Grupo entrega ao STF manifesto contra cotas

          
 

Assinada por 113 pessoas, entre elas dona Ruth, Caetano e João Ubaldo, carta acusa
sistema de estimular ódio racial
 

Um grupo de artistas, acadêmicos, sindicalistas e representantes de movimentos sociais contrários a políticas de cotas raciais entregou ontem uma carta de protesto ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes.

Assinado por 113 pessoas, o documento afirma que os vestibulares que adotam o mecanismo das cotas acabam privilegiando estudantes de classe média “arbitrariamente classificados como negros”.

Entre os que assinam a carta estão o cientista político Bolivar Lamounier, Caetano Veloso, o sociólogo Demétrio Magnoli, o poeta Ferreira Gullar, o escritor João Ubaldo Ribeiro, o produtor musical Nelson Motta e a antropóloga Ruth Cardoso, mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Oito pessoas foram recebidas ontem no gabinete de Gilmar.

Durante a audiência, o grupo apresentou argumentos de que, ao instituir políticas de cotas, o poder público acaba dando vazão ao ódio racial. O ministro não deu entrevista após o encontro.

Ele prometeu ao grupo que entregará cópia da carta aos 11 integrantes da Corte. O texto servirá de subsídio aos ministros na elaboração dos votos que serão dados no julgamento de duas ações que tramitam no tribunal sobre o assunto.

A professora de antropologia Yvonne Maggie, da UFRJ, afirmou que a política de cotas não resolverá o acesso de negros ao ensino superior de qualidade.

— Viemos trazer ao STF argumentos contra essa política que se instalou no Brasil. Raça não existe. Esse é um critério que não deve estar nas políticas públicas, porque vai dividir artificialmente o país entre brancos e negros. Nas universidades, as cotas favorecem uma pequena elite, porque a maioria dos estudantes não chega ao ensino superior. Estamos construindo o telhado antes da casa — disse.

Haddad defende as cotas

No último dia 2, o plenário do STF começou a julgar as ações contra o Programa Universidade para Todos (ProUni), que oferece bolsas em universidades e faculdades a estudantes que se declararem indígenas, pardos ou negros. O programa também beneficia portadores de necessidades especiais, estudantes de escolas públicas ou que tenham concluído o ensino médio em colégios privados com abatimento nas mensalidades.

O relator, ministro Carlos Ayres Britto, votou a favor do programa.

Em seguida, o ministro Joaquim Barbosa pediu vista das ações e, com isso, suspendeu o julgamento por tempo indeterminado.

Ontem, o ministro da Educação, Fernando Haddad, defendeu as ações afirmativas nas universidades públicas.

 

Fonte: O Globo, Carolina Brígido, 1/5/2008.

 


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