"Na mala, na meia, na cueca"
Como vampiros, os
mafiosos sugavam dinheiro público
As coincidências não param por aí. Ganha uma estrelinha dourada do PT quem adivinhar onde os donos da Planam transportavam o dinheiro da propina para os deputados. Ora, ora – na cueca, claro. E também nas meias, em maletas e nos bolsos do paletó, conforme relatou à PF a delatora premiada Maria da Penha Lino, ex-assessora especial do Ministério da Saúde e tida como peça-chave no esquema. Também em depoimento à PF, o motorista Fernando Freitas, que costumava transportar os donos da Planam – Darci Vedoin e seu filho, Luiz Antônio – em Brasília, confirmou que os empresários andavam com maletas abarrotadas de notas de 100 e 50 reais e, ao chegarem ao Congresso, deixavam o carro com os bolsos e as meias forrados de notas. Às vezes, completou o motorista, o dinheiro era tanto que os Vedoin tinham de voltar ao carro para reabastecer-se de cédulas. E assim – bolsos, meias e cuecas recheados – retomavam seu périplo pelos gabinetes. Os quadrilheiros do PT estão mesmo fazendo escola. Esta não é a primeira vez que o Congresso se vê às voltas com acusações de roubalheiras envolvendo emendas parlamentares. O escândalo dos anões do Orçamento, revelado em 1993, envolvia um esquema similar ao dos sanguessugas: deputados cobravam propina de empreiteiros e prefeituras para incluir previsão de recursos destinados a obras públicas. Criou-se a CPI do Orçamento, seis deputados perderam o mandato, outros quatro renunciaram e algumas das regras que regulam a apresentação de emendas foram modificadas – não o suficiente, como se vê, para evitar que o modelo continue sendo uma porta aberta para as fraudes.
No caso dos sanguessugas, a principal brecha explorada pela quadrilha foi a centralização de recursos pelo governo federal. Como a maior parte dos hospitais municipais e estaduais do país absorve seus recursos com gastos de pessoal e manutenção, eles dependem do governo federal para os investimentos necessários. O governo repassa esse dinheiro por meio das emendas de parlamentares. "Para corrigir o problema, seriam necessárias mudanças estruturais que possibilitassem às prefeituras e aos governos recuperar sua capacidade de investimento", diz o professor Calmon. Na semana passada, o Congresso e a Polícia Federal ficaram em pé de guerra por causa da divulgação de uma lista com o nome de 64 deputados citados nas conversas interceptadas na Operação Sanguessuga. Investigadores e investigados passaram a semana acusando-se mutuamente do vazamento da relação, que trazia nomes de suspeitos e de inocentes. Três deputados choraram em plenário, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo, acusou os investigadores de não saber "separar o joio do trigo", e o líder governista na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), chegou a sugerir a convocação dos investigadores para "dar explicações" sobre o vazamento. Por trás dessa cortina de fumaça, uma coisa ficou clara: não haverá CPI para investigar a participação dos nobres deputados na máfia dos sanguessugas. Até sexta-feira, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) não tinha conseguido recolher nem um terço das assinaturas necessárias para a instalação da comissão. Em contrapartida, como sempre ocorre depois de um escândalo, o Congresso e o governo apressaram-se em anunciar a criação de uma comissão parlamentar para estudar (de novo) mudanças nas regras do Orçamento. Espera-se que não se contentem apenas em mudar as normas – mas que se preocupem também em banir os vícios e os que incorrem neles.
Fonte: Rev. Veja, Leonardo Coutinho e Marcelo
Carneiro, |