Plano de Desenvolvimento da Educação já saiu do radar da mídia
O chefe da Assessoria de Comunicação Social do Ministério da Educação, Leandro Marshall, dispõe de um indicador razoavelmente abrangente e acurado para medir a repercussão na mídia das ações do MEC: o clipping, mantido por todas as instituições públicas brasileiras, do Planalto a municípios de médio e, quem sabe, pequeno porte. E esse clipping, diz Marshall em entrevista ao Observatório da Imprensa, confirma a impressão de que a imprensa não faz o acompanhamento requerido para melhorar a educação. Educação foi considerada estratégica até por prisioneiros, como revelou há vinte anos um Censo Penitenciário do Estado do Rio que fez a 9 mil sentenciados a pergunta: “Qual é a questão mais importante do país?” e obteve a resposta majoritária: “A educação”. O Plano de Desenvolvimento da Educação, PDE, teve duplo lançamento. Em meados de março e no dia 24 de abril, com toda pompa e circunstância, pelo ministro Fernando Haddad. Ganhou aplausos generalizados. Foi avaliado até como contraponto ao Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC do presidente Lula e da ministra Dilma Rousseff. O que o PAC teria de vago e mal alinhavado, o PDE teria de consistente. O assunto andou pelas primeiras páginas durante alguns dias. Depois, foi sumindo. Tome-se o caso da Folha de S. Paulo, onde trabalha um dos repórteres mais capacitados para cobrir o assunto Educação, Antônio Gois, da sucursal do Rio de Janeiro. Em 16 de março, o PDE foi para a capa sob o título “Governo quer prova nacional para crianças”. Um editorial da Folha saudou o plano. No dia 25, o segundo lançamento, feito pelo ministro Haddad, foi a manchete do jornal. No dia 26, permaneceu na capa: “Para governo, só 0,8% das cidades têm ensino ideal”, era o título da chamada, ao lado da foto principal da edição. No dia 27, saiu da primeira página. O PED não voltou mais. Outros assuntos educacionais apareceram desde então na primeira página. Um dos mais constantes foi a invasão da reitoria da USP, que, na melhor das hipóteses, é um epifenômeno. Até aí, nada de mais. Como pode a educação nacional competir com visita do papa, discussão da maioridade penal, prisão do dono da Gautama, ministro demitido, namorada do presidente do Senado, queda do número 2 da Polícia Federal, governador José Serra brincando de atirador de elite, caça-níqueis, bingos, tropeços do PAC, rolos do irmão do presidente Lula, prefeito Gilberto Kassab brincando com cachimbo de crack, foto de Parada Gay, comandante da PM atacado a bala no Rio e por aí afora? Mas acontece que a Folha não toca no assunto desde o dia 30 de abril, quando publicou entrevista de Haddad. O ministro iniciou um programa de visitas aos estados para reuniões com os governadores e todos os prefeitos. A primeira foi na Bahia, em 9 de maio. Noticiário zero. Melhorou no Ceará e no Piauí, estados menores, onde os eventos tiveram maior peso específico. Mas a cobertura, essa, local, única que houve, sempre sendo feita de maneira apressada, segundo o assessor Leandro Marshall. Abaixo, a entrevista de Marshall ao Observatório da Imprensa. O Plano de Desenvolvimento da Educação foi lançado dois meses atrás com destaque e mereceu aplausos generalizados de especialistas, políticos e jornalistas. Depois disso, a cobertura ficou rarefeita. Os dados do Ministério da Educação confirmam essa visão? Leandro Marshall – A impressão que nós temos é que o esforço que tem sido feito para que estados, municípios e a sociedade em geral, principalmente as famílias, se engajem no processo de abraçar e assumir o Plano de Desenvolvimento da Educação, o famoso PDE, como uma causa da sociedade e não só do Estado e do governo, tem pouca ou baixa adesão da mídia. Nós sentimos que, muitas vezes, os jornalistas querem um lide mastigado, muito visível, sensacional, espetacular, e não têm a devida paciência, não dedicam o devido esforço intelectual, nem o tempo necessário para processar um lide e mostrar que a Educação deve estar na agenda da sociedade. Existe uma inevitável disputa com outros assuntos. L.M. – A Educação perde espaço muitas vezes para factóides ou acontecimentos banais, coisas passageiras. A Educação não transforma a sociedade da noite para o dia, transforma a sociedade em gerações. E, nesse processo, a mídia trabalha muito na urgência, na falta de cuidado, na falta de atenção, na falta de zelo com os interesses maiores da nação. Qual tem sido a atenção dada às viagens do ministro Haddad aos estados? L.M. – O ministro já passou por Bahia, Piauí e Ceará. A cobertura tem sido crescente. Nós concorremos, digamos, como pauta na imprensa, com essas operações da Polícia Federal nos últimos dias – que roubaram o noticiário e tomaram as capas. E, em decorrência disso, a gente tem sentido uma atenção regionalizada, eu diria que maior no Piauí e maior no Ceará. Mas no nosso primeiro momento, na Bahia, foi muito fraca, porque exatamente naquele dia tinha uma notícia mais forte. E o assunto foi obliterado. Eu acho que era uma ação importante, em um estado relevante da nação, que não teve toda a atenção na mídia. É uma pena que jornalistas hoje ainda estejam preocupados com um lide fácil, mastigado, que muitas vezes dá audiência, vende jornais, mas que não vai transformar a sociedade. Nosso esforço no Ministério da Educação tem sido trabalhar para com jornalistas e formadores de opinião em cada estado, antes de chegar, para explicar e tentar convencer os jornalistas de que a pauta da Educação e todas as vinte e sete diretrizes do PDE são fundamentais para o país. Muitas vezes a gente tem sucesso, mas muitas vezes nós perdemos espaço nos jornais – aí, eu diria, a sociedade perde espaço nos jornais para notícias banais. Nesta quarta-feira o ministro estará no Maranhão? L.M. – Exatamente. A reunião é às três da tarde. Nós estamos conversando no início da noite de terça-feira e não se vê nenhuma notícia sobre a visita nos grandes meios de comunicação nacionais. L.M. - Na internet, no acompanhamento que a gente faz, não temos uma visualização dessa atenção da imprensa sobre esse fato, a reunião com a governadora e os 217 prefeitos do estado. Esperamos que nesta quarta-feira, pelo menos na imprensa regional do Maranhão e, talvez, com repercussão que se dilate além das fronteiras do Maranhão para o país, se consiga alcançar uma dimensão maior, levando a discussão da educação para a pauta dos grandes jornais, da imprensa, internet, rádio e televisão de todo o país.
Fonte: Observatório da Imprensa, Mauro Malin, Transcrição de Tatiane Klein, 13/6/2007. |
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