Candidatos prometem
Disputa mais concorrida dos últimos anos reúne 3 programas para ampliar influência da instituição Três candidatos disputam neste mês a eleição mais concorrida da história recente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Apesar de diferenças pontuais de programa, o discurso de todos é o da "reforma": todos querem lançar a SBPC num novo ciclo de crescimento, fazendo com que ela tenha uma participação mais ativa na vida nacional -como durante a resistência ao regime militar, nos anos 70. Os 5.840 sócios com direito a voto estão desde o dia 12 escolhendo, pela internet, entre os físicos Ennio Candotti, da Universidade Federal do Espírito Santo, Rogério Cezar de Cerqueira Leite, da Unicamp, e o filósofo Renato Janine Ribeiro, da USP. A votação vai até o dia 12 de junho, e o vencedor será empossado em julho, durante a Reunião Anual da SBPC em Recife. Não é só a votação digital que torna a eleição atípica. Também o são o número de candidatos e o fato de um deles -Cerqueira Leite- ter se lançado sem indicação do conselho da sociedade. "Sempre houve consenso na SBPC", diz Walter Colli, do Instituto de Química da USP, presidente da comissão eleitoral. "Tenho a impressão de que isso [a disputa] decorre da agitação política do país", afirmou. O físico da Unicamp, membro do Conselho Editorial da Folha, diz que sua candidatura foi um pedido de membros da SBPC. Ela foi precipitada, segundo Cerqueira Leite, pelo fato de a prefeitura de Recife ter proposto a inscrição em massa de 1.900 professores do ensino médio na sociedade -o que aumentaria o colégio eleitoral em mais de 30%. Farpas "Isso é uma distorção do que seja a SBPC", afirmou. "O conselho propôs três candidatos [o outro era Marco Antonio Raupp, do Laboratório Nacional de Computação Científica, que retirou a candidatura], e eu encontrei outro mecanismo: consegui cem votos de membros da sociedade." Cerqueira Leite acusou "um dos candidatos", sem citar o nome, de ter apoiado e incentivado a filiação em massa dos professores de Recife. Depois, em um artigo no "Jornal da Ciência", uma publicação da SBPC, Janine Ribeiro afirmou que Candotti teria defendido a inclusão dos professores numa reunião do conselho. O físico da Universidade Federal do Espírito Santo, que já foi presidente da SBPC, afirma que é "contra a inscrição em massa de sócios financiados por terceiros". Diz também que, na reunião, o conselho concordou que, mesmo que a filiação acontecesse, os professores não teriam direito a voto na eleição deste ano. Os três candidatos dizem ter uma visão no geral positiva da gestão atual da sociedade, presidida pela bioquímica Glaci Zancan (Universidade Federal do Paraná). Segundo eles, Zancan -eleita em 1999 e reeleita em 2001- teve o mérito de sanear as finanças da entidade, mas falhou na tarefa de manter uma postura crítica da SBPC em relação ao governo federal, na era FHC.
Essa independência em relação ao governo
seria um dos pontos a serem explorados pela próxima gestão da sociedade.
"Nenhum presidente da SBPC deixou de trabalhar ativamente pela política de
ciência e tecnologia do Brasil", disse Zancan. "Só que eu não publico no
jornal tudo o que eu faço. Espero que quem quer que ganhe perceba que não
avançamos aos saltos."
Entidade ganhou
projeção política
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência foi fundada 1948. Sua face mais conhecida são as reuniões anuais, que reúnem 70 sociedades científicas e milhares de interessados, em julho. Elas se transformaram na década de 70 em palco de questionamento ao governo militar. A reunião de 1977, programada para Fortaleza, teve de ser transferida às pressas para a PUC de São Paulo, pois o governo bloqueara verbas prometidas para a organização, temendo que servisse para a reorganização da UNE (União Nacional dos Estudantes). A entidade também participou do processo que levou ao impeachment de Fernando Collor, em 1992.
Fonte: Folha de São Paulo, 17/05/2003 - São Paulo SP |
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