Relatório da Rede WWF aponta: é possível deter as mudanças climáticas e a chave são os próximos 5 anos
O relatório apresenta uma combinação de seis soluções para atingir o crescimento estimado da demanda por serviços energéticos. E ao mesmo tempo, evitar os impactos mais perigosos das mudanças do clima, com a utilização de fontes de energia que social e ambientalmente benignas. As medidas de curto prazo incluem diminuir a demanda por energia aplicando técnicas de eficiência energética, o que poderá reduzir anualmente até 39% a demanda projetada de energia. Neste cenário, o combate ao desmatamento é crucial para o sucesso, pois possibilita reduções rápidas e de curto prazo nas emissões de gases do efeito estufa garantindo o tempo necessário para as mudanças no modelo energético. O desenvolvimento de biocombustíveis sustentáveis, como o álcool de o biodiesel, e a aplicação ordenada de tecnologias de baixa emissão são apontados como estratégias de médio prazo e devem estar em vigor pleno até 2020. “No entanto, os próximos cinco anos são absolutamente importantes. Se esperarmos mais de cinco anos para tomarmos as decisões necessárias, talvez seja tarde demais para iniciarmos este processo de transição sustentável capaz de impedir um aquecimento global maior que 2ºC”, afirma Denise Hamú, secretária-geral do WWF-Brasil. “Mas é claro que uma transição dessa magnitude no modelo energético precisa ser conduzida de forma a refletir a diversidade de prioridades e interesses das diferentes comunidades de todos os países”, lembra Hamú. A visão Em 2006, a rede WWF convocou uma Força Tarefa Energética Global para desenvolver uma visão integrada sobre energia para 2050. Os especialistas começaram pela revisão de 25 diferentes fontes de energia sustentáveis bastante conhecidas. Entre elas as renováveis não-convencionais (solar, eólica e outras), as técnicas de eficiência para reduzir a demanda (prédios e veículos eficientes, redução de viagens), e outras tecnologias com baixa ou nenhuma emissão de carbono na atmosfera (“captura e armazenamento de carbono” e energia nuclear). Para integrarem a pesquisa, a única exigência era que as tecnologias fossem viáveis e já estivessem disponíveis no mercado. Cada uma das fontes de energia foi classificada de acordo com seus impactos ambientais, aceitação social e custos econômicos. Este exercício de classificação revelou três grupos de tecnologias: Grupo 1: Energias com enormes benefícios positivos (soluções de eficiência dominam este grupo); Grupo 2: Energias com alguns impactos negativos, mas superados pelos benefícios positivos; Grupo 3: Energias com impactos negativos graves, superando quaisquer benefícios positivos. Hidrelétrica e Nuclear “O relatório aponta que a adoção deste conjunto de soluções, como o uso de biomassa, de energia solar e eólica e eficiência energética torna dispensável a construção de novas usinas nucleares. Uma constatação importante, neste momento em que o Brasil discute a possibilidade de construir uma nova usina nuclear”, afirma Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza, superintendente de Conservação de Programas Temáticos do WWF-Brasil, lembrando que pela classificação de fontes de energia do relatório a nuclear encontra-se no Grupo 3. O alto custo de implantação, as emissões e resíduos radioativos, os riscos de segurança e a proliferação de seus impactos são pontos negativos que não superam os benefícios positivos dessa tecnologia. Outra opção de geração de energia que vem sendo discutida no Brasil é a construção de grandes usinas hidrelétricas, como as do Rio Madeira. “O problema dessas grandes obras é que o impacto é imenso tanto na vida das populações do entorno, quanto no meio ambiente. Para que causar um impacto desses, se podemos resolver a demanda elétrica do Brasil com outras fontes? Limpas, sustentáveis e renováveis”, questiona Scaramuzza. Também existem implicações sociais e ambientais que devem ser consideradas na produção de biocombustíveis. O documento aponta que a bioenergia só poderá atingir toda sua capacidade se produzida de maneira sustentável. A biomassa para energia produzida em áreas recentemente desmatadas, por exemplo, é considerada insustentável. “A produção de álcool é uma excelente alternativa para o nosso País, desde que seja feita de maneira ordenada, sem desmatar e respeitando direitos sociais e o meio ambiente”, lembra Karen Suassuna, técnica em Mudanças Climáticas do WWF-Brasil.
A contribuição do
WWF-Brasil para o documento “Soluções Climáticas: a Visão do WWF para 2050”
contou com o subsídio da Agenda Elétrica Sustentável 2020. Lançado em
setembro de 2006, o estudo prevê economia de R$ 33 bilhões para os
consumidores, diminuição no desperdício de energia de até 38% da expectativa
de demanda, geração de 8 milhões de empregos e estabilização nas emissões
dos gases causadores do efeito estufa. Além de afastar os riscos de novos
apagões, se o cenário Elétrico Sustentável for aplicado no Brasil até 2020.
O trabalho foi desenvolvido por uma equipe de especialistas da Unicamp e
balizado por uma coalizão de associações de produtores e comerciantes de
energias limpas, grupos ambientais e de consumidores. “O Brasil pode ser uma
liderança positiva neste processo, a sociedade está debatendo como, mas
ainda falta vontade política de nossos governantes” completa Suassuna. Fonte: WWF-Brasil, 15/05/2007. |