Pesquisa científica tem queda no Brasil


Estudo coordenado pela pró-reitora de gradução da Unifesp
mostra que declínio foi de 12%


Evanildo da Silveira
(O Estado de São Paulo)

Pela primeira vez, depois de três décadas de crescimento contínuo, caiu a participação do Brasil na produção científica mundial, passando de 1,08%, em 2000 para 0,95% no ano passado, o que representa uma queda de cerca de 12%. Os dados são de um estudo coordenado pela pesquisadora Helena Nader, pró-reitora de graduação da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp). O trabalho foi apresentado no fim de agosto na reunião anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), em Salvador.

Para chegar a esses resultados, Helena se baseou em relatórios oficiais do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e do banco internacional de dados Web of Science, do Institute Scientific Information, ao qual estão indexadas as principais publicações científicas do mundo. Contar os artigos científicos (papers) publicados por seus pesquisadores é a forma mais bem aceita de se medir a produção científica de um país.

Assim, Helena verificou o número de artigos brasileiros registrados pelo ISI de 1973 a 2001. Naquele ano, o Brasil produziu 792 papers (0,17% da produção mundial). Desde então, os dados mostram discreto crescimento ano a ano, até que houve a queda do ano passado. "Eles mostram que a produção brasileira continua crescendo, que o Brasil e o mundo estão investindo em ciência, mas o nosso país está investindo menos que os demais", diz Helena.

O MCT tem dados diferentes. Apesar de ainda não ter recebido o último relatório do ISI, a assessoria do ministério diz que foi feita uma consulta a esse banco de dados e a resposta teria revelado que a participação brasileira, na verdade, cresceu de 1,33% em 2000 para 1,44% em 2001. A explicação para a diferença, segundo Helena, pode estar em parâmetros diferentes de consulta. "O certo é que coletamos todos os dados da produção científica brasileira disponíveis no ISI", garante.

Para a pesquisadora, a causa dessa queda é a falta de dinheiro.

Recentemente, dois abaixo-assinados, um pedindo a regularização das verbas atrasadas do Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex) e outro mais dinheiro para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), foram encaminhados ao governo.


Problemas - A falta de dinheiro pode causar inúmeros problemas a grupos de pesquisa. Que o diga Célio Lopes Silva, da Faculdade de Medicina, do câmpus de Ribeirão Preto da USP, que lidera um Instituto do Milênio - programa de desenvolvimento tecnológico criado pelo MCT. O grupo de Silva, de 160 pesquisadores, tenta desenvolver novas drogas e vacinas para controle da tuberculose.

Dos R$ 910 mil que deveriam receber entre maio e junho, apenas R$ 81 mil chegaram aos pesquisadores. As conseqüências do corte podem ser dramáticas.

Um exemplo disso é o risco que correm os animais usados nas pesquisas.

    "Temos 30 bois no pasto, que seriam usados nas experiências", conta Silva.

   "Se o dinheiro não sai, temos de nos desfazer deles. Isso vai comprometer todo o nosso trabalho." E atrasar ou diminuir o número de artigos resultantes de suas pesquisas.

Diante da escassez de dinheiro, os pesquisadores fazem o que podem. Nesse aspecto, o trabalho de Helena também revela que o custo de um paper brasileiro caiu de cerca de R$ 88 mil em 1995 para R$ 50 mil em 2000. "Com menos dinheiro, estamos fazendo mais pesquisas", diz. "Mas não é suficiente.

O governo e a iniciativa privada também devem fazer a sua parte, investindo mais em ciência."

 

 

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