Universidades federais farão reforma curricular
Segundo balanço do MEC, 20 instituições vão adotar mudanças como cursos de
graduações interdisciplinares, incluindo bacharelado em ciência e tecnologia No ano que vem, algumas instituições oferecerão graduações interdisciplinares, espécie de ciclo básico com duração de três anos e direito a diploma. Outra inovação será permitir que universitários da área de ciências exatas estudem um ou dois anos antes de escolher o tipo de engenharia que querem cursar. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) adotaram uma ou mais inovações. Balanço do Ministério da Educação mostra que mais de 20 instituições pretendem mexer nos currículos em 2009. A principal novidade são os bacharelados interdisciplinares. A UFBA tem o projeto mais ousado e vai oferecer 900 vagas em quatro cursos de artes, humanidades, saúde e ciência e tecnologia. A UFRN atenderá 500 alunos no bacharelado interdisciplinar de ciência e tecnologia. Na federal da Bahia, cada área terá um terço de disciplinas comuns aos respectivos alunos. O restante será de livre escolha, permitindo que o estudante direcione a formação. Com o diploma, poderá ingressar em mestrados ou fazer concursos públicos que não exijam especialidade profissional. Uma das dúvidas no meio acadêmico é o que farão esses bacharéis. O novo modelo poderá ser aplicado aos cursos de jornalismo. Os estudantes fariam o ciclo básico de três anos e completariam a formação com mais dois anos para também receber o diploma de jornalista. A lógica é que o ciclo básico dê um diploma genérico e o curso tradicional, o certificado profissional. Favorável à novidade, o presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, Paulo Barone, diz que eles terão perfil, por exemplo, de gestores de políticas públicas em prefeituras. Proposta divide opiniões no meio acadêmico Barone lembra que a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) prevê a distinção entre formação acadêmica e profissional. O modelo está em vigor desde 2007 na nova Universidade Federal do ABC, em Santo André (SP): — É um progresso para o Brasil, que assim segue a experiência européia e americana. Os novos formatos são estimulados pelo Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), do MEC. A proposta, porém, divide opiniões no meio acadêmico. — Os cursos de graduação têm um formato conservador. É preciso ajustar nossas metodologias de ensino e currículo às necessidades do século 21 — diz o presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Amaro Lins, que é reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A UFPE não oferece bacharelados interdisciplinares. Este ano, adotou o sistema de ingresso único em que estudantes das engenharias cursam as mesmas disciplinas no primeiro ano e só escolhem a carreira (engenharia civil, mecânica, etc.) no segundo. As vagas são preenchidas conforme as notas. Na UFRN, a idéia é que o ciclo interdisciplinar seja um degrau para cursos tradicionais. O coordenador do Reuni na instituição, Fred Pinheiro, lembra que o ingresso no segundo ciclo levaem conta as notas: — Vamos provocar a competição. O estudante terá motivação para se empenhar mais. Na UFRJ, escolha da engenharia só dois anos depois A UFRJ seguirá modelo semelhante nas engenharias, com a escolha definitiva ocorrendo só após dois anos de aulas. No campus de Macaé, alunos da área de saúde, inclusive medicina e enfermagem, terão disciplinas comuns. Será criado também o bacharelado em ciências da matemática e da Terra, uma opção aos cursos científicos tradicionais de física, química ou biologia. — Estamos chegando numa época em que cursar a universidade será um direito de cidadania como é o ensino básico. E essa universidade não servirá exclusivamente para a formação profissional de médicos, engenheiros e advogados — diz o reitor da UFRJ, Aloisio Teixeira. Ele admite, porém, que a instituição avança com cautela: — A UFRJ ficou no meio do caminho, nem muito conservador nem tão inovadora. Na federal da Bahia, 20% de vagas para bacharelados A partir de 2012, a federal da Bahia reservará 20% das vagas dos cursos tradicionais para egressos dos bacharelados profissionalizantes. A idéia é que parte dos bacharéis dê continuidade aos estudos em cursos de formação profissional. “A proposta é que, no futuro, o acesso a todos os cursos profissionais da UFBA se dê através do bacharelado interdisciplinar, acabando com o sistema de vestibular convencional”, diz nota divulgada pela UFBA. A Universidade de Brasília (UnB) ficou no meio termo, conta a decana (pró-reitora) de Ensino de Graduação, Márcia Abrahão Moura. Além de já ter adotado o sistema de ingresso único nos cursos de engenharia da unidade no Gama, cidade-satélite a 40 quilômetros de Brasília, a instituição vai oferecer bacharelados em ciências da vida, na área de biologia, e computação e tecnologia, ambos com três anos de duração. — O Reuni é uma oportunidade de repensar a universidade — diz Márcia.
Fonte: O Globo, Demétrio Weber, 13/11/2008.
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