Por que produzimos e não vemos
o nosso dinheiro?

 

Nos últimos oito anos, o orçamento do país aumentou significativamente, porém o trabalhador brasileiro pouco ou nada se beneficiou do resultado de seu trabalho. Ao contrário, os indicadores sociais mostram deterioração da qualidade de vida da ampla maioria da população brasileira.  Enquanto isso, os bancos que atuam no Brasil e os credores da dívida brasileira tiveram lucros estratosféricos. Veja, por exemplo, na tabela, o lucro, em 2002, (...) de bancos que já divulgaram os seus balanços.
 

(Em R$ milhões)

Lucro

Rentabilidade sobre o patrimônio liquido (%)

Instituições

2001

2002

Variação (%)

2001

2002

B. do Brasil

1.081.952

2.027.676

87,41

12,4

22,1

Bradesco

2.170.130

2.022.588

-6,80

22,2

18,7

Unibanco

971.941

1.010.363

3,95

16,0

15,4

ABN Amro

784.291

1.208.000

54,02

20,8

25,5

Banespa

1.089.198

2.818.149

158,74

36,4

65,5

Nossa Caixa

304.951

271.857

-10,85

22,5

20,1

(...) 'Tabela reduzida - só com 6 dos 17 bancos da tabela original'
 

Tal situação tem sido uma das características marcantes da economia brasileira e a principal responsável pelos transtornos que vivemos.

Para manter o modelo, são necessários ajustes constantes para o pagamento dos compromissos financeiros com credores externos e internos, o que nos deixa numa situação de dependência comercial, tecnológica e financeira.

O endividamento externo distorce o financiamento da nossa economia e escraviza o trabalhador que precisa trabalhar e produzir cada vez mais, recebendo cada vez menos, para pagar uma dívida que não para de crescer.

A dívida externa brasileira aumentou de US$ 148 bilhões, no final de 1994, para mais de US$ 243 bilhões no final de 1998 (dados do Banco Central). No mesmo período, o Brasil pagou aproximadamente US$ 126 bilhões aos credores, para a amortização do montante da dívida e seus juros. Nos últimos dois anos, pagamos, pelo menos, outros US$ 90 bilhões aos credores internacionais e a nossa dívida bruta pulou para a casa dos US$ 320 bilhões.

O Banco Central divulgou, em janeiro-03, um relatório que mostra que a dívida bruta do governo federal alcançou R$ 1, 132 trilhões em dezembro de 2002 (71,9% do Produto Interno Bruto), após desembolsarmos R$ 5,3 bilhões, pois em novembro o total acumulado era de R$ 1,138 trilhões.

Os dados deixam claro que a dependência dos recursos externos deixa o país nas mãos do capital internacional.

Daí, termos que, num dado momento, gerar superavits comerciais para pagarmos a dívida externa e, em outro, produzirmos déficits comerciais para, mediante a compra de produtos importados, nem sempre n e c e s s á r i o s, viabilizarmos empréstimos internacionais.

Com o endividamento externo, a dívida pública é pressionada comprometendo o orçamento do país.Assim, para incentivar a entrada de recursos externos, os juros dos títulos públicos são fixados em valores acima dos juros externos, aumentando a dívida pública e dando início a uma ciranda financeira interna. Posteriormente, os governantes que tivemos até aqui, diante da possibilidade de explosão da dívida pública e insolvência, socializaram os prejuízos para garantir o pagamento da dívida externa aumentando os juros internos, desvalorizando o câmbio e estatizando a dívida externa em poder do setor privado (fiquem atentos para as ações que o atual governo tomará em relação às empresas privatizadas do setor energético). Quando não existe a possibilidade de refinanciamento da dívida, a política econômica fica atrelada aos interesses dos credores externos e de seus sócios internos.

Obviamente, em detrimento da qualidade de vida dos brasileiros e dos interesses da nação.

Então, como nas estórias em quadrinhos, surge, neste momento, o super-herói – o FMI, que controlará a política econômica e os rumos do país e evitará que os pobres coitados banqueiros internacionais, com o império norteamericano no comando, e seus sócios locais sofram qualquer prejuízo.

As armas do super-herói para garantir a voracidade do capital são conhecidas e utilizadas sem “medo de ser feliz”: calote no emprego, arrocho nos salários, transformação da educação e da saúde em mercadoria, reforma da previdência, reforma trabalhista, entrega dos recursos naturais e das empresas estatais, degradação ambiental, doação do espaço aéreo e de blocos continentais para que os norte-americanos possam brincar de lançar satélites e foguetes na cabeça dos demais povos.

A continuidade do modelo inviabilizará qualquer proposta para a construção de uma nação brasileira; ao contrário, o endividamento externo está hoje financiando o desmonte da economia do país.A situação em que se encontra o Brasil, após oito anos de FHC, e a crescente neocolonização que nos foi imposta, obrigar-nos-ão a encontrar novos rumos para o país.

Constitui tarefa fundamental e urgente, de todos nós, mostrar à população brasileira a impossibilidade de se conciliar os interesses dos grupos econômicos que se beneficiam com as dívidas externa e interna com os objetivos e os anseios da grande maioria dos brasileiros.

 

 

Fonte:  Informativo da Coordenação Nacional das Entidades de Servidores Federais CNESF – Fev/2003.


 

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