Ciências
Estudantes brasileiros dão vexame em novo ranking da OCDE.
Um novo ranking internacional sobre o ensino de ciências mostra um cenário nada animador para o Brasil. Mais de 400 000 estudantes, matriculados em escolas públicas e particulares de 57 países, responderam a uma prova de conhecimentos científicos básicos – e os brasileiros aparecem em destaque negativo no grupo dos piores. Mais precisamente na 52ª colocação (veja quadro abaixo). Esse fato não chega a surpreender. As avaliações para aferir o nível do ensino no Brasil reafirmam a péssima qualidade geral. Na comparação com os outros países as deficiências da educação brasileira parecem ainda mais constrangedoras. A mais abrangente dessas avaliações internacionais é justamente feita pela -OCDE (organização que reúne países da Europa e os Estados Unidos), responsável pelo atual ranking de ciências. Há sete anos a -OCDE testa os estudantes em leitura, matemática e ciências. O Brasil ocupa invariavelmente as últimas colocações. No ranking anterior de ciências, de 2003, o país havia ficado em penúltimo lugar. Nada mudou de lá para cá. No fim do ensino fundamental, os alunos continuam a ignorar a função dos órgãos do corpo humano, encaram com espanto o fato de a Terra girar em torno do Sol, desconhecem o que seja a camada de ozônio e são incapazes de definir a expressão "água potável". O resultado decepcionante dos estudantes brasileiros em ciências não é exatamente uma surpresa. Um conjunto objetivo de indicadores ajuda a explicar a situação. O mais espantoso deles veio à tona em um levantamento recente do Ministério da Educação (MEC) e diz respeito aos professores. Além de pouco preparados para o exercício da profissão, como todos os outros, 70% dos professores de ciências de escolas públicas ainda carecem de uma especialização na área. Isso mesmo: eles ensinam a matéria sem sequer ter estudado para isso. Outro problema grave é a escassez de laboratórios de ciências nas escolas. Apenas 20% delas dispõem de um. Esse é um limitador para os alunos estabelecerem a necessária relação entre a teoria e a sua aplicação no mundo real.
Como resultado, os
jovens ingressam nas faculdades de ciências com deficiências típicas dos
primeiros anos do ensino fundamental – e costumam sair for-mados sem ter
progredido o suficiente na matéria. A realidade, não há dúvida, compromete a
produção científica do país. O Brasil responde por apenas 0,2% dos pedidos
internacionais de patentes e está em 43º lugar em um ranking mundial de
desenvolvimento tecnológico. Isso numa lista de 72 países. Resume Carlos
Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, o órgão de apoio à
pesquisa em São Paulo: "Milhões de pessoas com uma base científica tão
sofrível certamente representam um obstáculo para o avanço tecnológico no
Brasil". O ranking da -OCDE chamou atenção para o desastre em 2003 e nada
foi feito para mudar o quadro. O novo alerta da semana passada vai também
passar despercebido?
Fonte: Rev. Veja, Marcos Todeschini, ed. 2037, 5/12/2007.
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