''Precisamos investir em qualidade''
Um dos ministros do
governo Lula mantidos no cargo, Fernando Haddad fala de seus planos para a
Educação A educação brasileira vem avançando, mas num ritmo lento. A questão, ainda, é a qualidade. O governo criou avaliação, um índice e metas que estão sendo alcançadas antes mesmo das datas previstas. Não se pode ser mais exigente com essas metas? As metas já são exigentes. Se você comparar a renda per capita do Brasil com a dos países da Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE), a discrepância é muito grande. Combinando isso com a má distribuição de renda, que ainda é muito grande no Brasil, é fácil concluir que não é tarefa simples chegar à qualidade de países que têm um desenvolvimento social muito superior ao nosso. O MEC propõe manter essa linha e, eventualmente, se mais um ciclo de avaliação, em 2011, demonstrar que é possível, antecipar em dois anos a meta final. Mas temos de esperar mais um ciclo para fazer uma reavaliação com os pés no chão para depois não se frustrar. Estamos com dois anos de vantagem. Outra questão, quando se fala em qualidade da educação, é o professor. E o novo governo deverá enfrentar o reajuste do piso salarial previsto no Plano Nacional de Educação (PNE). Salário é o que falta para o professor? Se queremos um corpo docente preparado para os desafios educacionais temos de fazer com que a carreira seja competitiva. O que estamos sugerindo é que o professor, em média, não ganhe menos do que a média dos demais profissionais não docentes com nível superior. Porque só aí o jovem vocacionado para o magistério não vai abdicar dessa vocação por razões sócio-econômicas. A carreira docente precisa ser atraente também pelas condições de trabalho que ela oferece. Mas o MEC investiu em formação, o piso nacional foi aprovado e o reajuste está no PNE. O que mais precisa ser feito? Agora precisamos corrigir a carreira. Aí entra a questão da prova nacional de concurso. Duas tarefas nós cumprimos: a formação gratuita de qualidade e o piso nacional. Precisamos concluir esse processo, o que significa melhorar a condição de carreira e ao mesmo tempo ter sistema de seleção de docentes que faça sentido. Todos os estudos que conheço mostram que hoje a seleção não é bem feita. Outra área em que o País ainda está devendo é na educação infantil. O que se pode esperar nesses próximos anos? Em oito anos, aumentamos em 80% a matrícula na creche. Houve a inclusão no Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), a extensão de todos os programas educacionais. A creche não recebia nem merenda escolar. Mas ainda não houve uma mudança cultural. Ainda se vê a creche como um estabelecimento meramente de assistência. Precisamos, além de expandir, qualificar esse atendimento como educacional. Na outra ponta da educação básica, o ensino médio é um eterno problema. Eu entendo que temos de inaugurar o governo Dilma Rousseff com uma resposta para a juventude, especialmente a que atualmente não está na escola. Nessa faixa de 15 a 17 anos temos a meta de universalizar o ensino até 2016, mas temo que aí a questão não seja de oferta, mas de demanda. O aluno tem de querer estudar e, para ele desejar estar na escola, sobretudo por uma situação social que pode ser muito difícil, nós temos de tornar esse ensino médio mais interessante. E isso se consegue com a diversificação. Precisamos oferecer possibilidades que não o ensino médio tradicional. Mas, para falar a verdade, eu só notei uma maior preocupação dos Estados com ensino médio apenas de dois anos para cá. O trabalho de indução é muito difícil.
Fonte: O Estado de S. Paulo, Lisandra Paraguassu, 5/1/11.
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