Trecho do livro "Por que as Pessoas de Negócios Falam como
Idiotas",
de Brian Fugere, Chelsea Hardaway e Jon Warshawsky.
A
linguagem dos negócios
Vamos
encarar os fatos: atualmente, os negócios estão sendo sufocados
pela conversa fiada. Tenta-se impressionar (ou confundir) os
investidores com cartas empoladas aos acionistas. Os clientes
estão sendo punidos com material impresso de caráter
inconveniente, exagerado e presunçoso acerca dos produtos.
Enviamos aos empregados gigantescos relatórios de progresso que
lançam menos de 2W de luz sobre as grandes questões ou a verdade
nua e crua.
O típico
empregado colarinho-branco vai para o escritório todo dia de
manhã, abre as mensagens eletrônicas, ouve os recados do correio
de voz e comparece a reuniões só para se afogar em jargão
empresarial exagerado:
Após
extensiva análise dos fatores econômicos e das tendências com
que se defronta nossa indústria, chegamos à conclusão de que uma
reestruturação é essencial para manter a posição competitiva.
Foi designada uma força-tarefa para rever as questões e
oportunidades, e seus integrantes apresentarão informes com um
plano de trabalho para implementar as mudanças críticas para a
missão, necessárias para transformar nossa empresa numa
iniciativa mais ágil e focalizada no cliente.
No
entanto, ele não se deixa enganar pela mensagem, porque essas
comunicações orquestradas são exatamente o contrário das
conversas espontâneas de que participa em qualquer outro lugar.
Fora do trabalho, ele tem conversas em tom fundamen talmente
diverso: um diálogo humano, colorido e cheio de histórias.
Informal, espontâneo, caloroso, engraçado e real. Aí ele entra
na Internet e o diálogo natural e sem censura continua nas salas
de bate-papo, nas message boards, nos blogs e nos torpedos. Até
sua vida virtual é mais real que a vida do escritório. Há uma
grande distância entre essas conversas reais e autênticas e a
voz artificial dos executivos e gerentes de empresas em todos os
níveis. Num mundo que implora por mais humanidade, é isso
justamente o que falta às mensagens deles. Entre reuniões,
memorandos e gerentes, perdemos de vista a arte de conversar. A
embromação se tornou a linguagem dos negócios.
Mas, a
maioria dos profissionais de negócios anda cambaleando nas
brumas. Ele copia, cola e envia comunicações vazias de
significado e insípidas, que se convertem em alvo de piadas no
momento em que deixam sua caixa de correio. Ou, pior ainda: elas
são ignoradas. Repletas de jargão, dizem muito pouco e, o que é
mais importante, são descabidas, arrogantes e condescendentes.
Fato que todos sabem, menos o sujeito que aperta o botão Enviar.
Persuasão
Acabamos
imunes a essas mensagens vazias e genéricas. A conseqüência é
que ninguém realmente escuta mais.
Chega de
tabelas e gráficos intermináveis; chega de declarações de missão
padronizadas; chega de linguagem pré-digerida. Qual é o
argumento irresistível? Por que eu deveria dar ouvidos a ele?
Será que alguém se preocupa com o que me preocupa? Será que eles
entendem? Será que algum dia a verdade vai aparecer na minha
caixa de entrada? É melhor não criar expectativa.
Isto é
perturbador, pois, quase todas as vezes em que precisamos enviar
mensagens de caráter profissional, é com o intuito de convencer
alguém a pensar ou fazer alguma coisa. Persuadimos alguém a nos
contratar. Em seguida, nós o persuadimos a aprovar nossos
orçamentos, patrocinar nossos projetos ou comprar o que estamos
vendendo. Se tivermos sorte, também poderemos persuadir as
pessoas a realizarem as tarefas que lhes são encomendadas, e
persuadir outros a nos promover.
Quando
todo mundo se desliga, a persuasão não ocorre.
A
persuasão é extremamente importante: um estudo realizado em 1995
por Donald McCloskey concluiu que 25% do Produto Interno Bruto
estão ligados à persuasão.*
Portanto,
eis o que é necessário saber: você tem uma grande oportunidade
de se tornar mais persuasivo. De ser aquela única voz humana
contagiante – a única autêntica e original que faz as pessoas
terem vontade de escutar. Num mundo de idiotas empresariais
incapazes de fazer as pessoas se envolverem, esta é uma
oportunidade de ouro.
Como
podemos confiar tanto em você, a quem só conhecemos algumas
páginas atrás? Bem, não podemos. Na hora de escrever ou fazer
apresentações, você talvez seja o próprio símbolo da
mediocridade. Ou então passe seu texto pelo corretor gramatical
do Word e pense: "Isto é demais, um presente e tanto – devo
aceitar todas as sugestões!"
Mas
estamos apostando que você é como nós.
Estamos
apostando que você quer ser ouvido.
* Donald McCloskey e Arjo
Klamer, American Economic Review, maio de 1995, v. 85, nº 2.
A evolução
natural da embromação
Então,
como a situação chegou a este ponto?
Há muitas
razões, e todas elas garantem que ninguém faça nenhuma promessa
concreta nem produza qualquer significa do real. A maré do que é
politicamente correto nos deixou de tal modo atolados, que os
idiotas de negócios não podem falar francamente de coisa alguma.
O medo de ações legais ou até mesmo de assumir responsabilidades
tomou conta de nossos dias, e cada documento é redigido pelos
advogados de modo a ser um texto que nada promete e,
deliberadamente, não diz coisa alguma. Também existem as
escolas, os consultores e os gurus de negócios, e todos ganham a
vida pondo velhos conceitos em novas embalagens, como se fossem
algo "novo".
Para não
falar na tecnologia, que tornou por demais conveniente
automatizar aquela parte dos negócios que nunca deveria ser
terceirizada: a nossa voz. Seja pela utilização do jargão
alheio, do padrão generalizante ou mesmo do redator de
discursos, um número excessivo de profissionais de negócios
entrega, gratuita e impensadamente, a ficha mais valiosa que
possui no jogo da influência. A tentação está em toda parte.
Agora temos a opção de desligar nossa personalidade daquilo que
dizemos e escrevemos.
Um
exterminador de besteiras próprio
Encontrar
o próprio caminho no oceano da comunicação empresarial é como
dirigir numa rodovia do interior: tem armadilha para todo lado.
O que precisamos é ter nosso próprio exterminador de besteiras.
Para quem deseja se conectar com o público, as armadilhas são
como um mapa para começar a ser ouvido: quem souber onde estão
poderá evitá-las. No nível fundamental, elas estão ligadas à
obscuridade, ao anonimato, à venda agressiva e ao tédio.
A
armadilha da obscuridade
"Este é
exatamente o tipo de liderança ideológica sinergética, centrada
no cliente, motivada pela venda agressiva, redutora de
turbulência, não-confinada, customizável, estrategicamente
tática, melhor da categoria, uniformemente integrada e
multidirecional, que ajudará nossos clientes a encontrarem o
verdadeiro norte. Vamos hasteá-la como uma bandeira e localizar
os pontos reativos." Na comunicação empresarial, estas palavras
são calorias sem nutrientes. E, infelizmente, são a norma. Na
armadilha da obscuridade caem os idiotas que estão desesperados
para dizer coisas que parecem inteligentes ou provar seus
objetivos, e ela os atrai com destruidores da mensagem como o
jargão, o palavrório, as siglas e as evasivas. Quem consegue
escapar o faz graças à linguagem simples e à honestidade.
A
armadilha do anonimato
O mundo
dos negócios adora clones – são fáceis de contratar, fáceis de
administrar, fáceis de treinar, fáceis de substituir, e quase
todos ficam extremamente felizes em agradar. Estamos
terceirizando nossa voz quando usamos padrões, redatores de
discursos e correio eletrônico, e cedemos diante de convenções
que sequer constituem normas. O que os idiotas de negócios
esqueceram é que a personalidade de uma pessoa é aquilo que a
fez conquistar amigos, namorar, arranjar um sócio e,
provavelmente, até arrumar emprego. Talvez leve tempo para
alguém criar uma mensagem original, para fazer os outros
sorrirem ou parar de gerir sua vida no escritório por meio da
caixa de entrada do correio eletrônico, mas, se quiser escapar
da armadilha do anonimato, é por aí que você precisa começar.
A
armadilha da venda agressiva
Legiões de
profissionais dos negócios caem na armadilha da venda agressiva.
Fazemos promessas exageradas, acentuamos o lado positivo e
fingimos que o negativo não existe – não por termos experiência
profissional em alguma revendedora de carros usados, mas porque
somos humanos e gostamos de ser otimistas. O resultado é que
exageramos nas técnicas agressivas. Elas podem funcionar para
quem vende aparelhos de exercícios abdominais na televisão, de
madrugada, e espera aliciar um punhado de almas distraídas,
solitárias ou embriagadas. Mas são bastante equivocadas na hora
de persuadir empresários (sóbrios) a nos darem ouvidos. Afinal
de contas, as pessoas detestam que lhes vendam algo, embora
adorem comprar. Com acesso a toneladas de informação e à
comunicação instantânea, o público de hoje questiona tudo. Ele
conhece o marketing agressivo e – já que a confiabilidade nas
empresas atingiu o nível mais baixo de todos os tempos – até o
menor vestígio de venda agressiva bota o público para correr.
A
armadilha do tédio
Todo mundo
que trabalha com você pensa em sexo, conta histórias, encanta-se
com detalhes surpreendentes da vida e julga os outros pela
aparência e pelo modo de agir. Vivemos para que nos divirtam.
Todos aprendemos isso nas aulas de psicologia, menos os idiotas
de negócios, que devem ter perdido o período letivo. Eles mandam
tatuar no meio da testa seus extensos títulos de executivos,
despejam números préfabricados em cima do público e,
praticamente, conseguem nos fazer desejar não ter nada a ver com
eles. A morte causada pela generalização substitui os detalhes
espontâneos, pessoais e irresistíveis. Mas, se você tem um bom
conhecimento funcional de como contar histórias, conversar,
procriar e divertir, então poderá escapar da armadilha do tédio.
Sua grande
oportunidade
Os grandes
líderes dos negócios levam a vida sem cair nas quatro
armadilhas. Linguagem honesta; a pura verdade; paixão pelo que
fazem e presença no escritório cinco, seis ou sete dias por
semana – costumamos reconhecer essas pessoas e adoramos ouvir
histórias a seu respeito. Jack Welch, Warren Buffett e Jeff
Bezos: essas pessoas encontraram um jeito de transformar em
marca registrada de sua empresa o hábito de falar sério, e cada
um deles consegue lotar um auditório quando deseja. Sim, é claro
que outros CEOs conhecem essas manhas e também fazem
pronunciamentos. Mas, no mundo dos negócios, Richard Branson, o
presidente da Virgin, equivale a um astro do rock.
Jeff Bezos
transformou a Amazon.com de uma vacilante empresa virtual
emergente num negócio viável, e levou muita marretada da mídia
descrente. Mas, durante aqueles anos difíceis, cada vez que
ouvíamos falar dele, era como de um garoto que tivesse acabado
de abrir uma montanha de presentes na manhã de Natal. Durante os
anos de recuperação da empresa, as notícias dos lucros baixos
estavam em toda parte, e Bezos confirmava cada uma delas. Sem
jargão, sem desculpas, sem embromação. Só com muito fervor e
muita personalidade profissionais.
Carreiras
inteiras podem ser construídas com base no hábito de falar
objetivamente – justamente porque ele é bastante raro.
Falar de
modo objetivo vai muito além das regras da gramática ou de
expressões da moda. Exige honestidade, humanidade e confiança da
parte de quem faz negócios. Qualquer um pode montar uma
apresentação que descreva "as sinergias extensíveis derivadas do
reposicionamento das metas dos ativos intelectuais". Dá mais
trabalho expressar a idéia (não, não sabemos qual é ela) em
linguagem comum.
Não
estamos recomendando que você retome as aulas de retórica da
faculdade. E não fique com a impressão de que este livro foi
escrito por um bando de fanáticos da gramática, emboscados para
espancá-lo por usar uma vez o gerúndio (a não ser que você seja
adepto do gerundismo, é claro). Este livro fala da necessidade
de sermos nós mesmos, de reivindicar nossa voz e permitir que um
pouco de personalidade, de calor e de humor entre em nossa vida
profissional.
Os
dividendos, quando isso ocorre, são enormes, principalmente
porque bem poucos estão tentando. As mensagens ao nosso redor
são tão ruins que você vai se espantar ao ver como consegue ir
tão longe por falar com fraqueza, usar bom humor e contar
histórias.
Além
disso, levar sua verdadeira voz para o trabalho é algo muito
mais gratificante. Talvez possamos poupar certo esforço ao
recorrer a modelos padronizados, mergulhar em mensagens
eletrônicas e agarrar-nos o tempo todo a uma rotina sufocante,
mas não é isso que nos deixa felizes fora do trabalho. E é
missão de um tolo, ou seja, de um idiota, achar que isso vai nos
levar ao nirvana no cubículo.
No
mercado, há uma tonelada de livros medíocres sobre péssima
redação comercial. Entretanto, não há livros medíocres que vão
além da correção gramatical para lançar alguma luz sobre como e
por que se tornou tão monótona a voz dos negócios. Isso está
prestes a mudar.
Este é seu
toque de despertar. A personalidade, a humanidade e a franqueza
estão sendo sugadas dos locais de trabalho. Deixe os palermas
mandarem mensagens ocas. As suas vão estabelecer a conexão de
fato.
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