Rota invertida – política de cotas
Confirmado que o projeto de criação de cotas no ensino universitário público irá para o plenário da Câmara dos Deputados, é imperioso voltar a discutir o tema com mais freqüência. Será péssimo para o país se um assunto dessa magnitude vier a ser votado por parlamentares desinformados e movidos apenas por bandeiras ideológicas. Não é hora de bom-mocismos, de gestos politicamente corretos. Está em jogo um elo-chave na construção de um sistema eficiente de difusão de conhecimento, sem o que o Brasil estará condenado a se manter como o país de um futuro inalcançável. O ponto central da discussão é saber se abrir as portas do ensino superior a segmentos marginalizados da sociedade, sem uma avaliação efetiva do nível de instrução de cada um, é o melhor caminho para o combate aos problemas sociais. Pesará mais para a matrícula do estudante a sua origem social e a cor da pele. Há uma acesa discussão sobre o risco de se importar ações afirmativas formuladas em países onde há ódio racial para uma sociedade miscigenada, com uma alicerçada cultura de convívio entre brasileiros natos e imigrantes, sem divisões por etnias. O perigo da inoculação do ódio racial na sociedade existe. E há outros riscos. Tão grave quanto aquele é o reflexo negativo previsível que alunos cotistas terão sobre a qualidade do ensino superior brasileiro. A tendência será o rebaixamento dessa qualidade, para tornar as aulas acessíveis a quem vem de um ensino médio claudicante. Na ponta final desse processo, profissionais mal qualificados serão jogados num mercado de trabalho que os rejeitará. E, com isso, dinheiro público será desperdiçado, quando poderia ter sido investido no ensino básico público, em benefício de todos, sem discriminações raciais.
Dessa forma, o Brasil
ficará mais distante de países concorrentes que optam por um sistema de
ensino estruturado para buscar a qualidade e assim melhorar o padrão de vida
da sua população. O inverso do que poderá vir a fazer o Brasil. Dependerá do
Congresso. Fonte: O Globo, Editorial, 27/3/06 |