Qualidade
ou inércia?
“Não
basta ter nichos de excelência. O dilema não está entre qualidade e
quantidade, Recentemente foram publicados, pelo Inep, os dados do Censo da Educação Superior em 2007. No ano citado, havia 4.880.381 matriculados em todas as IES (Instituições de Ensino Superior) do país, com um aumento de 4,4% sobre o ano anterior. Mesmo assim, a taxa de escolarização superior não passa dos 15% da faixa etária entre os 18 e os 24 anos de idade. Ou seja, ficamos muito aquém da meta estabelecida pelo Plano Nacional de Educação, que era atingir 30%. Também continuamos numa posição de desvantagem em relação aos outros países da América Latina. O pior é que a evolução histórica observável aponta para um panorama próximo da estagnação. Em 2003, o crescimento foi de 11,7%. A partir daí, a queda é progressiva, até atingir os citados 4,4%. A tendência fica mais clara ainda na evolução do número de instituições de ensino superior, que cresceu apenas 0,6%, contra os 13,6% de 2003. Dadas a crise econômica atual e a estratificação da sociedade brasileira, tudo indica que, a partir de 2008, teremos um crescimento negativo ou próximo do zero. Ante esse panorama, é lógico que o número de vagas ociosas nas IES tenha aumentado de modo significativo. Em 2007, eram nada menos do que 1.341.987, com aumento de 13,6% sobre o ano anterior. Além disso, a relação candidato-vaga vem diminuindo fortemente, até atingir 1,8 em 2007, com decréscimo de 7,2% em relação ao ano anterior. Logicamente, essa diminuição se concentra sobretudo nas IES privadas, onde, em nível nacional, a relação candidato-vaga caiu para 1,2 e onde a média de evasão é de 45%. Não é, pois, estranho que um bom número de instituições privadas se encontre em sérias dificuldades. Nossa Universidade continua a se expandir, e a relação candidato-vaga melhorou, enquanto a evasão se mantém em níveis perfeitamente toleráveis. Mas não nos iludamos. O momento é de cautela. Sem mudanças sociais profundas, dificilmente se alterará essa realidade preocupante. O Governo Federal parece apostar quase todas as fichas na expansão das Universidades Federais. Insisto em que o caminho mais correto seria procurar uma soma de esforços, uma espécie de programa de parcerias público-privadas, visando a uma otimização dos recursos disponíveis. Não basta ter nichos de excelência. O dilema não está entre qualidade e quantidade, mas entre ampliação com qualidade e estagnação.
* Pe. Jesús Hortal é reitor da PUC-Rio. Fonte: O Globo, 25/4/09.
|
|