ESPÉCIES MARINHAS QUE SÃO ALVO DE PESCA ACABAM EM 2048, DIZ ESTUDO
Pesquisadores destacam que é possível reverter o quadro com iniciativas de
No entanto, o artigo que cita esse prazo assustador, na edição desta semana da revista especializada americana "Science", está longe de ser uma mera profecia desanimadora. Os dados recolhidos pela equipe demonstram que ainda está em tempo de virar o jogo. "A esta altura do campeonato, a maioria das espécies afetadas [pela exploração desenfreada] ainda pode se recuperar", contou ao G1 a bióloga Heike K. Lotze, da Universidade Dalhousie, em Halifax (Canadá). Além desse lado esperançoso, o estudo ainda é um cala-boca monumental para os que criticam a preocupação com a diminuição da biodiversidade no mundo. A análise revela que os ambientes marinhos mais diversificados, ou seja, com o maior número de espécies, são justamente os que agüentam melhor o tranco da exploração comercial. Assim, manter um ambiente altamente biodiverso faz todo o sentido do ponto de vista econômico. "A biodiversidade não é o embrulho bonitinho dos ecossistemas – ela é um enorme motor de produtividade", explicou ao G1 o biólogo Stephen R. Palumbi, da Universidade Stanford, nos Estados Unidos. "Assim como qualquer fazendeiro precisa saber como e por que uma planta cresce depressa, nós precisamos saber como tirar o máximo dos ecossistemas sem destruí-los. Nosso estudo mostra que deveríamos ter como regra máxima dar apoio à diversidade natural de um ecossistema – nem que seja pela razão puramente egoísta de querer que ele produza mais para nós." O trabalho na "Science" é uma grande meta-análise – termo usado pelos cientistas para designar uma análise que reúne os dados de muitos estudos anteriores e tenta encontrar um padrão comum neles. "É a primeira vez que alguém examina todos os dados existentes sobre espécies e ecossistemas oceânicos, em escala local, regional e global", diz Heike Lotze. Más notícias primeiro Em primeiro lugar, o que salta aos olhos são as más notícias. Quase 40% das espécies marinhas capturadas pelo homem entraram em colapso, ou seja, perderam cerca de 90% da sua população original. Apesar do aumento em número e tecnologia das frotas pesqueiras do mundo, a captura caiu 13% desde que alcançou seu máximo histórico em 1994. Por outro lado, os pesquisadores encontraram uma relação direta entre a diversidade de espécies dos ecossistemas marinhos e o quanto eles resistem a essa sangria desatada. Regiões costeiras com uma média de 200 espécies nativas estão com mais da metade das espécies pescadas em colapso, enquanto o número não chega a um quinto em áreas com 1.200 espécies nativas. As regiões costeiras com muita biodiversidade também mostraram ser mais produtivas em termos de captura e capazes de se recuperar com muito mais rapidez da pesca excessiva, se tivessem um pouco de sossego. Substituições A análise de experimentos controlados nos quais a diversidade de espécies era manipulada pelos pesquisadores ajuda a explicar o porquê disso. Em média, ambientes com maior número de espécies são 80% mais produtivos – ou seja, são mais eficientes em produzir massa viva, ou comida, do ponto de vista humano. Também usam recursos com até 36% mais eficiência. Além disso, num ambiente marinho biodiverso, "os pescadores podem mudar de alvo caso seu peixe preferido decaia. Isso permite que o alvo anterior se recupere antes de entrar em colapso. Além disso, a população-alvo vai se dar melhor num ecossistema diversificado, com mais comida e também talvez com mais espécies capazes de manter predadores saciados". Como num jogo de futebol, a plaquinha sobe e espécies reservas entram em campo antes que as "titulares" morram. Diante dos dados, o que realmente falta são ações. Os pesquisadores lembram que o colapso da biodiversidade marinha não significará apenas o fim de uma das fontes mais nutritivas de alimentos para a humanidade – os ambientes costeiros também ajudam, entre outras coisas, a melhorar a qualidade da água e a impedir a inundação de cidades protegidas por mangues e recifes. Vai ser muito melhor para o bolso e para o estômago humanos achar uma maneira mais racional de explorar essa riqueza.
Fonte: G1, Reinaldo José Lopes, 2/11/2006. |