festa será
nesta terça-feira. À noite, com certeza, haverá comemoração com muita
cachaça mineira.
Fonte: Revista Veja, Otávio Cabral, Edição 1888, 19/01/2005 |