TRABALHO ESCRAVO
Escravocratas com
crédito suspenso conseguem liminares
Divulgada esta semana
pelo governo federal, “lista suja” de empregadores que mantiveram
trabalhadores em condições análogas à de escravo teve três
nomes excluídos por liminares obtidas de última hora junto às varas
da Justiça Federal do Mato Grosso e do Distrito Federal.
São Paulo – Três propriedades foram excluídas por liminares
da Justiça Federal do cadastro de empregadores que tenham mantido
trabalhadores em condições análogas à de escravo, a conhecida “lista suja”.
A retirada, que aparece na terceira atualização dessa relação, divulgada
pelo governo federal no início da semana, foi ordenada por varas da Justiça
Federal do Estado do Mato Grosso e do Distrito Federal e tem caráter
provisório. O governo federal já está recorrendo para manter esses
proprietários na lista.
As liminares foram obtidas no final de dezembro de forma inexplicada e não
condizem com a opinião da Associação Nacional dos Juízes Federais (Ajufe),
que faz parte da Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo –
grupo de entidades do governo e da sociedade civil que atuam no combate à
prática. As três fazendas mantinham trabalhadores em situação degradante,
aprisionados pela dívida e, são casos exemplares de trabalho escravo.
O primeiro favorecido pela decisão é João José de Oliveira, da Fazenda São
José, em Buriticupu, Maranhão. Em abril de 2001, ao libertar 34 pessoas
dessa propriedade, a equipe do grupo móvel ficou chocada com as péssimas
condições a que estavam submetidos os trabalhadores, que ficavam alojados no
curral e dormiam com o gado à noite. A cozinheira dos peões estava há mais
de um ano sem receber. A liminar foi concedida pelo juiz federal da 21a Vara
em plantão na 3a Vara Federal do Distrito Federal.
A Fazenda Pantera, de Nivaldo Carlos Barbosa, também foi excluída
provisoriamente. Localizada em Nova Bandeirante, no Tocantins, a propriedade
foi fiscalizada em abril de 1999 pelo grupo móvel, com a libertação de 41
pessoas. O juiz federal da 9a Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal
concedeu a liminar. Tanto a São José com a Pantera tem como ramo de
atividade a criação de gado para abate e a carne é comercializada em todo
país.
Por fim, a Pinesso Agropastoril, proprietária da Fazenda Mutum, em cujas
terras foram libertados 52 trabalhadores em abril de 2002. Localizada em Dom
Aquino, Mato Grosso, tem o cultivo de algodão como atividade principal. O
Grupo Pinesso atua no mercado nacional e internacional produzindo soja,
arroz, milho, sorgo, criando bovinos e suínos e comercializando veículos
Kia, tratores e caminhões Agrale e implementos agrícolas. Ao todo, possui
mais de 100.000 mil hectares de terras, distribuídas nos Estados do Mato
Grosso do Sul e Mato Grosso. Além da Mutum, o grupo possui ainda as fazendas
Água Limpa e Floresta.
As três “listas sujas” do governo federal foram divulgadas nos meses de
novembro de 2003, junho de 2004 e a última em janeiro de 2005. Ao todo, com
os 65 incluídos nesta semana, já são 165 o número de infratores relacionados
(incluindo aqui os três excluídos provisoriamente). Vale ressaltar que há
nomes que aparecem mais de uma vez, como as três repetições de Romualdo
Alves Coelho, da fazenda São Paulo, no Pará, devido ao fato de ser
reincidente nesse crime. A “ lista suja” traz propriedades que se localizam
em Rondônia, Mato Grosso, Pará, Tocantins, Maranhão, Piauí, Bahia, Minas
Gerais, Rio de Janeiro.
Segundo as regras do Ministério do Trabalho e Emprego, responsável pelo
cadastro, a inclusão do nome do infrator na lista acontece somente após o
final do processo administrativo criado pelos autos da fiscalização que
flagrar o crime. A exclusão, por sua vez, depende de monitoramento do
infrator pelo período de dois anos. Se durante esse período não houver
reincidência do crime e forem pagas todas as multas resultantes da ação de
fiscalização e quitados os débitos trabalhistas e previdenciários, o nome
será retirado. O governo é contrário à saída prematura da lista das três
propriedades citadas acima, apesar das liminares concedidas pela Justiça
Federal. Parlamentares e fazendeiros têm visitado constantemente o MTE na
tentativa de ver seus nomes ou de seus representados excluídos da lista,
porém sem sucesso.
De acordo com a portaria do Ministério do Trabalho e Emprego, que
regulamenta a existência da “lista suja”, os seguintes órgãos recebem a
listagem a cada atualização feita: ministérios do Meio Ambiente,
Desenvolvimento Agrário, Integração Nacional, o Ministério Público do
Trabalho, o Ministério Público Federal, a Secretaria Especial de Direitos
Humanos, o Ministério da Fazenda e o Banco Central do Brasil. Estes últimos
interessam especialmente, pois são responsáveis por criar restrições de
créditos aos nomes da “lista suja” em todas as instituições financeiras. Ou
seja, proibir qualquer tipo de empréstimo para quem utiliza trabalho
escravo.
O Ministério da Integração Nacional, desde o final do ano passado, já está
impedindo os relacionados de obterem novos contratos com os Fundos
Constitucionais de Financiamento (portaria nº 1150, de 18 de novembro de
2003 do MIN). O Banco do Nordeste do Brasil, o Banco da Amazônia e o Banco
do Brasil administram esses fundos. O Ministério da Fazendo e o Conselho
Monetário Nacional estão analisando formas de cortar todos os tipo de
crédito disponíveis aos relacionados na lista.
Em 2004, 2745 trabalhadores foram libertados da escravidão e mais de R$ 4,5
milhões foram pagos em direitos trabalhistas durante as 71 operações dos
grupos móveis do Ministério do Trabalho e Emprego. Nesse ano, 264 fazendas
foram fiscalizadas, número maior que as 196 de 2003. Porém, a quantidade de
trabalhadores diminuiu – foram 4.879 em 2003. Um dos motivos foi a greve da
Polícia Federal que durou 80 dias no primeiro semestre do ano passado.
Fonte: Ag. Carta Maior, Leonardo Sakamoto, 07/01/2005. |