A transposição e o
aquecimento global
A
face aterradora do aquecimento global tomou a grande mídia; mas ela não Finalmente, a face aterradora do aquecimento global invadiu a grande mídia brasileira. Evidentemente, ela não se coloca como parte responsável por incentivar um modelo de desenvolvimento que nos conduziu ao abismo, mas foi obrigada a admitir o óbvio. Ao mesmo tempo o governo anuncia o começo das obras da transposição do rio São Francisco. É o mesmo governo que apóia maciçamente o agronegócio brasileiro, que queima a Amazônia para plantar soja e capim. Lula não é a liderança para um país chave nos desafios globais que e humanidade hoje enfrenta. Era uma liderança para os anos 80. Sua concepção de desenvolvimento ainda é a de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek – a quem gosta de se comparar – e, muito mais, do regime militar. Não é por acaso que tem chamado Delfim Netto (ex-ministro de Costa e Silva e de Médice) para assessorá-lo. Também na questão da transposição existe um núcleo de militares pensando a obra. O exército é quem começa implantar os canais. Para todos eles, promover o desenvolvimento é fazer grandes obras. É um conceito quantitativo, da velha economia. Se a humanidade vai colidir com os limites de temperatura, água, solos, etc., para eles não vêm ao caso. É preciso desenvolver. Poderíamos nos perguntar se Geraldo Alckmin seria melhor. Claro que não. Além de predador, ele é privatista e não tem a sensibilidade social de Lula. Heloísa Helena não soube politizar o processo eleitoral e não se colocou como alternativa. Portanto, não temos no cenário político ninguém à altura do desafio. Também é assim no resto do mundo. Bush só pensa em pôr seu exército para matar pobres e grande parcela da sociedade estadunidense só pensa em comer. Os europeus vão tomar uma decisão mais séria para a redução de gases que afetam o efeito estufa. O resultado desse processo mundial e brasileiro já estamos colhendo na revolta do planeta no território brasileiro. O que significa aumentar a temperatura no semi-árido? Há quem fale que será um lugar inabitável, mas um efeito é imediato, isto é, vai aumentar a evaporação das águas estocadas e a transpiração das plantas. Portanto, vamos perder muito mais água pela evapotranspiração do que já perdemos hoje. E vale lembrar que essa equação é a evaporação de três milímetros por milímetro de precipitação.
A NASA, ainda na
década de 90, já dizia que em 60 anos o São Francisco seria um rio
temporário por conta do assoreamento e da evaporação. Se assim for não
teremos o rio nem para transposição, nem para geração de energia, para mais
nada. Mais que destravar as grandes obras, precisaríamos destravar o cérebro
de nossas de nossas lideranças. Com as lideranças que temos o caos é
inevitável. * Roberto Malvezzi (Gogó) é assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Fonte: Ag. Brasil de Fato, 16/1/2007.
Conheça o projeto de transposição do São Francisco
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