Revisão nuclear
Não existe acordo
internacional mais desigual do que o Tratado
O pacto, estabelecido em 1968, para evitar o holocausto atômico, pretendia congelar no tempo a divisão do mundo em duas categorias de países. Na primeira, figurariam as cinco potências nucleares da época – EUA, URSS (sucedida pela Rússia), Reino Unido, França e China –, que ficariam autorizadas a manter arsenais. Na segunda, estariam reunidas as demais nações, que se comprometeriam a jamais adquirir tal armamento. Dada a assimetria, não surpreende que o TNP jamais tenha funcionado a contento. Para agravar o quadro de desigualdades, surgiu uma terceira categoria de países, composta pelas três nações que jamais assinaram o TNP -Israel, Índia e Paquistão- e que desenvolveram suas bombas. Juridicamente, têm todo o direito de fazê-lo, mas, no plano político, o fato de terem obtido seus arsenais sem sofrer admoestações mais duras dos cinco grandes (há suspeitas mesmo de que tenham sido ajudadas em alguns casos) faz com que o acordo fique ainda mais desmoralizado. É olhando para os exemplos de Israel, Índia e Paquistão que a Coréia do Norte anunciou sua retirada do TNP. E é porque Israel possui a bomba que o Irã parece empenhado em conseguir a sua. Nesse contexto de crise, cerca de 190 países estão reunidos em Nova York para mais uma revisão qüinqüenal do tratado. As delegações deverão passar todo o mês debatendo formas de tornar o acordo mais efetivo. Poderão criar normas mais rígidas, mas dificilmente chegarão a algum lugar, pois não tocarão no problema de fundo do tratado, que é a sua assimetria. É claro que um TNP imperfeito é ainda preferível à anarquia nuclear, que elevaria o risco de o mundo voltar a experimentar os horrores da guerra atômica. Mas, para que o TNP possa realmente ser respeitado, as potências nucleares deveriam concordar em estabelecer um cronograma, ainda que de longa duração, para o completo desmantelamento dos arsenais nucleares.
A existência de duas
categorias de países pode ser admitida como excepcional e transitória, mas
jamais como definitiva. Fonte: Folha de S. Paulo, Editorial, 4/5/2005 |