Senso crítico: você
tem?
Desenvolver o senso
crítico é fundamental no processo Na universidade a gente descobre novas idéias, pensamentos revolucionários, amizades diversificadas. E os professores têm grande influência nesse processo de absorver novas concepções e visão de mundo. Mas a gente não pode ir absorvendo tudo, sem senso crítico. A questão é: como aprender a filtrar as informações transmitidas em sala de aula, fazer com que essa influência seja positiva e que não nos deixe sem opinião própria? "Toda relação educativa está apoiada, por princípio, na possibilidade de o educador influenciar o educando. Sem esta possibilidade não há educação ou desenvolvimento. O desafio é encontrar um limite para essa influência", afirma o professor de Psicologia Escolar da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Lincoln Coimbra Martins. Segundo ele, cabe ao professor manter suas convicções fora da sala de aula, e ao estudante saber diferenciar e aproveitar as informações recebidas. "Tento prestar atenção em tudo e anotar as coisas que o professor diz, para depois pesquisar mais. Quando eu já tenho um pouco de domínio sobre o assunto, posso avaliar se o que ele disse é interessante ou não", afirma a estudante do 1º ano de Publicidade da Universidade Presbiteriana Mackenzie Iara Oliveira Felix. A pesquisa fora da classe é fundamental para um aprendizado completo e deve ser incentivada pelo educador, uma vez que é interessante ser questionado e estimulado intelectualmente. O aluno do 3º ano de Educação Física da UFPR (Universidade Federal do Paraná) Vitor do Nascimento Augusto concorda e diz ainda: "crer que vai aprender tudo na universidade é crer numa universidade ou em um sistema de ensino utópico". Ter a mente aberta para novas visões de mundo é o princípio básico do conhecimento, principalmente no Ensino Superior. Segundo a coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação Superior da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e do Programa de Formação de Professores em Exercício para a Região Metropolitana de Campinas (SP), Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira, educação é um diálogo constante e não uma polarização para saber quem tem a verdade. Toda e qualquer convicção deve ser fundamentada em conhecimento sistemático, científico, em estudos e não na simples opinião. E isso se aplica tanto ao docente quanto ao aluno. Influência Positiva x Influência Negativa A boa influência é a do professor que tem maturidade suficiente para transmitir opiniões positivas e formar cidadãos conscientes, críticos, criativos e com capacidade de raciocínio lógico. Para a estudante do 6º ano de Medicina da Faculdade de Medicina do ABC Marita von Rautenfeld, isso acontece porque o professor é formador de opinião, e acaba criando um vínculo de confiança e de admiração com os alunos. As estudantes Iara e Marita crêem que a influência torna-se exagerada a partir do momento em que perde o aspecto educacional ou quando o aluno perde sua opinião e se torna dependente do conhecimento fornecido apenas pelo professor. Outro fator negativo é se a relação de dependência dura mais tempo do que o necessário, em muitos casos, até mesmo depois da conclusão do curso. O estudante deve ter senso crítico para não eternizar essa ligação. "Não significa que o sujeito se torne auto-suficiente ou impermeável a quaisquer influências, mas que desenvolva critérios pessoais na apreciação de informações, valores e comportamentos", avalia Martins. A gente adquire bom senso para delimitar a força da influência ao longo da vida e de todos os períodos da educação pelos quais passamos. "Crianças de pré-escola são menos criteriosas quanto às informações que lhe chegam do que um adolescente, que dispõe de recursos cognitivos sofisticados" explica Lincoln Martirn. Mas é durante o Ensino Médio que essa formação crítica toma forma, "por meio de métodos democráticos de trabalho, pelos quais o aluno é levado a formar o seu próprio raciocínio e adquirir confiança nas suas idéias. Já um ensino autoritário destrói a autoconfiança do aluno e não o prepara para enfrentar personalidades fortes", diz acreditar Elisabete. Equilibrar as informações dentro da aula para que convicções pessoais não se tornem informações acadêmicas é um trabalho bilateral, ou seja, depende dos educadores e dos estudantes. Senso crítico, pesquisas em materiais e fontes fora da sala de aula, argumentações e questionamentos aos professores são elementos utilizados para que a influência seja filtrada e torne-se benéfica a você, universitário.
Fonte: UniversiaBrasil, 21/3/2006. |