Cristovam quer universidade
gratuita a todos

Ministro diz que está disposto a abrir debate sobre contribuição ao ensino público  

O ministro da Educação, Cristovam Buarque, partiu ontem em defesa do ensino público gratuito, "não apenas nas universidades públicas", depois que declarações atribuídas a ele, veiculadas por Gilberto Dimenstein, na Folha Online, geraram polêmica. Em nota distribuída à tarde, o ministro reafirmou "compromisso pessoal, desde sempre, e político, no governo Lula, com a gratuidade do ensino superior público". Cristovam esclareceu, no entanto, ser favorável ao debate no Congresso de projeto de lei de autoria do ex-deputado Padre Roque (PT-PR) que prevê contribuição anual de profissionais formados em universidades públicas, equivalente a 2% do valor do salário para quem recebe mais de R$ 30 mil por ano ou de 3%, acima de R$ 50 mil. O dinheiro iria para o Fundo Nacional de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Superior, a ser criado, e redistribuído à universidade. "Sou favorável a que o projeto seja debatido no Congresso e com a sociedade.  Porém, ele não tem nada a ver com ensino pago", afirmou o ministro, na nota.

Mais cedo, em entrevista, ele disse que não achava "má idéia" a criação de uma alíquota para os ricos para beneficiar universidades. "Na verdade, o erro talvez seja cobrar dos ex-alunos. Temos de cobrar de todos os ricos brasileiros." A deputada Selma Schon (PT-PR) deve reapresentar o projeto de Roque nos próximos dias. (Colaborou Demétrio Weber)  
 

Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2003 - São Paulo SP -  Sandra Sato - Brasília. 


Universidade gratuita é privilégio
Gilberto Dimenstein*

Num país que gasta menos de R$ 500 por ano com um estudante de ensino fundamental público, os R$ 1.500 mensais destinados a um estudante da universidade pública constituem-se num privilégio. Não consigo entender como setores que se imaginam progressistas não conseguem enxergar essa obviedade. Se a universidade pública tem problemas de financiamento -- e ninguém aguenta pagar mais impostos e não se vai tirar dinheiro do ensino básico -- uma das alternativas, entre tantas, é tirar dinheiro de quem pode pagar. E, aliás, já pagava, quando estava em escolas privadas. E caras. O ministro Cristovam Buarque raspou no assunto, ao defender a proposta, em tramitação no Congresso, de que os alunos formados em universidades pública tenham um desconto diferenciado, quando estiverem trabalhando. Mais cedo ou mais tarde, premida pela falta de verbas, as universidades públicas terão de passar por cima de pruridos ideológicos e conveniências corporativas, e fazer com que a classe média financie o privilégio do ensino superior gratuito.

*Gilberto Dimenstein é colunista e membro do Conselho Editorial da Folha.  

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Fonte: Folha Pensata, 03/06/2003 - São Paulo SP



 

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