Educação
Simples, barato e EFICIENTE
Ao abrirem no fim de
semana para alunos e seus pais, escolas
reduzem episódios de violência
A
Escola
Estadual Professora Eulália Silva fica no coração do Jardim Ângela, um dos
bairros mais violentos de São Paulo. Até dois anos atrás, ela enfrentava uma
situação comum nos estabelecimentos de ensino público das grandes cidades
brasileiras: vivia sendo pichada, era constantemente depredada e abrigava um
grupo de alunos-problema que causava tanta encrenca que professores e alunos
chegavam a ter medo de freqüentá-la. Hoje, a Eulália Silva parece outra
escola: suas paredes estão impecáveis, a quadra de esportes nunca mais foi
alvo de pichações e tanto alunos como professores se sentem tranqüilos lá.
Assim como milhares de escolas brasileiras, a Eulália Silva encontrou uma
forma simples de lidar com a violência – que, na maioria das vezes, parte
dos próprios estudantes. Em vez de tentar proteger o estabelecimento de
ações predatórias, a direção do colégio passou a franquear o acesso ao
estabelecimento nos fins de semana para que alunos e moradores do bairro
desenvolvam lá atividades de esporte e lazer. A iniciativa é fruto de um
projeto da Unesco no Brasil. Partindo do princípio de que uma das principais
causas da violência entre os adolescentes é a falta de opções de lazer, a
organização – braço da ONU para assuntos ligados à educação, à ciência e à
cultura – chegou à conclusão de que o espaço mais indicado para suprir essa
lacuna seriam as escolas. Primeiro, por causa do baixo custo da iniciativa.
Segundo, porque, ao reforçar a idéia de que a escola é um espaço que
pertence à comunidade, o projeto acaba incentivando as pessoas a protegê-la.
"O mecanismo é sempre o mesmo: se o indivíduo não consegue se integrar a uma
sociedade, tenta destruí-la", afirma Silvia Colello, professora de
psicologia da educação da Faculdade de Educação da Universidade de São
Paulo. "Nesse sentido, as atividades de fim de semana funcionam como uma
porta de inserção para os adolescentes", explica. Agora, aos sábados e
domingos, o pátio da Eulália Silva vira espaço de confraternização onde os
jovens ensaiam coreografias de axé e rap, as salas de aula se transformam em
cinema e a cozinha da cantina funciona como uma oficina culinária, onde
crianças e adolescentes – sob orientação de pais e mães voluntários –
aprendem a fazer pães, massas e biscoitos.
Desde 2000, oito
estados já aderiram ao programa da Unesco: Rio de Janeiro, Bahia e
Pernambuco foram os primeiros. Depois, vieram São Paulo, Rio Grande do Sul,
Piauí, Minas Gerais e Sergipe. No total, mais de 6.360 escolas brasileiras
hoje oferecem atividades para os jovens nos fins de semana. A iniciativa é
um sucesso. Em São Paulo, o único estado que tem a totalidade de sua rede
estadual incluída no programa, o número de agressões físicas caiu quase 50%
desde 2003 (veja quadro abaixo). O projeto já foi exportado para a Argentina
e, em breve, deve ser implantado também em Marrocos e no Peru. Ele se
diferencia dos Centros Educacionais Unificados, idealizados pela prefeitura
de São Paulo na gestão de Marta Suplicy, porque, ao contrário dos CEUs, não
dispõe de uma programação preestabelecida: as atividades de lazer são
elaboradas em função da demanda dos alunos e da especialidade dos educadores
que atuam no colégio. Outra diferença é que o programa da Unesco custa bem
menos: como utiliza estruturas já existentes, as despesas se resumem
praticamente ao pagamento de uma bolsa-auxílio para os universitários que
monitoram as atividades de crianças e adolescentes.
No Rio Grande do Sul,
150 escolas estaduais aderiram ao projeto. Os resultados são tão animadores
quanto os verificados em São Paulo. Além de conseguirem diminuir os
episódios de violência, os colégios gaúchos registraram uma redução de mais
de 50% no tráfico de drogas observado nas imediações das escolas. "É uma
revolução sem estardalhaço", afirma o secretário da Educação do estado, José
Alberto Reus Fortunati. "Isso só reforça a convicção de que a escola é o
grande instrumento de transformação da sociedade." E, como se vê, nem custa
tão caro assim.
Quadro: Resultado rápido
Fonte: Rev. Veja, Erin Mizuta, edição nº
1906, 25/05/2005. |