Carta aberta à comunidade universitária:
Qual o preço do REUNI ou REUNI a que preço?
Após ser apreciado pelo CEPE,
Projeto de Expansão da UFRRJ (REUNI) foi aprovado pelo CONSU
no dia 30 de novembro em apenas dez minutos.
O
filósofo italiano Nicolau Maquiavel – autor do clássico “O
Príncipe” (1513) – afirmou que, em
política, os fins justificam os meios. A célebre frase parece ter
inspirado a atual Administração da Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro para conduzir o processo que levou à aprovação do Plano de
Reestruturação e Expansão da UFRRJ (PRE) – em essência, o REUNI – no
último dia 30 de novembro.
Dois dias
antes, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da UFRRJ
reuniu-se para apreciar o tema. Conforme convocação de 26 de novembro,
a 209ª Reunião Extraordinária do CEPE teve como ponto de pauta: “1.
Plano de Reestruturação e Expansão da UFRRJ; 2. Assuntos Gerais”. O
Prof. Dari Cesarin Sobrinho, representando a ADUR-RJ, manifestou-se
contrariamente à implementação do REUNI (ou do PRE) nesta
Universidade. Mais uma vez, a ADURRJ denunciou o quanto esta medida
pode ser prejudicial ao ensino público superior, por promover o
inchaço das salas de aula, aprofundar a precarização do trabalho dos
funcionários docentes e técnico-administrativos e a degradação humana
desses trabalhadores, e por também superestimar o índice de conclusão
dos graduandos – que receberiam um ensino cada vez mais superficial. O
representante da ADUR-RJ S. Sind solicitou que o documento enviado
pela Associação, formalizando posição crítica ao REUNI, constasse em
ata. Nesta reunião do CEPE, deliberou-se pelo comprometimento deste
Conselho em acompanhar e em fiscalizar a implementação de qualquer
projeto de reestruturação e expansão da Universidade Rural.
Após ter sido
apreciado pelo CEPE, o Plano de Reestruturação e Expansão da UFRRJ foi
aprovado durante a 235ª Reunião Ordinária do Conselho Universitário –
CONSU, no último dia 30 de novembro, que tinha como intuito “apreciar
os seguintes pontos de pauta: 1. Aprovação da ata da 234ª Reunião
Ordinária; 2. Plano de Reestruturação e Expansão da UFRRJ; 3. Assuntos
Gerais” - conforme explicitado na convocação de 27 de novembro.
A reunião
começou pontualmente às 8h. A Profa. Lenir Lemos Furtado Aguiar e
outros três conselheiros chegaram poucos minutos após o início da 235ª
Reunião Ordinária do CONSU e depararam-se com a aprovação do PRE e com
o encerramento da referida reunião – como dito pelo presidente do
egrégio Conselho Universitário. A apreciação de um ponto de pauta tão
importante (e igualmente polêmico) para o futuro de nossa Universidade
Rural foi decidido em dez minutos – apesar da ata desta reunião
informar que o PRE foi “posto em discussão”, tendo sido “aprovado por
unanimidade o Plano de Reestruturação e Expansão da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro, visando a inclusão da UFRRJ no
Programa de Reestruturação e Expansão nas Universidades Federais –
REUNI, do Governo Federal”.
Ainda segundo
a ata, a reunião do CONSU, incluindo as deliberações sobre os três
pontos de pauta supracitados, foi encerrada às 8h40min – horário
contestado por alguns conselheiros na 153ª Reunião Extraordinária do
CONSU, de 06/12/07, que sustentaram que o término da 235ª Reunião do
Conselho Universitário se deu às 8h14min.
No dia 30 de
novembro, como medida alternativa, a Profa. Lenir Furtado, Presidente
da ADUR-RJ S. SIND, protocolizou um documento junto à secretaria dos
órgãos colegiados, apresentando os motivos que levam a Associação de
Docentes da UFRRJ a rejeitar o PRE ou o REUNI nesta instituição.
Vale
ressaltar que, quanto ao primeiro ponto de pauta da reunião mencionada
– aprovação da ata da 234ª Reunião do CONSU – os gestores desta
instituição consideraram que a mesma ocorreu em 26 de outubro do
corrente ano. Na ocasião, os estudantes, que ocupavam a Reitoria e
protestavam contra o REUNI na Universidade impediram a realização do
CEPE e do CONSU – inviabilizando a apreciação e a votação de um Plano
de Expansão da Universidade Rural. Para desocuparem a Reitoria,
contaram com o comprometimento da Administração Superior desta
Universidade, que, por meio da circular n° 02/GR (26.11.07), afirmou
que não enviaria a proposta para o Ministério da Educação no prazo
estipulado pelo governo, 29 de outubro, propondo AMPLIAR o DEBATE na
Universidade Federal Rural.
Pela
circular, a Administração Superior da UFRRJ afirmou estar “ciente da
necessidade de ampliar as discussões na construção do Projeto de
Reestruturação e Expansão (PRE) da UFRRJ
(...)”. A
mesma circular também afirma que a Reitoria da Rural, “coerente com
sua tradição de diálogo democrático e participativo com a comunidade
universitária, resolve:
1) suspender,
neste momento, a apresentação da proposta do projeto de reestruturação
e expansão (PRE) da UFRRJ para avaliação pelos Conselhos Superiores;
2) propor a
continuidade dos debates em torno da proposta do PRE da UFRRJ,
ampliando a agenda de discussões nas unidades acadêmicas,
administrativas e nos segmentos representativos da comunidade
universitária, objetivando a implantação deste projeto, em condições
que garantam a disponibilidade dos recursos necessários, para o ano de
2008 (...)”.
Questiona-se:
AMPLIAR DISCUSSÃO SOBRE O REUNI é fazê-la em portas fechadas? As
discussões realizadas nos Institutos da UFRRJ não passaram de longas
exposições do PRE, na tentativa de construção de um falso consenso,
sem tocar na ferida: o fato do Projeto de Reestruturação e Expansão da
UFRRJ incorporar as metas e estratégias estabelecidas pelo REUNI.
Pergunta-se
ainda: AMPLIAR DISCUSSÃO SOBRE O REUNI é reformular o documento
outrora apresentado, agora travestido de “PRE”, e fazê-lo passar pelo
CONSU desta forma aligeirada? É produzir o encarte que circulou com a
última edição do Rural Semanal, solicitando que as pessoas
participassem de debates sobre a “NOVA” (ou a mesma proposta com outra
roupagem) sem promovê-los, e na mesma semana aprová-lo? Ampliar a
discussão não implicaria, necessariamente, em uma nova reunião geral,
na qual todos os membros da comunidade universitária pudessem se
manifestar livremente?
A Reitoria
afirma, por este encarte denominado “Conheça a proposta de
Reestruturação e Expansão da UFRRJ/ PRE)”, que o PRE foi formulado com
“a participação da comunidade acadêmica”. QUANDO? Este foi um
documento construído de CIMA para BAIXO, e a própria Reitoria, quando
pressionada por um grupo de estudantes, docentes e técnicos,
apresentou um novo nome para o que incorpora a essência do decreto
governamental nº 6096/07 – o REUNI.
No entanto, o
novo documento divulgado pela Administração Superior da UFRRJ reafirma
as cláusulas pétreas do REUNI, com uma pequena mudança em relação à
taxa de conclusão – em vez de 90%, 80% – “como meta própria e
realista”. Atualmente a taxa de conclusão média nos cursos das
universidades federais é de 60%, nos países que integram a OCDE é de
70%, nos EEUU, França, Bélgica e Suécia, abaixo de 70%. Mas, a “meta
realista” da UFRRJ é de 80%.
O encarte do
último jornal institucional (Rural Semanal) reafirma que a Reitoria
pretende implementar o PRE no início de 2008. Estrategicamente, ao
FINAL do encarte, menciona-se a preciosa informação: a proposta do PRE
seria submetida ao CONSU no dia 30. De forma incoerente (ou seria uma
bravata préeleitoreira?), o mesmo encarte convidava a Universidade
Rural a conhecer a proposta que foi aprovada na sexta-feira, 30/11,
participando “dos debates (sim, no plural!) em sua unidade acadêmica
ou administrativa”.
Novamente, a
dúvida persiste: houve debates para apreciar o PRE? Sim, sabe-se que
ocorreram debates para apreciar a proposta de REUNI elaborada pela
Comissão Consultiva constituída pelo Reitor da UFRRJ, cujos membros
foram escolhidos de acordo com as preferências do Magnífico. Porém,
não houve debates que contassem com a participação da comunidade
universitária, em amplo fórum de discussão, para que se apresentasse a
modificação da proposta da Reitoria: o PRE. Parte representativa da
comunidade demonstrou sua desaprovação ao REUNI, e a Administração
apresentou o novo projeto de plano de expansão que segue os mesmos
moldes do referido decreto governamental.
É
interessante perceber que no final do mesmo encarte que convida à
comunidade aos debates, há uma frase um tanto quanto preocupante:
“membros da Comissão Consultiva ou da Administração Superior estão à
disposição para esclarecimentos sobre informações ou afirmativas QUE
NÃO CONSTEM DO TEXTO DA PROPOSTA”. Seguindo a lógica, os próprios
formuladores do PRE acreditam que o documento não está claro e que
demanda maiores explicações à comunidade. É assim que se faz gestão
participativa? Por que não chamar um plebiscito? Ainda dialogando com
a lógica: a minuta do Projeto de Reestruturação e Expansão da UFRRJ
foi apresentada de forma incompleta, a ponto de demandar
esclarecimentos que não constem do texto da proposta? Como o governo
avaliará se as metas estão realmente sendo alcançadas se há
“afirmativas que não constem do texto da proposta?” É assim que se faz
um documento que pode definir o futuro de nossa Universidade?
De acordo com
a Reitoria, com os recursos financeiros que o governo enviará, será
possível fazer inúmeras melhorias na Universidade. Interessante
perceber que, até o momento, a UFRRJ carece de muitos investimentos e
precisa que medidas emergenciais sejam tomadas. O orçamento existente
não dá conta daquilo que a instituição carece. Com a expansão,
entrarão mais recursos, porém, será necessário garantir a manutenção
de novos cursos e novos estudantes na casa. A Administração Superior
tem justificado que o PRE é importante porque a
UFRRJ não pode ficar sem o recurso que o governo prometeu enviar.
Porém, o que se questiona é que este dinheiro deveria ser enviado para
sanar as questões que hoje são emergenciais para a instituição e não
para que se criasse uma expansão em meio a um processo atropelado,
manipulado e autoritário.
Mas, se
estivermos enganados e a Administração da UFRRJ não tiver seguido os
conselhos de Maquiavel para levar adiante seus objetivos, realmente
acreditando que o REUNI pode agregar algo de bom para as instituições
federais de ensino superior, pode-se concluir que seus gestores vivem
no mesmo país de Alice – aquele das “maravilhas”, fechando seus olhos
para a realidade. Entristece-nos que muitos deles tenham renegado seu
passado de luta e a grande capacidade de se indignar quando compunham
a linha de frente da ADUR-RJ, nos enfrentamentos aos chamados governos
opressores e raptores da autonomia de nossa universidade. Agora, como
amoucos, conduziram o processo faz-de-conta que levou à aprovação do
REUNI (fruto de um DECRETO presidencial) de forma tão rápida e
“eficiente”, sem maiores preocupações com a discussão democrática, que
sempre foi tão cara ao movimento docente.
A ADUR-RJ não
é subserviente e não poderia se calar diante destes fatos. Ainda se
mantém fiel aos princípios que têm sido defendidos de forma corajosa
pelo ANDES-SN, em um momento em que quase todos parecem descrentes:
educação pública e de qualidade. Não somos contrários à expansão e à
reestruturação das Universidades Públicas, porém, denunciamos todas as
formas que agridem a sua autonomia e ameaçam a sua qualidade.
A Associação
de Docentes da Universidade Federal Rural é coerente com sua história.
Junto ao ANDES-SN, permanecerá defendendo a Universidade Pública,
Autônoma, Gratuita, de Qualidade, Laica e Socialmente Referenciada.
Rejeitará toda e qualquer medida que esteja atrelada ao projeto
neoliberal do governo, que vê a educação como mercadoria e ameaça a
autonomia universitária e o ensino público superior, com assinaturas
de contrato de gestão que foram outrora tão criticados, pelos mesmos
que hoje os defendem e assinam, em nome da nossa Universidade.
O REUNI será os escombros de um edifício chamado Universidade Pública
Brasileira, que embora em ruínas, ainda permanecia de pé.
DIRETORIA DA
ADUR-RJ S. Sindical – filiada ao Sindicato Nacional dos Docentes das
Instituições de Ensino Superior – ANDES-SN.
6 de dezembro de 2007.
www.adur-rj.org.br
www.andes.org.br
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