USAID – Bye, bye, Brasil
Depois de financiar projetos sociais por 45 anos, a Usaid se prepara para deixar o país
A Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional (Usaid, na sigla em inglês) consistia numa espécie de monstro da lagoa negra para a esquerda brasileira nos anos 60. Na visão míope do pessoal que adorava uma passeata, a entidade criada pelo presidente John Kennedy para financiar programas educativos e profissionalizantes em países pobres nada mais era do que um "instrumento de dominação imperialista". Uma das razões foi um contrato de cooperação firmado com o regime militar, para implantar no Brasil uma versão do sistema educacional americano. O acordo MEC-Usaid, como era chamado pelos pré-petistas, foi o que permitiu que os antigos cursos primário e ginasial fossem reunidos no 1º grau e o científico e o clássico, no 2º grau. Os anos passaram, a esquerda despiu-se de suas ilusões (não todas) e a agência perdeu a má fama. Nas últimas décadas, ela sustentou exitosos programas sociais. Agora, no auge do prestígio, a Usaid prepara-se para sair do país. Dentro de um ano, a agência reduzirá os investimentos anuais de 25 milhões para 4 milhões de reais. Só serão preservados os programas de erradicação da tuberculose, uma prioridade do governo americano. A razão para a saída é que os Estados Unidos consideram que o Brasil está desenvolvido o suficiente para resolver os próprios problemas sozinho. Quando a Usaid desembarcou no país, em 1962, os indicadores sociais eram muito ruins. Para se ter uma idéia, 40% dos adultos brasileiros eram analfabetos, e 120 de cada 1.000 crianças morriam antes de completar 1 ano. Hoje, o analfabetismo caiu para 14% e a mortalidade infantil é de 27 para cada 1.000. As razões políticas da ajuda também se esgarçaram. No mundo da Guerra Fria de quarenta anos atrás, era estratégico para os Estados Unidos evitar que o Brasil seguisse o caminho de Cuba. Hoje, a democracia nacional está consolidada. "O país não precisa mais de nós", diz Jennifer Adams, diretora da agência no Brasil. Como era de esperar, a decisão da Usaid causou apreensão nas 38 ONGs que dependem dos dólares da entidade para sustentar seus projetos. Entre eles estão o Energia Renovável, que ajudou 4.000 nordestinos a montar sistemas de irrigação movidos a energia solar, e o Enter Jovem, no Recife e em Salvador, dedicado à inclusão digital de adolescentes. Outro programa com a marca da agência americana é o Oficinas Caboclas, que dobrou a renda de 100 famílias ribeirinhas do Pará. Elas aprenderam a fabricar móveis de madeira de lei, sem destruir a floresta. O dinheiro que sustentava isso tudo agora irá para a África, a Ásia e o Oriente Médio.
Fonte: Rev. Veja, Leonardo Coutinho, ed. 1997, 28/2/2007. |