Universidade sucateada (2) 
 

A crise nas universidades federais se reflete na diáspora de professores rumo às faculdades privadas. A maior instituição federal de Ensino Superior no Estado, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), perdeu 219 professores na última década (9,7% do total de 2.268 docentes). E conseguiu repor em concurso menos da metade desse pessoal. É o que o leitor vai saber neste segundo dia da reportagem de Zero Hora sobre o sucateamento das 53 universidades federais brasileiras.  

A fuga de cérebros

As universidades federais do Brasil experimentam uma dispersão de cérebros. Mais de 8 mil professores debandaram das instituições federais de Ensino Superior desde o início do governo FH, em 1995.

Quase todos por aposentadoria - muitos, atraídos pelos salários da iniciativa privada. Apenas 3 mil dessas vagas federais foram preenchidas. Só um em cada três docentes teve a vaga preenchida. Os mestres e doutores formados pelas federais, com bolsas de estudos patrocinadas pelo governo, migram ano após ano, aos magotes, para a iniciativa privada. Em resumo: o contribuinte brasileiro custeia o saber especializado e esse know-how acaba se transferindo, de mala e cuia, para as faculdades privadas.

Para manter as aulas, as federais apelam para professores substitutos, que se submetem a contratos emergenciais de dois anos e depois têm de ir embora. Esses provisórios representam hoje 17% do total de 46 mil docentes federais. Estes docentes temporários não têm chance de captar o que a universidade oferece de melhor, que é a interação contínua entre a experiência do professor e a sede de saber do aluno - comenta Maria Lia Reis, vice-presidente da Associação Nacional de Docentes (Andes).

Só a UFRGS perdeu 219 professores na última década (9,7% do total de 2.268 docentes). E repôs em concurso menos da metade.

Com relação aos funcionários, a perda é muito maior: 25% dos 2.656 técnicos administrativos da UFRGS debandaram no mesmo período, ou seja, 664 vagas foram perdidas. Parte desses profissionais foi substituída com contratos emergenciais, mas antes de ter experiência os temporários deixam o cargo.

Professores se aposentaram para garantir benefícios

Este ano, 64 professores da UFRGS se aposentaram - e apenas 36 foram repostos por concurso. Em termos de servidores de nível médio, a situação é catastrófica. Saíram 68 técnicos ao longo de 2002. Nenhum concurso foi autorizado para preencher estas vagas.

Estamos sofrendo uma sangria no nosso maior patrimônio, o humano. Os professores substitutos são ótimos, mas não têm oportunidade de ficar - diz Wrana Panizzi, reitora da UFRGS. Muitos professores poderiam ficar até os 70 anos lecionando, mas decidiram se aposentar antes e garantir alguns benefícios que foram cortados. É o caso das Funções Gratificadas para diretores de curso. Até alguns anos elas eram incorporadas na aposentadoria do detentor do cargo. Agora não.  

Por mais dinheiro

O auge da fuga de especialistas aconteceu entre 1998 e 1999, quando as regras de aposentadoria estavam prestes a mudar. Milhares de professores se aposentaram aos 25 anos de serviço. Grande parte se jubilou e se transferiu para instituições privadas, onde alguns reitores e coordenadores recebem até R$ 30 mil mensais.  

Contraponto
O que diz o MEC:

Com relação a professores e servidores, o Ministério da Educação diz que foram abertos desde 1995 concursos para preenchimento de 13 mil vagas. Mesmo assim, existem 8 mil professores substitutos, colocados para suprir vagas em aberto. Para efetivar as vagas ocupadas por estes, foram feitos 3 mil concursos.

 

Fonte:  Zero Hora, 16/12/2002 - Porto Alegre RS - Humberto Trezzi

 

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