O Papa Ratzinger
Bento XVI irrita outras religiões ao agir como o cardeal conservador que
sempre foi
A última polêmica foi um documento divulgado pelo Vaticano na terça-feira 10, chamado de Respostas a questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja, que causou fortes abalos no relacionamento da Igreja Católica com outras religiões cristãs. O texto reafirmou o dogma de que a Igreja Católica é a única e verdadeira igreja de Jesus Cristo, por possuir “todos os elementos da igreja instituída por Jesus”. Diz ainda que as igrejas protestantes, tratadas no artigo apenas como “comunidades cristãs” não podem ser chamadas de igrejas por não contemplarem o sacerdócio nem respeitarem integralmente a eucaristia. Já a Igreja Ortodoxa, que manteve a sucessão ininterrupta de bispos desde o tempo dos apóstolos, pode ser considerada uma igreja e um meio de salvação, apesar de suas “carências” e “distância” da Igreja Católica. Elaborado pela Congregação para a Doutrina da Fé e avalizado por Bento XVI, o documento nada mais é do que a retomada de um outro texto católico, intitulado Dominus Iesus, publicado em 2000 e concebido pelo então cardeal Ratzinger. No controverso artigo, ele já afirmava que os cristãos pertencentes a outras religiões que não a do Vaticano estavam em desvantagem em relação aos católicos na busca pela salvação. Para o encarregado das relações ecumênicas da Igreja Ortodoxa Antioquina, o padre Gregório Teodoro, Bento XVI apenas manteve sua linha de pensamento. “Essa sempre foi a postura dele, como cardeal, e dos católicos, historicamente. Só lamentamos que, agora que ocupa o cargo mais importante da Igreja Católica, ele se volte para o assunto com tanta ênfase”, afirma. “Este papa nunca foi ecumênico. O que ele fez agora foi abandonar de vez a diplomacia”, diz o reverendo Manuel de Souza Miranda, moderador do Conselho Coordenador da Igreja Presbiteriana Unida, que esteve entre as lideranças religiosas recebidas por Bento XVI durante sua visita a São Paulo há dois meses. O reverendo diz que, para sua decepção, o encontro durou menos de 15 minutos. “Em nenhum momento ele falou sobre suas aspirações para o movimento ecumênico.” Representantes da Igreja Metodista também reagiram com indignação a Respostas a questões..., considerado “muito arrogante”. “Foi um retrocesso na caminhada que a própria Igreja Católica percorreu, de forma especial, nos últimos 45 anos”, afirma bispo Stanley da Silva Moraes, numa referência ao Concílio Vaticano II. Iniciado em 1962 e concluído em 1965, o concílio resultou em uma maior abertura da Igreja Católica ao diálogo com outras religiões. Em defesa do papa, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) divulgou nota dizendo que o documento não trazia nenhum novo elemento e que Bento XVI apenas mostrara firmeza em suas “convicções de defender o cristianismo contra o relativismo contemporâneo”. O subsecretário da Congregação para a Doutrina da Fé, padre Agostinho di Noia, declarou que o documento visa esclarecer a identidade da Igreja Católica, mas não altera seu compromisso com o diálogo ecumênico. Três dias antes da divulgação do polêmico documento, Bento XVI já causara desconforto na relação do Vaticano com lideranças judaicas ao autorizar um maior uso da antiga forma de celebrar missas em latim. O temor é de que o retorno da prática traga de volta um antigo texto, citado nas celebrações da Sexta-Feira Santa, que pede a conversão dos judeus ao catolicismo. Enquanto nos Estados Unidos, a Liga Antidifamação chamou a mudança de “um duro golpe às relações entre católicos e judeus”, o rabino Henry Sobel, da Congregação Israelita Paulistana, adotou um tom mais moderado. “Isso não afeta em nada o relacionamento entre judeus e católicos. Bento XVI é muito conservador em relação a assuntos como a família, os rituais sagrados e os conceitos teológicos clássicos, mas é um homem de visão social bem aberta”, afirma. A disposição mostrada por Bento XVI para criar polêmicas e, principalmente, defender a superioridade da Igreja Católica sobre as demais religiões dá sinais de que novos ruídos na diplomacia ecumênica ocorrerão com freqüência em seu pontificado. “Quando dom Claudio Humes deixou o conclave que elegeu Bento XVI, disse que começaria ali um papado de muitas surpresas”, afirma Antônio Flávio Pierucci, do departamento de sociologia da USP. “E vem muito mais por aí. Ratzinger é muito mais conservador do que as pessoas podiam imaginar.”
Fonte: Rev. IstoÉ, Jonas Furtado e Claudia Jordão, 18/7/07.
Igreja pagará US$ 600 milhões a vítimas de abusos nos EUA
É o
maior acordo do gênero na história dos Estados Unidos.
Ray Boucher, o advogado principal de centenas de vítimas, afirmou na noite de sábado que os advogados que negociam um acordo "superaram um grande obstáculo". Boucher disse antes que os relatórios de um acordo de US$ 660 milhões para 500 vítimas são "precipitados e inexatos", mas uma fonte próxima às vítimas disse neste domingo que os valores estão "nesta faixa". O acordo, que encerrará os casos contra a Igreja, alguns dos quais remontam à década de 40, deve ser ratificado segunda-feira num tribunal, disse Boucher. Os casos de abuso sexual em todo país custaram até agora cerca de US$ 2,1 bilhões à Igreja Católica. Vários sacerdotes foram condenados e pelo menos quatro dioceses faliram após pagarem as indenizações. Dos mais de 5 mil sacerdotes que serviram na arquidiocese de Los Angeles entre 1930 e 2003, 113 foram acusados de abuso, segundo o Relatório Oficial do Povo de Deus da arquidiocese de Los Angeles, publicado em fevereiro de 2004. Do total de sacerdotes acusados, 43 já morreram, 54 já não exercem o ofício e 16 permanecem no Ministério. Do último grupo, em 12 casos não foram encontradas provas suficientes para declarar abuso e apenas quatro foram processados. Os cerca de 500 litigantes receberão em média, entre US$ 1,2 milhão e US$ 1,3 milhão cada um, como estipula o acordo, que também permite a divulgação de documentos privados da arquidiocese relacionados ao caso. Alguns detalhes do acordo serão decididos neste fim de semana. Em outubro de 2005, a arquidiocese revisou as recomendações para adultos que se relacionam com menores em atividades da arquidiocese. O documento estabelece 17 pontos que determinam o comportamento que qualquer adulto que trabalhe ou seja voluntário na arquidiocese deverá seguir ao interagir com menores. Desde os primeiros processos por esse tipo de crimes, em Boston, em 2002, foram apresentados milhares de novos casos de abuso sexual de crianças e jovens contra várias dioceses em todo o país.
Fonte: G1, (AFP e EFE), 15/7/2007. |
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