Por que a USP e a Unicamp não entram no ranking do MEC
As
duas principais universidades do país não concordam com os critérios
adotados pelo Ministério para elaborar a lista das melhores instituições.
Mais radical, a Unicamp
A primeira avaliação nacional dos centros de ensino superior chamou mais atenção por algumas ausências do que por seus resultados. A lista foi divulgada na semana passada pelo Ministério da Educação (MEC). O ministro Fernando Haddad comemorou o lançamento do indicador, que será usado para reforçar a fiscalização sobre instituições que não atendem a padrões de qualidade. Lamentou, no entanto, duas ausências importantes: da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ambas lideram a produção científica no país, com 25% e 9% dos artigos publicados, respectivamente. São as únicas brasileiras a figurar entre as 200 melhores universidades do mundo no ranking internacional do “Times Higher Education Supplement”, uma publicação especializada em educação que é referência global. Se são tão boas assim, por que estão fora do ranking do MEC? Os primeiros resultados do índice sugerem vantagem para as instituições especializadas em uma área. A melhor universidade foi a Federal de São Paulo (Unifesp), reconhecida na área de saúde. Entre os centros universitários, o vencedor foi o Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina, focado no ensino técnico e tecnológico. E a primeira faculdade foi a Escola Brasileira de Economia e Finanças, da Fundação Getúlio Vargas, especializada na área de negócios. Mas os resultados poderiam ter sido outros se a USP e a Unicamp tivessem entrado. Por serem estaduais, as duas universidades não são obrigadas a fazer parte do sistema de avaliação do governo federal. Poderiam participar se quisessem, mas preferem ficar de fora porque não concordam com a metodologia adotada. Elas não inscrevem seus alunos em um dos indicadores usados para calcular o IGC, o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), realizado anualmente desde 2004. Embora não sejam obrigadas por lei, a USP e a Unicamp deveriam se voluntariar para avaliações nacionais pelo simples fato de receberem um total de R$ 3,3 bilhões por ano de verbas estaduais públicas. No mínimo, as avaliações funcionam como uma espécie de prestação de contas à sociedade. O principal motivo de discórdia é que a USP e a Unicamp querem que todos os alunos prestem a prova, e não apenas uma amostra sorteada pelo MEC, como hoje. “Essa análise é suscetível a variações entre os estudantes, como a formação escolar prévia e o nível socioeconômico”, diz Quirino Augusto Carmello, da pró-reitoria de graduação da USP. Especialistas levantam outros pontos problemáticos, como a matemática complicada que fornece os resultados do Enade e do próprio IGC. “São muitos critérios misturados”, diz Eunice Durham, diretora do Núcleo de Pesquisas do Ensino Superior da USP. O Inep, o órgão do MEC responsável pelo ranking, diz que qualquer sistema de avaliação gera discordâncias. “Se cada universidade for pedir modificações, nunca teremos um sistema nacional”, diz Reynaldo Fernandes, presidente do Inep. Para Regina Gracindo, integrante do Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão que auxilia o MEC no desenvolvimento de políticas, o Enade é um avanço. “Ele é amplo: considera professores, infra-estrutura e a auto-avaliação da instituição”, diz. A USP já iniciou esse processo e deve negociar com o MEC neste mês sugestões para o próximo Enade. “Mas, se nenhuma modificação for feita, é pouco provável que a USP participe”, diz Carmello. A posição da Unicamp é mais radical. “Mesmo que haja mudanças, eu acho que a Unicamp não teria interesse de participar”, diz o pró-reitor de graduação, Edgar de Decca. A Unicamp aposta no próprio modelo de avaliação, realizada a cada três anos com um time de especialistas brasileiros e de outros países.
Ainda que a avaliação
precise evoluir, é crucial ter um sistema para aferir a qualidade do ensino
superior. “As instituições podem usá-lo para qualificar seus docentes,
melhorar sua infra-estrutura e entender as necessidades dos alunos”, afirma
Marcos Macari, reitor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (Unesp), que escolheu participar do sistema do MEC. “Se a USP e a
Unicamp participassem discutindo sobre o que não concordam, contribuiriam
para melhorar o sistema”, afirma Regina Gracindo, do CNE.
Fonte: Época Online, Marcela Buscato, 15/9/2008.
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